Por Andréa Barretto
O navio-escola Brasil retornará em dezembro de 2018 à Base Naval do Rio de Janeiro, trazendo de volta os futuros oficiais da Marinha do Brasil (MB). Iniciada em 22 de julho, esta é a XXXII Viagem de Instrução de Guardas-Marinhas, atividade realizada ao fim do ciclo de quatro anos na Escola Naval, mas é a primeira a levar a bordo um grupo de mulheres.
“Este momento significa a realização de um sonho e uma oportunidade ímpar de aprendizado”, contou a Guarda-Marinha da MB Fernanda Fonseca, uma das 12 militares embarcadas. Elas fazem parte da turma que, em 2014, inaugurou a participação de aspirantes do sexo feminino na Escola Naval, a academia militar de oficiais da MB. Com uma mudança na legislação, a MB tornou possível o ingresso de mulheres em seu Corpo de Intendentes, área responsável por todos os aspectos administrativos.
Durante a viagem de instrução, a turma de 208 guardas-marinhas passa por 15 portos em 10 países. No trajeto, os militares cumprem uma carga horária de aulas expositivas e práticas, participam de demonstrações e realizam trabalhos em grupo.
“Um dos propósitos da viagem de instrução é contribuir para a formação profissional e cultural dos futuros oficiais, iniciada desde a Escola Naval”, explicou o Capitão-de-Mar-e-Guerra da MB Vagner Belarmino de Oliveira, comandante do navio-escola Brasil. Em dezembro, quando pisarem novamente em solo brasileiro, os guardas-marinhas estarão aptos a se tornarem oficiais, recebendo o posto de 2º tenente.
Dia a dia
A rotina no navio-escola está distribuída em quatro dias-tipos: os dias de instrução em sala de aula, os dias de navegação, os dias de exercícios em simulador de treinamento tático e os dias de guarnecimento dos postos de serviço, quando os guardas-marinhas acompanham as atividades dos oficiais a bordo. Dentro dessa escala, há uma programação comum para todos os militares em formação, bem como atividades específicas de acordo com a carreira que cada guarda-marinha escolheu ao final do segundo ano da Escola Naval, seja no Corpo da Armada, no Corpo de Fuzileiros Navais ou no Corpo de Intendentes da Marinha.
A programação comum inclui matérias como navegação, meteorologia, administração naval e procedimentos marinheiros. A intenção é nivelar conhecimentos e disseminar de modo unificado as tradições e a cultura naval entre os diferentes setores da Marinha, como afirmou o CMG Belarmino.
As 12 mulheres a bordo seguem a carreira na área de intendência. Para elas e os demais militares que optaram por essa área, o dia a dia é preenchido também por aulas de administração e logística e conhecimentos sobre organização e sustento para uma força armada.
Além disso, os futuros oficiais intendentes acompanham e executam tarefas práticas, como a elaboração de documentos administrativos e de todo o tipo de suprimentos de um navio de guerra. “A abordagem é focada em atribuições como o provimento das refeições, suprimento de materiais e sobressalentes, pagamento de pessoal e gerência de recursos financeiros”, detalhou o CMG Belarmino.
Para a Guarda-Marinha da MB Naraiane Machado Feitosa, essa rotina a bordo tem sido intensa, gratificante e incentivadora. “Temos uma grande carga horária de instruções e aulas, mas tudo é sempre voltado para a aplicação prática, e isso nos mantêm bem próximos de nossas futuras funções”, contou.
A GM Fonseca também ressaltou a intensidade da experiência. “O maior desafio a bordo é, diante de uma tripulação tão competente, extrairmos o máximo de experiência possível deles em um curto espaço de tempo, a fim de que, ao término da viagem, estejamos prontos para assumir nossas funções de 2º tenente.”
De porto em porto
Além de completar uma etapa da formação dos guardas-marinhas, a viagem também busca cumprir a função de fomentar as relações externas do Brasil e dos futuros oficiais da Marinha. “Temos o propósito de realizar o estreitamento de laços com as nações amigas, através da participação de oficiais convidados das respectivas marinhas, e ainda mostrar a nossa bandeira, tradição e cultura em diversos países”, explicou o CMG Belarmino.
Assim, o navio-escola está viajando com uma tripulação que conta com a presença de oficiais convidados das marinhas de 14 países, dentre eles Estados Unidos, Argentina, Bolívia e Chile. Os convidados seguem a mesma rotina e programação dos guardas-marinhas brasileiros, oportunizando que estes alunos troquem e aprendam de perto com os militares mais antigos.
A experiência multicultural é completada com as paradas nos portos internacionais. O primeiro foi na Espanha e o último será na Colômbia, antes do retorno para o Brasil, em dezembro. O planejamento nessas ocasiões abrange visitas a empresas de desenvolvimento de tecnologia e meios militares e visitas a academias navais e outras organizações militares. Inclui ainda passeios pelas cidades, com foco no conhecimento de locais e monumentos que ajudam a contar parte da história das civilizações.
Adaptações e futuro
Em 2014, quando as mulheres foram admitidas pela primeira vez na Escola Naval, a instituição passou por uma série de mudanças em seu espaço físico. Agora não foi diferente com o navio-escola Brasil, embarcação que nunca tinha recebido mulheres em suas viagens de instrução. “Houve necessidade de adaptações principalmente nas áreas afetas à habitabilidade, como banheiros, camarotes e alojamentos, visando a mesma manutenção de privacidade”, contou o CMG Belarmino.
Para o oficial, o ingresso feminino na Escola Naval é um avanço que tem trazido ganhos para todos os envolvidos. “Os aprendizados do passado e o sucesso da experiência do presente indicam que a instituição está no rumo certo, que acertou nas decisões e no incentivo ao ingresso da mulher na Escola Naval”, concluiu o CMG Belarmino.
FONTE: Revista Diálogo Américas