Por Guilherme Justino
Depois de 60 anos de atividade, um navio de guerra depôs as armas para voltar a servir agora, porém, aberto ao público e atracado em um cais, não mais em alto-mar. A ex-corveta Imperial Marinheiro, embarcação que durante décadas percorreu os mares do Sul em missões de patrulha, resgate e salvamento, vai passar a receber não só marinheiros, mas turistas, entusiastas da náutica e curiosos em seu casco repleto de história.
Imponente em meio a pequenos barcos de pesca, o navio ganhou um espaço especial em frente ao Museu Náutico da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), no cais do porto histórico de Rio Grande. A partir desta sexta-feira, quando estará aberta à visitação, a Imperial Marinheiro ganhará uma última e honrosa missão: passar a servir como um “museu flutuante”– um dos poucos no país.
Com inauguração às 19h desta quinta-feira, a agora corveta-museu deve funcionar como um novo espaço educativo, instrumento de divulgação da história naval brasileira. Apenas a cidade do Rio de Janeiro (com um contratorpedeiro) e Belém (PA) com outra ex-corveta, têm iniciativas como essa.
Ver um navio como o Imperial Marinheiro assim, de perto, ajuda a mostrar um pouco da história do país. É uma oportunidade rara de conferir como é por dentro esta que já foi uma das principais embarcações da Marinha define o comandante Gleiber Banus Barboza, responsável pelo Grupamento de Patrulha Naval do Sul.
O comandante ressalta que tudo no navio de guerra foi preservado: os equipamentos de navegação que parecem antiquados diante da tecnologia presente nas embarcações atuais, mas preservam significativo valor histórico, o timão, as metralhadoras e o canhão são originais. A embarcação passou apenas por um processo de revitalização e desarmamento, que envolve a retirada de munições e líquidos inflamáveis como o óleo diesel.
Com a inauguração do navio-museu, Marinha e Furg esperam, também, que a embarcação seja um novo atrativo turístico na região e contribua para revitalizar uma área de aparência abandonada no centro histórico de Rio Grande. A visitação será liberada gratuitamente, de terça a sexta-feira, entre as 14h e as 18h.
“Aposentadoria” é marcada pela emoção
Para aqueles que serviram na corveta, a despedida foi repleta de homenagens. Último comandante do navio, o capitão de corveta Fabio Sobrinho descreve, em texto escrito a pedido de ZH, a experiência de ter servido na embarcação como prazerosa, apesar das dificuldades de navegar, nos últimos anos, em um casco marcado pela passagem do tempo.
Na ordem que marcou a “aposentadoria” do navio de guerra, o chefe do Estado-Maior da Armada, Wilson Barbosa Guerra, definiu a agora corveta-museu como “uma jovem senhora de alma aguerrida”, marcada por um histórico de sucesso. “Podemos sentir o calor da bravura daqueles que tiveram o privilégio e a honra de fazer parte deste legado. Diante desta verdadeira escola de marinheiros, prestamos nossa reverência pelos seus feitos em prol da Marinha e da Pátria”, escreveu o almirante-de-esquadra.
Por ora atracado em frente ao Imperial Marinheiro, um barco relativamente pequeno, mas com grandes pretensões, parece disposto a zarpar muito em breve. No convés, o objetivo de formar jovens aprendizes e melhor prepará-los não só para o mar, mas para a vida.
Doada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) à Furg em 2011, após ser flagrada em atividade irregular, a embarcação recebeu novos nome e missão. Agora rebatizado como Flor do Mar, o barco será também uma escola, voltado para a educação de aproximadamente 300 adolescentes entre 14 e 17 anos integrantes do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar), em Rio Grande.
A proposta é oferecer uma experiência náutica, levando conhecimento a esses adolescentes. Até seis meses, eles receberão lições de navegação, oceanografia, astronomia – define o diretor do Complexo de Museus da Furg, Lauro Barcellos.
Os alunos, selecionados por assistentes sociais entre os moradores de Rio Grande e região com até 1,5 salário mínimo de renda familiar, vão receber treinamento gratuito durante o tempo que permanecerem nessa escola flutuante. As atividades devem ter início com o primeiro semestre letivo da universidade, em março.
A cerimônia de incorporação do barco-escola Flor do Mar será realizada um pouco antes da inauguração da corveta-museu, às 18h45min. A iniciativa deve receber o reforço de outra embarcação nos próximos meses: a Anunciada nome que também faz referência à armada de Pedro Álvares Cabral.
FONTE: Zero Hora