Por Sílvio Menezes – Editor de Veículos
Os tanques de guerra são símbolos de resistência, força e versatilidade. Mas, por serem de uso restrito das Forças Armadas Brasileiras, as informações sobre essas fortalezas sobre rodas são bem desconhecidas do grande público.
Para desvendar particularidades dessas máquinas de combate e detalhar tudo para os amantes de veículos, o JC visitou o 10º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, no Curado, Recife, a unidade do Exército responsável pelos tanques em Pernambuco. Lá foi possível descobrir muitas curiosidades. Em regra geral pesam mais de 10 toneladas, rodam uma média de 2 quilômetros com um litro de diesel e podem atingir a casa dos 100 km/hora.
A frota do Exército usa ao menos quatro modelos de veículos em conflitos, incluindo jipes. São dois tipos de tanque: o Cascavel e o Urutu. E nós vamos focar justamente nessa dupla de blindados. Ambos foram produzidos nos anos 70 e 80 pela extinta empresa brasileira Engesa. Apesar de antigos e não terem luxo aparente, são reconhecidos internacionalmente. Os tanques produzidos em nosso País fizeram sucesso no exterior, principalmente no Oriente Médio, pela simplicidade da operação e bons resultados alcançados. Os blindados têm funções operacionais distintas e poucas diferenças mecânicas.
O Cascavel é o veículo de reconhecimento e combate. A carroceria blindada suporta tiros de fuzil e rajadas de metralhadoras. A chapa de aço tem de 10 a 16 milímetros (a de um automóvel passeio civil blindado é de três a quatro milímetros). O tanque é equipado com canhão e metralhadoras. Nas missões, é usado para intimidar adversários no confronto. Leva só três militares. Numa situação de combate, vai atrás dos jipes abre-alas.
O motor Mercedes, de 190 cavalos de potência, empurra as quase 14 toneladas do tanque a uma velocidade de até 110 km/h. Por ter sido fabricado em 1986, não esconde sinais do tempo.Tem um painel de instrumentos nada sofisticado. De tão simples, lembra o de um Fusca e outros carros de 30 anos atrás. Nada de eletrônica à mostra como nos automóveis modernos. O trunfo desses veículos é o sistema bumerangue, que permite rodar com o pneu furado por vários quilômetros. A suspensão mantém o blindado sempre em contato com o solo, o que facilita o deslocamento.
A outra estrela da corporação é o Urutu, usado no transporte de tropas. Está pronto pra levar até 14 militares a áreas conquistadas. A tripulação pode sair dele por uma porta traseira, lateral ou por cima. A motorização também é de caminhão Mercedes. Originalmente são 190 cavalos de potência, mas pode chegar aos 260 cavalos. O câmbio é manual. Apesar de terem como missão principal atuação em guerras, a dupla esteve presente em ações conhecidas dos brasileiros. Os militares usaram o Cascavel e o Urutu no processo de pacificação dos morros cariocas e recentemente saíram às ruas do Grande Recife quando os tanques foram acionados para garantir a ordem no Estado num período em que bandidos aterrorizavam Pernambuco durante a greve da PM, ano passado.
TEST-DRIVE CASCAVEL
Para guiar blindados em missões é preciso ter habilitação categoria D e passar por um curso de instruções de condução no Exército. Recebemos autorização pra guiar um Cascavel no pátio do Esquadrão acompanhado por instrutores. Para o motorista, assusta o primeiro contato pelo tamanho, mas não há dificuldades na pilotagem.
Os comandos são semelhantes aos de um automóvel. O tanque que testamos tinha como artigo de luxo o câmbio automático. Como não tem ar-condicionado, dá para imaginar o calor para os militares que precisam levar toda a parafernália de guerra. A posição de dirigir causa estranheza no início, mas a visibilidade é muito boa. O volante de caminhão fica na altura da barriga, assustando quem está acostumado somente a guiar carros de passeio. Apesar de ser hidráulica, a direção faz curvas com mais lentidão. No mais, tudo igual ao de automóvel convencional. É melhor em baixa velocidade e leva um tempo maior para responder ao comando do acelerador.
Os blindados explorados na reportagem são sobre rodas. Tanques sobre lagartas (com rodas tipo esteiras) só existem como peça de museu na frota do Exército em Pernambuco. Há alguns em operação em outros esquadrões e são acionados para atuar em regiões de difícil acesso e devastadas por guerras ou catástrofes naturais.
Diferente do mundo dos carros de passeio, a indústria bélica não renova seus veículos com a mesma rapidez, mas o sonho de qualquer Exército hoje é o Guarani, um tanque de 18 toneladas. Os primeiros exemplares foram entregues ao Exército Brasileiro ano passado. O veículo é bem mais tecnológico e vem, inclusive, com mira eletrônica. O valor estimado é de aproximadamente R$ 3 milhões. Quem sabe a gente não testa um desses da próxima vez.
FONTE: Jornal do Commercio
FOTOS: Edmar Melo