PARIS – O fundo do mar é um espaço cada vez mais cobiçado. Para fazer face a estes novos desafios, o Ministério das Forças Armadas adotou, em Fevereiro de 2022, uma Estratégia de controle do fundo do mar. Em particular para a Marinha Francesa, isto significa ser capaz de atuar até uma profundidade de 6.000 metros até 2026.
Setembro de 2022
A guerra na Ucrânia começou há quase seis meses. A Europa, então largamente dependente do gás russo, sofreu um aumento drástico no custo da energia. Um acontecimento agravou ainda mais a situação: a sabotagem dos dois gasodutos Nord Stream, escondidos no fundo do Mar Báltico e que ligam a Rússia à Alemanha. Este ato de sabotagem, cujo autor permanece desconhecido, evidenciou a vulnerabilidade de certas instalações estratégicas, bem como a opacidade do fundo do mar e, portanto, a facilidade de realizar ações maliciosas com total impunidade.
“Anteriormente um simples teatro de conflitos, o mar tornou-se agora um objeto de conflito”, recordou o historiador Hervé Coutau-Bégarie no seu livro de 1983 sobre “Poder Marítimo Soviético”. A intensificação da concorrência offshore conduziu, de fato, à chegada de novas ameaças, no mar, mas também debaixo de água, porque o fundo do mar contém muitos locais sensíveis ou de grande interesse.
Em primeiro lugar, gasodutos e oleodutos. Depois, os cabos de telecomunicações, através dos quais 99% dos fluxos digitais globais, particularmente os da Internet, passam por uma rede de quase 1,3 milhões de quilômetros. Depois, os recursos essenciais à produção de bens de consumo, como as terras raras, cada vez mais cobiçadas e a presença de naufrágios que por vezes escondem tecnologias de ponta.
“O que não é monitorado é saqueado e o que é saqueado é reivindicado”, explicava regularmente o almirante Pierre Vandier, ex-chefe do Estado-Maior da Marinha Francesa. A liberdade de ação das nossas forças no mar depende, portanto, fortemente da nossa capacidade de controlar as profundezas. Para tal, em Fevereiro de 2022, o Ministério das Forças Armadas adotou uma Estratégia de Controle dos Fundos Marinhos.
Um ambiente pouco conhecido
O fundo do oceano continua a ser um ambiente em grande parte desconhecido: apenas 20% da sua topografia foi pesquisada, e apenas 2% da sua superfície é medida com precisão métrica. No entanto, as técnicas evoluíram desde o aparecimento dos primeiros batiscafos em meados do século XX.
Hoje, a Marinha Francesa já pode contar com robôs operados remotamente que podem mergulhar até 2.000 metros de profundidade. A nova estratégia ministerial, porém, estabelece um novo objetivo: atingir 6.000 metros através da utilização de robôs e drones submarinos.
“97% do fundo do oceano está a 6.000 metros ou menos”, sublinha o contra-almirante Cédric Chetaille, coordenador central da Marinha Francesa para a missão de controle do fundo marinho. “Drones e robôs têm funções diferentes e contam com o tríptico “conhecer, monitorar e agir”. O drone está focado em conhecimento e vigilância. O robô monitora e, acima de tudo, age.”
Um desafio adicional: como representar uma ameaça credível aos nossos concorrentes.
Missões Calliope
Para atingir este objetivo, a Marinha Francesa está a realizar uma fase exploratória com a Direção Geral de Armamentos (DGA) através das missões Calliope. A primeira ocorreu em 2022, na costa do Golfo da Biscaia, a partir do centro hidrográfico e oceanográfico Beautemps-Beaupré. A bordo estava o Tenente Thomas, chefe do destacamento de alto mar AUV. Sua função: implementar e testar as capacidades dos equipamentos colocados à disposição da Marinha Francesa.
“A DGA celebrou contratos para aluguel de drones, incluindo um contrato com o fabricante norueguês Kongsberg Maritime”, afirma o tenente Thomas. O drone HUGIN Superior pode mergulhar até 6.000 metros. O tenente e sua equipe tiveram que ir primeiro para a Noruega, onde foram treinados para operar a máquina. Isto foi um sucesso e uma profundidade de 4.500 metros foi alcançada.
Na primavera de 2023, a Marinha Francesa realizou outras duas missões Calliope: a primeira ao largo da costa de Brest, com o navio de apoio e assistência Garonne, e a segunda no Mediterrâneo, com o drone A18D do fabricante francês Exail que foi utilizado em profundidades de 3.000 metros.
“Assim que as máquinas voltaram à superfície, os dados gravados no disco rígido foram extraídos e analisados. Os operadores puderam assim determinar se havia ou não coisas que nos interessavam”, explica o chefe do destacamento de águas profundas do AUV. Outra missão da Calliope deverá ocorrer em breve, desta vez com um robô operado remotamente da empresa francesa Louis Dreyfus Travoyenne capaz de descer até 4 mil metros.
Até 2026, a Marinha Francesa e a DGA pretendem desenvolver em conjunto capacidades soberanas para controlar o fundo do mar. A Marinha também planeja criar equipes dedicadas com recursos humanos adequados.
“Nosso objetivo é fabricar dispositivos com base em protótipos atualmente em desenvolvimento como parte do plano de investimento França 2030. Esses protótipos serão usados por volta de 2026 pelos mundos científico e militar”, afirma o contra-almirante Chetaille.
Na verdade, o Instituto Francês de Investigação para a Exploração do Mar, em parceria com a Exail, acaba de atingir 5.970 metros com o seu drone subaquático de águas profundas ULYx, que poderá servir de base para o AUV de águas profundas desejado pela Marinha Francesa.
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN