De olho em novas receitas, empresa de aviação celebra parceria com multinacional italiana para produzir helicópteros no País
Na estratégia de depender cada vez menos do turbulento mercado de aviação comercial, a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) planeja aterrissar em um novo segmento que cresce anualmente em céu de brigadeiro: o de helicópteros.
A frota nacional, por exemplo, duplicou de tamanho desde 2008, segundo projeções da ABTAer (Associação Brasileira de Táxis Aéreos), e deve crescer mais 50% até 2015. De olho nesse ramo, a companhia, privatizada em 1994, anunciou a assinatura de um memorando de entendimentos com a fabricante de helicópteros AgustaWestland controlada pelo conglomerado italiano Finmeccanica na segunda-feira 21. O acordo tem como objetivo firmar em meses uma sociedade para produzir em solo brasileiro os modelos da futura parceira. Atualmente, cerca de 50% da frota nacional é composta por aparelhos da empresa brasileira Helibras controlada por europeus, 35% pelas companhias americanas Bell e Sikorsky e 15% pela Agusta.
É um momento importante para a indústria aeronáutica brasileira, resume Milton Arantes Costa, presidente da ABTAER. Se na aviação comercial a Embraer chegou ao patamar de empresas como a Boeing, ela tem experiência e capacidade para fazer o mesmo na área de helicópteros, vislumbra.
Estudos preliminares realizados pela Embraer, em parceria com a AgustaWestland, apresentaram um grande potencial para a produção e venda de helicópteros bimotores de capacidade média, especialmente para atender às demandas apresentadas pela área de óleo e gás. Apenas para suprir esta necessidade impulsionada pelas novas plataformas de exploração marítimas brasileiras, especialistas calculam uma demanda de 400 novos aparelhos em uma década. Outro mercado em permanente ascensão no Brasil e na América Latina é o do uso de helicópteros por empresas e executivos.
Não à toa, levantamento da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), divulgado em 2012, mostra que a capital paulista possui a maior frota urbana do mundo, acima de metrópoles como Nova York. Um movimento que vem se intensificando em outros grandes centros urbanos do País que sofrem com problemas de segurança e mobilidade urbana, ampliando oportunidades de negócios no setor.
Um novo horizonte que a parceria entre a Embraer e AgustaWestland pretende alçar é a venda de helicópteros também para o crescente mercado latino de segurança e defesa. Para isso, a Embraer deve acionar a sua carteira de fornecedores para nacionalizar ao máximo o número de itens dos helicópteros produzidos no Brasil. Um ativo importante na disputa que deve travar com a Helibras por milionários contratos com as Forças Armadas brasileiras, como a concorrência da Marinha para compra de aproximadamente 25 helicópteros multimissão até 2015.
A tarefa, no entanto, será árdua. Dona de mais de 50% do mercado nacional, a Helibras, controlada pela franco-alemã Eurocopter, produz no País desde a década de 70 e já apresenta modelos com altos níveis de nacionalização. O planejamento da companhia contempla inclusive metas audaciosas, como a produção do primeiro helicóptero 100% brasileiro até 2020. ?Nós já fabricamos 700 helicópteros e temos desenvolvido tecnologia para ampliar cada vez mais a participação do produto nacional em nossas aeronaves. Não se consegue isso de uma hora para outra, declarou o presidente da Helibras, Eduardo Marson Ferreira.
O anúncio dos entendimentos entre a Embraer e a AgustaWestland para a fabricação de helicópteros no País vai ao encontro da política de diversificação de receitas adotada pela empresa brasileira. Este é um passo importante para a Embraer, em continuidade à expansão dos nossos negócios, declarou o diretor-presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado. A estratégia passou a ser adotada oficialmente, em 2010, com a criação de um braço da companhia para negócios na área de defesa e segurança.
Hoje, por meio de aquisições ou parcerias, a Embraer participa de projetos que vão do desenvolvimento do avião de transporte militar KC-390, sistemas de defesa até veículos aéreos não tripulado, o que corresponde a 18% de suas receitas. Líder mundial no segmento de aviões comerciais de até 120 assentos, a Embraer parece deixar o recado aos concorrentes de que o céu não é o seu limite.
FONTE: Revista Isto é – Por Pedro Marcondes de Moura