Por Andrew Dyer
O capitão Bob Bowen, comandante do USS Decatur (DDG 73), Destróier de mísseis guiados com sede em San Diego, foi destituído do comando em janeiro por reportar posições falsas do navio à Marinha, de acordo com uma investigação realizada recentemente obtida pelo Union-Tribune.
Segundo a investigação, o comandante John “Bob” Bowen, comandante do Decatur, ordenou em setembro a sua tripulação que não informasse que o navio havia ficado parado (a deriva) no mar.
O navio havia parado para realizar manutenção em um de seus eixos de hélice durante o trânsito pelo Pacífico Oriental do Havaí para Seal Beach, Califórnia.
Para esconder a parada de quatro horas da frota, a tripulação relatou posições imprecisas do navio para fazer parecer que o navio nunca parou, apurou a investigação.
Para encobrir a informação, segundo a investigação, a equipe do Centro de Informações de Combate do navio desativou dois sistemas eletrônicos, chamados Link 16 e Global Command & Control, para impedir que a verdadeira posição do navio fosse retransmitida automaticamente.
Em vez disso, o navio relatou falsamente coordenadas de “posição estimada” para a frota que fazia parecer que o navio continuava em curso, segundo a investigação.
Em sua entrevista com os investigadores, Bowen disse que não se lembrava de ordenar que sua equipe desligasse os equipamentos eletrônicos ou informasse coordenadas falsas.
Em 13 de setembro, o Decatur estava navegando com força total a meio caminho entre o Havaí e a Estação Naval de Seal Beach. A meio caminho entre as ilhas e a costa da Califórnia, o “pitch” do eixo de boreste do destróier – que conecta o motor à hélice – ficou desalinhado.
Para reparar e calibrar, o navio precisaria travar o eixo, o que significa que durante a manutenção o navio ficaria à deriva.
De acordo com a investigação, o navio parou máquinas logo após as 10 horas. Um militar de serviço no passadiço logo chamou Bowen – que não estava no passadiço – para perguntar se a 3ª Frota, a frota de San Diego responsável pelo leste do Oceano Pacífico, estava ciente de que o navio havia parado para reparos.
“Não, acho que eles não sabem”, respondeu Bowen, de acordo com a investigação. Quando o tripulante perguntou ao capitão se a frota deveria ser informada, Bowen disse para não se preocupar com isso, disse o marinheiro aos investigadores.
O marinheiro lembrou-se de Bowen dizendo que os reparos não demorariam muito, então não havia necessidade de se preocupar em avisar a frota que eles pararam.
Às 11:30 da manhã, outro marinheiro assumiu o serviço de quarto no passadiço. Este marinheiro também chamou Bowen porque a 3ª Frota estava pedindo a posição, o curso e a velocidade do navio. O marinheiro recomendou a Bowen que lhe permitisse avisar à frota que o Decatur estava parado para manutenção, mas o capitão disse novamente que não, conforme a investigação.
“Depois que desliguei, entendi o que ele estava dizendo”, disse o marinheiro aos investigadores, segundo a transcrição de uma entrevista. “Basicamente, (para) fornecer … onde estaríamos … como se não estivéssemos (parados na água). Pareceu um pouco estranho, eu acho …”
O marinheiro ligou para Bowen pela segunda vez para esclarecer as instruções do capitão, disse o investigador. Durante essa ligação, ele sugeriu ao capitão que apenas relatassem a verdade à frota.
“Não, estamos bem”, foi a resposta de Bowen, disse o marinheiro.
O marinheiro disse que foi criada uma lista de coordenadas de onde o navio estaria se nunca parassem. A tripulação usou essas coordenadas – escritas em um pedaço de papel – para relatar a falsa posição do navio para a frota até que eles retornassem ao curso como se nunca parassem, segundo o relatório.
“Havia esse pedaço de papel onde os tempos e a velocidade eram calculados”, disse um marinheiro que disse aos investigadores que se recusava a participar do estratagema. “Foi, na minha opinião, projetado para fazer parecer que continuamos ao longo de nossa derrota … quando não estávamos.”
Às 14h30, o navio estava em movimento novamente. Ele continuaria reportando coordenadas falsas para a 3ª Frota, até chegar ao local onde eles haviam dito à frota que estariam mais tarde naquela noite, apurou a investigação.
Em sua entrevista com os investigadores, Bowen disse que a manutenção era rotineira e não devido a uma avaria.
Ele disse aos investigadores que, enquanto o navio não atrasasse mais de quatro horas, ele achava que não havia necessidade de notificar a frota.
Quando perguntado por que ele não queria notificar a frota de que o navio estava à deriva, Bowen disse que não queria que eles “fizessem perguntas”.
“Eu não vi o motivo para deixar a 3ª Frota saber nossa posição, quer dizer, desde que não façamos nada de louco”, disse Bowen, segundo uma transcrição da entrevista. “Ainda poderíamos cumprir nossa missão. Só não queria que eles fizessem perguntas sobre … ‘Ei, por que vocês estão fazendo isso?'”
Bowen informou aos investigadores que disse à ponte para não contar para a frota que eles estavam à deriva, mas negou ordenar a sua tripulação para reportar coordenadas falsas à frota.
“Eu não entendo o benefício de não lhes contar nossa posição”, disse Bowen aos investigadores. “OK, não dissemos a eles que vamos (à deriva) fazer uma (calibração do “pitch”). Tudo bem. Mas por que precisamos falsificar nossa posição? Isso não faz sentido para mim.”
Bowen também negou ter dito à sua equipe que desligasse o equipamento de rastreamento automático.
As irregularidades foram relatadas à Marinha por meio de uma linha direta anônima de reclamação logo após o navio retornar a San Diego. A Marinha iniciou sua investigação em novembro e Bowen foi destituído do comando em janeiro.
Na época, a Marinha disse em um comunicado à imprensa que Bowen foi dispensado do serviço devido a uma “perda de confiança em sua capacidade de comandar”.
Na sexta-feira, o comandante. John Fage, porta-voz da 3ª Frota, disse que a Marinha mantém seus líderes em um alto padrão.
“Suas posições exigem o máximo de responsabilidade, confiabilidade e liderança, e a Marinha os responsabiliza nos casos em que eles ficam aquém desses padrões”, disse Fage.
A passagem de Bowen no comando do Decatur incluiu outro incidente noticiado em manchetes.
Em outubro de 2018, um destróier chinês fez o que a Marinha chamou de “manobras agressivas” em direção ao Decatur, perto do Recife Gaven, no mar da China Meridional, a menos de 45 jardas (15 metros) do Decatur, informou a Marinha.
Fonte: The San Diego Union Tribune
Tradução e adaptação: Marcio Geneve.