Mulheres da Marinha do Brasil ganham espaço em ações de combate

Por Andrea Barretto

Dentro das Forças Armadas do Brasil, a Marinha (MB) foi a primeira a conferir a uma militar do sexo feminino um posto de oficial-general. A promoção foi da Contra-Almirante Médica Dalva Maria Carvalho Mendes em 2012.

Em dezembro de 2017, a MB deu um outro passo inovador ao ser aprovada a lei Nº 13.541. Com essa norma, abre-se a possibilidade para que mulheres venham a ingressar em carreiras que permitem a ascensão até o título de almirante-de-esquadra, o maior na hierarquia da força naval em tempo de paz. Em tempo de guerra, o posto mais alto é o de almirante.



A mudança significa também que as mulheres passam a ter a opção de ingressar no Corpo da Armada e no Corpo de Fuzileiros Navais, podendo assim participar de atividades de combate. “Até agora, as mulheres participavam de atividades operacionais nas áreas de saúde e de apoio, isto é, nas atividades logísticas, sem serem inseridas no contexto direto dos confrontos de forças em combate”, explicou o Almirante-de-Esquadra da MB Celso Luiz Nazareth, diretor-geral do Pessoal da MB. “Com a nova redação da lei, elas poderão participar das atividades preparatórias e dos exercícios que se destinam, efetivamente, ao combate, como integrantes do Corpo da Armada, para os combates navais, e do Corpo de Fuzileiros Navais, para os combates de terra após desembarques vindos do mar.”

Adaptações necessárias

A implementação das novidades trazidas pela nova lei envolve diferentes setores e regulamentações da MB. Como exemplo, o Alte Esq Nazareth citou as capacitações físicas. Segundo o oficial, as atividades de combate exigem requisitos físicos mais intensos do que as atividades logísticas, às quais as mulheres estavam restritas. Isso vai demandar alterações nas regras que regulam o treinamento físico militar e a avaliação física para as mulheres.

Outro quesito importante refere-se às reestruturações nas instalações dos navios e das escolas de formação. “Há necessidade de pequenas alterações e adaptações para permitir a convivência prolongada entre profissionais do sexo masculino e feminino, tanto pelas longas viagens dos navios, que podem durar meses, quanto pela necessidade de internato nos estabelecimentos de ensino, como parte da formação militar naval”, afirmou o Alte Esq Nazareth.

A Contra-Almirante Médica Dalva Maria Carvalho Mendes é, desde 2012, a única mulher das Forças Armadas do Brasil a ser promovida a um posto de oficial-general. (Foto: Marinha do Brasil)

A ideia é que tudo isso ocorra em curto prazo. Em 2018, por exemplo, o processo seletivo para a Escola Naval da MB já incluirá a possibilidade de ingresso de candidatas no Corpo da Armada e no Corpo de Fuzileiros Navais.

Desde 2014 até 2017, a Escola Naval só admitia mulheres para a formação na carreira de intendente. A primeira turma de militares intendentes do sexo feminino formou-se em 2017. O Corpo de Intendência da Marinha é responsável pela logística de suprimentos e de transporte, pela coordenação e execução orçamentária e financeira, pela gestão do patrimônio imobiliário, pelo controle interno, pela administração e pelo pagamento dos servidores da MB.

Mulheres na Marinha

A MB conta com 8.124 militares do sexo feminino, das quais 3.706 são oficiais e 4.418 são praças. Em alguns quadros, elas chegam a ser maioria, como o de apoio à saúde, com 77 por cento de mulheres; o de cirurgiões-dentistas, com 65 por cento de mulheres; e o de médicos, com 54 por cento de mulheres. Entre as médicas está a C Alte Dalva, a primeira e única mulher das Forças Armadas do Brasil a conquistar um posto de oficial-general.

A C Alte Dalva ingressou na MB em 1981, na primeira turma do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, juntamente com outras 202 mulheres. Em 1997, houve a redistribuição dessas militares pelos corpos já existentes. Nesse ano, ela foi integrada ao Corpo de Saúde da Marinha, no quadro de médicos, como anestesista.

“Tive vários momentos marcantes em minha carreira, mas, com certeza, minha promoção a oficial-general foi o mais emblemático. Fui tomada por um sentimento de felicidade intensa, uma emoção indescritível, mesclada à consciência do aumento da responsabilidade agregada por esta promoção”, contou a C Alte Dalva. Para ela, a criação da nova lei e a admissão de mulheres nas turmas de formação de oficiais da Escola Naval são uma “demonstração de que a Marinha é uma instituição atenta às mudanças sociais”.

Quanto à participação de militares femininas em operações de combate, a C Alte Dalva disse não ver dificuldades. “Os militares, independente do gênero, estão prontos para cumprir qualquer missão, pois possuem características que podem ser traduzidas pelos valores exigidos do profissional, como dedicação, responsabilidade, abnegação e espírito de sacrifício, dentre outros”.

FONTE: Diálogo Américas



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