Por Rafael Esteves
O lançamento da nova Doutrina Marítima Russa em 2022 possibilitou melhor entendimento da perspectiva estratégica do país frente à sua costa banhada pelo Oceano Pacífico, principalmente a partir dos anos 2020. Com esse documento, é possível entender as recentes movimentações de Moscou para aumentar a presença no Leste e melhorar as capacidades da Esquadra do Pacífico, a exemplo do exercício naval realizado em abril de 2023 envolvendo: 167 navios, 12 submarinos, 89 aviões e 25 mil militares.
Assim, é importante questionar: quais as possíveis razões geopolíticas para um maior interesse do Kremlin nessa
região?
Apesar da extensão continental, a história do país demonstra um certo “descaso” dos governos com a costa Leste, uma vez que a prioridade era, naturalmente, o acesso aos mares europeus. Ainda assim, durante o período soviético, a Rússia tentou manter presença na região, frente às disputas territoriais com o Japão em relação às ilhas Sakhalin e Kurilas. A situação se tornou crítica após o colapso da União Soviética em 1991, uma vez que a Marinha russa não conseguia substituir os modelos mais antigos de suas embarcações, diminuindo consideravelmente as capacidades navais do país na região.
Isso começou a mudar a partir das décadas de 2010 e 2020. Os desdobramentos geopolíticos do século XXI, a partir da maior presença econômica e militar estadunidense na região da Ásia-Pacífico e o fortalecimento militar de rivais russos, como o Japão, levaram Moscou a repensar suas perspectivas estratégicas para a região.
Nesse sentido, elevou-se o interesse em fortalecer a Esquadra do Pacífico, que já vinha passando por uma reformulação e modernização de suas capacidades, destacando a elaboração da Doutrina Marítima da Federação Russa de 2022. Além disso, ampliou-se a integração da parte ocidental do país com a oriental, com maiores investimentos em infraestrutura de transportes e energia.
É possível compreender, portanto, que o fortalecimento das capacidades navais, sobretudo na costa Leste, e a maior integração entre o território russo têm sido impulsionados pelas transformações no cenário internacional e pelo fortalecimento de adversários geopolíticos da Rússia.
FONTE: Boletim GeoCorrente