Por Gabriela Santos
No início de setembro de 2022, o Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, comissionou o primeiro porta-aviões desenvolvido nacionalmente. A embarcação INS Vikrant, construída pela empresa Cochin Shipyard e possuindo cerca de 76% de peças e componentes próprios do país, é reflexo do seu esforço contínuo por autossuficiência, no que tange às capacidades de Defesa naval, principalmente.
O feito é substancial para a Índia, que passa a fazer parte de um grupo seleto de nações com capacidade de produção de porta-aviões, e nos leva a refletir sobre as recentes aspirações da Marinha indiana.
Historicamente, o poder marítimo foi uma peça-chave na defesa da Índia, dada a sua disposição geográfica peninsular. A partir de sua independência, o país buscou aprimorar suas capacidades navais, mas apenas nos últimos anos foram dados maiores passos em direção a Aatmanirbhar Bharat, ou “Índia autossuficiente”. O conceito de Aatmanirbhar, popularizado no governo Modi, parte do princípio de que a dependência de países estrangeiros para toda e qualquer necessidade relacionada à Defesa é, por si só, uma ameaça estratégica.
Desde então, o governo visa desenvolver um novo ecossistema de Defesa voltado para projetos e fabricação próprios, por meio da promoção da “indigenização” de diversos outros setores, indústrias e plataformas que compõem o seu complexo industrial. Para uma Índia que busca cada vez mais alavancar sua influência no Indo-Pacífico, o comissionamento de um navio de guerra produzido nestes moldes, coloca-a em uma posição vantajosa, capaz de grandes avanços em tecnologia e engenharia de Defesa, além de atender às necessidades de segurança coletiva da região.
Mais criticamente, no entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para se alcançar o objetivo interno da autossuficiência, cerca de metade dos suprimentos militares indianos ainda são de origem soviética ou russa, e os reveses recentes em relação à guerra na Ucrânia expuseram o problema de aquisições de Defesa diante das interrupções do fornecimento vindo de Moscou.
Em suma, sendo o Oceano Índico cenário prioritário para a Índia em questões de segurança, a Marinha representa um segmento cada vez mais valorizado pelo seu potencial de projeção de poder e influência regional. É evidente que a sua modernização e diversificação de recursos é um trabalho complexo, lento e custoso, e que requer mudanças em setores tangenciais. No entanto, em que pesem os contratempos, os avanços em tecnologia de defesa vistos até hoje trazem confiança no comprometimento e nos objetivos a longo prazo do país.
FONTE: Boletim GeoCorrente