Navio de guerra russo ameaça atingir destróier americano no Pacífico

Por Igor Gielow

Em uma cena digna de filme sobre a Guerra Fria, o comandante de um navio militar russo jogou sua embarcação contra um destróier norte americano que havia invadido águas territoriais que Moscou considera suas. O incidente, o segundo do tipo no ano, ocorreu nesta terça (24) no mar do Japão, nos limites do golfo de Pedro, o Grande, extremo oriente da Rússia.

O destróier USS John S. McCain (DDG 56), baseado em Yokosuka (Japão), entrou nas águas do golfo às 13h17 locais (0h17 em Brasília). Em patrulha, o destróier russo Almirante Vinogradov desviou rumo ao navio americano, no que o Ministério da Defesa chamou de manobra de abalroamento, quando ele estava dois quilômetros dentro da fronteira marítima russa.

Almirante Vinogradov

O John McCain acabou desviando e deixando a região, e aí começam as recriminações. O Comando do Pacífico da Marinha americana divulgou nota apenas afirmando que o navio estava em uma operação de liberdade de navegação. Ou seja, o destróier estava passando por águas que os EUA classificam como internacionais, um expediente usual na sua disputa com Pequim sobre o mar do Sul da China que o regime comunista considera 85% seu.

Em junho de 2019, o mesmo Almirante Vinogradov usou de manobra semelhante contra o cruzador USS Chancellorsville (CG 62) no mar do Leste da China, mas aí ele não defendia o que Moscou considera seu. É o caso do golfo de Pedro, o Grande. Nele fica a maior cidade do extremo oriente russo, Vladivostok, que é a base de sua Frota do Pacífico. Em 1984, a União Soviética decretou que aquelas águas estavam sob sua responsabilidade.

No incidente de 2019, ambas as Marinhas se acusaram de falta de profissionalismo, o mesmo que ocorreu quando um navio russo quase atingiu o destróier USS Farragut (DDG 99) no mar da Arábia, em janeiro deste ano. Assim como no caso anterior, vídeos capturaram as quase colisões.

São bravatas militaristas de asseveração de poder, recados de lado a lado sobre quem manda mais, temperados pela turbulência política decorrente da não aceitação formal de derrota do presidente Donald Trump nos EUA.

Também servem de alerta, por parte de Moscou, para o time do presidente eleito Joe Biden, com quem terá de discutir temas de segurança na Europa e na questão da controle dos arsenais nucleares.

O incidente desta terça trouxe o agravante de ocorrer em um lugar que os russos defendem com unhas e dentes. Pelas regras internacionais, vigentes desde 1975, se dois navios estão em curso de colisão, aquele que vê o outro à sua direita precisa dar passagem.

Destróiers são a espinha dorsal da maior parte das marinhas mais capazes do mundo. São superiores em deslocamento e armamento às fragatas e corvetas, e inferiores a cruzadores.

O John McCain, um navio de 1992 que homenageia três gerações (dois almirantes, pai e avô do senador republicano morto em 2018, e o próprio político), esteve envolvido numa mortal colisão em 2017 perto de Singapura. Após bater num navio-tanque, dez de seus marinheiros morreram. No ano passado, Trump causou desconforto na Marinha ao pedir que o nome do navio fosse coberto durante uma visita sua ao Japão, já que McCain era seu adversário interno no Partido Republicano.

FONTE: Folha de São Paulo

FOTOS: US Navy

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