Por Robinson Farinazzo
A Venezuela teve uma retração do seu PIB (Produto Interno Bruto) de 3,9% no ano de 2014, caindo 6,2 % em 2015 e 18 % em 2016 (dados do Fundo Monetário Internacional, FMI). O país conseguiu manter sua balança de comércio em um nível positivo devido às exportações do petróleo, mas esse quadro pode se alterar facilmente em função das oscilações do preço do barril.
O quadro inflacionário é aterrador, porém é difícil de ser aquilatado em números em face à baixa confiança dos dados fornecidos pelo governo (quando e se este último os libera). Inobstante, estima-se que seja guindada ao patamar de 700% no ano 2017, ou muito além. Porém, qualquer que seja o número, ele será catastrófico.
Estes índices da economia têm enorme repercussão nos indicadores sociais do país e a Venezuela hoje ocupa a 101ª posição em um ranking de 162 países no tocante ao consumo calórico per capita, com apenas um terço de sua população conseguindo obter três refeições diárias.
A taxa de homicídios disparou, o número de sequestros praticamente triplicou entre 2008 e 2011. O desabastecimento é alarmante, e calcula-se que o desemprego bata na casa dos infernais 20% em 2017.
Politicamente, é inegável que o país já entrou numa ditadura fortemente respaldada pelo setor militar e este é o ponto de interesse de nosso artigo. A militarização da cúpula governamental está caracterizada no fato de que dos 32 ministérios do governo de Nicolás Maduro, 11 são ocupados por militares, alguns dos quais estão sendo processados por órgãos judiciais norte americanos.
Mas estes cargos não são suficientes para atender às vagas necessárias para alocar os mais de 2.000 oficiais generais ( de um efetivo de cerca de 115.000 militares, segundo dados do jornal New York Times) que o governo venezuelano promoveu nos últimos anos. Eles estão presentes em diversos setores da máquina pública, em especial no estratégico, lucrativo e pouco eficiente serviço de importação/distribuição de alimentos.
Como não há bem que nunca se acabe nem mal que dure para sempre, não é difícil concluir que, mais cedo ou mais tarde, na senda que escolheu, o regime encontrará seu abismo. E que o Exército (leia-se Forças Armadas) da Venezuela seguirá com ele e será instado a prestar contas para a sociedade venezuelana, ao menos para esclarecer porque se desviou de seu papel institucional e se amalgamou a um partidarismo passageiro que sempre foi prejudicial às Forças Armadas de qualquer país do planeta – que o digam seus camaradas de armas da Argentina, Iraque e Alemanha.
Nesse dia, o Exército (que se deixou seduzir pelas tentações Chavistas quando deveria ter preservado seu caráter despolitizado) ocupará o duro e frio banco de réus que a História reserva aos que não lhe deram ouvidos. E pagará a conta, na forma de décadas de desprestígio, descrédito e sucateamento, convertendo-se em pária institucional.
Mais lamentável do que inevitável.