Oportunidade de Caça Minas da Saab Kockums para a Marinha do Brasil

NCMM HMS Landsort e HMS Arholma na reserva em Karlskrona-Suécia.

Por Carolina Ambinder

Entre 2011 e 2015, o Comando do 2º Distrito Naval (Com2ºDN) da Marinha do Brasil, ao qual está subordinado o Comando da Força de Minagem e Varredura (ComForMinVar), promoveu, bianualmente, o Simpósio de Guerra de Minas, todos na Base Naval de Aratu – BA.

Desde 2017, porém, esse evento evoluiu para o Congresso Internacional de Contramedidas de Minagem (CICMM), também realizado a cada dois anos, sendo a primeira edição na Escola de Guerra Naval (EGN), no Rio de Janeiro-RJ, a segunda na cidade de Salvador-BA, a terceira edição foi no formato remoto (webinar) devido a pandemia do COVID-19, e a quarta está prevista presencialmente para o ano que vem.

No entanto, seja como Saab Group ou, desde o Simpósio de 2015, Saab Kockums (a Kockums foi repatriada pela Saab em 2014), a empresa sueca de Defesa e Segurança sempre esteve presente nesse tipo de iniciativa da Marinha do Brasil, o que demonstra o potencial de cooperação bilateral entre as instituições.

O destaque aqui dado a Saab Kockums se justifica pelas décadas de experiência da empresa no desenvolvimento de Navios Caça-Minas tanto para a Marinha Sueca (7 navios Classe Landsort, tendo 5 sido revitalizados, constituindo a nova Classe Koster), quanto para exportação para outras Marinhas, como a de Cingapura (a Suécia já venceu, inclusive, exercícios de contramedidas de minagem no Báltico, com a participação das Marinhas da Alemanha, Dinamarca e Polônia).

Além disso, já houve transferência de tecnologia do material compósito, utilizado nos Classe Landsort, para o Japão, pois esse é um material de menor degradação e menor peso para o navio, minimizando a reparação e manutenção.

A Saab Kockums é, assim, uma empresa líder mundial no fornecimento de embarcações e sistemas para contramedidas de minagem, tripuladas e não tripuladas, com seus navios e submarinos produzidos no seu estaleiro em Karlskrona, cidade ao sul da Suécia, fundada como base naval ainda em 1679.

Como Pesquisadora do setor de defesa, vinculada a Universidade Sueca de Defesa (Försvarshögskolan-FHS), visitei em fevereiro do presente ano, a Saab Kockums, e fiz um tour por partes do estaleiro, analisando oportunidades de negócios. Essa visita foi uma representação prática do modelo hélice-tripla (academia, governo e indústria), defendido pela Saab.

Navio-Varredor Aratu

Para a Marinha do Brasil (MB), o potencial de cooperação com a Saab Kockums está pautado em sua demanda de meios, a conjuntura de médio e longo prazo e possíveis repercussões da parceria. Primeiramente, os Navios-Varredores da MB da Classe Aratu (Aratu M-15, Atalaia M-17 e Araçatuba M-18), operantes desde a década de 1970, estão obsoletos, além de apenas “varrerem” minas ao invés de eliminá-las, como o próprio nome indica.

Já os caça-mina suecos, buscam, detectam, classificam, identificam (importante a aquisição conjunta do ROV Double-Eagle MK II nessa etapa) e eliminam minas. Nesse sentido, a Saab Kockums vem ofertando a MB os 2 navios da classe Landsort, oferta essa que inclui sua modernização, elevando-os a Classe Koster.

A proposta inclui o treinamento da MB no centro de simuladores da Marinha Sueca, em Karlskrona, possibilitando o aprendizado não apenas da parte técnica, mas também da doutrina da Suécia em contramedidas de minagem, além do modelo de financiamento estabelecido na compra dos 40 caças Gripen NG.

Em segundo lugar, pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), um dos atuais Programas Estratégicos da MB, está prevista a entrega do submarino brasileiro de propulsão nuclear no início da próxima década, o que requer medidas eficientes para a um trânsito seguro (a partir da Base Naval de Itaguaí, na Baía de Sepetiba), como é feito em submarinos desse tipo (e nucleares) em todo o mundo, considerando a facilidade de obtenção e baixo custo de instalação de minas e a tendência de atos terroristas no mar no século XXI, segundo especialistas dos Estudos Marítimos. Continua sendo necessária, ainda, a proteção de outros navios de guerra e mercantes, lembrando o fato de que um caça-minas possui, paralelamente, a competência de um Navio Patrulha.

Por último, a compra de Navios de Contramedidas de Minagem (NCMM) da Saab Kockums pode ser o início de uma cooperação sueco-brasileira no setor naval, por exemplo, futuras revitalizações dos meios navais, sendo a Saab já parceira do Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro.

ROV da Saab, Double Eagle II

Assim, recentemente, foi instaurado um grupo de trabalho para a análise da viabilidade da aquisição dos NCMM, o que permitiria a Marinha do Brasil manter o equilíbrio do seu poderio naval e a continuidade de suas capacidades.

Nota: Essa matéria foi escrita com informações concedidas pela Marinha do Brasil, Saab do Brasil e Saab Kockums, a qual a autora agradece a oportunidade da visita.

A autora é Doutoranda em Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança – Universidade Federal Fluminense (UFF), Pesquisadora da Rede Sementes Futuro de Defesa (RSF) – Escola de Guerra Naval (EGN) e Pesquisadora do InterAgency Institute (IA).

 

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