Por Taciana Moury
O Navio-Patrulha Oceânico Apa (NPaOc Apa) da Marinha do Brasil atracou no início de maio na Base Naval do Rio de Janeiro, depois de participar da operação Obangame Express 2017. O exercício reuniu no Golfo da Guiné, de 20 a 31 de março, militares norte-americanos, sul-americanos, africanos e europeus, com o objetivo de promover a segurança marítima na região contra as ações de pirataria, tráfico de drogas e armas, sequestro e pesca ilegal.
O NPaOc Apa não foi escolhido por acaso para o exercício. Ele conta com duas lanchas que efetuam abordagens e resgate de feridos, possibilitando o pouso e a decolagem de aeronaves, com um sistema de reabastecimento para operação com aeronave embarcada. Segundo o Capitão-de-Corveta da Marinha de Brasil Jonathas Moscoso de Campos, comandante do NPaOc Apa, outro destaque é o sistema de armas, dotado de alça optrônica com visão noturna (infravermelho), radar de busca combinada, canhão de 30mm, diversas metralhadoras (25mm, 12,7mm e 7,62mm) e até 5.500 milhas náuticas de autonomia. “Essas características tornam o NPaOc Apa , no âmbito da Marinha do Brasil, ideal para esse tipo de operação”, declarou.
A Marinha do Brasil participou pela quarta vez do exercício, que acontece anualmente desde 2010 e é organizado pela Marinha dos Estados Unidos. O navio brasileiro levou 122 militares a bordo para o treinamento. Para o CC Moscoso, a operação foi um sucesso. “Para nós a missão já começou no dia 22 de fevereiro, quando partimos em direção ao golfo, e só terminou no dia 15 de maio, quando chegamos”, disse.
Durante o trânsito até a área de operações foram realizados treinamentos das equipes em métodos de abordagem. “Nunca se sabe o exato momento em que vamos precisar agir e, para isso, devemos estar sempre prontos. O navio, quando está no mar, navegando, gera uma excelente oportunidade de adestramento”, explicou o CC Moscoso. “Arriar uma lancha com uma equipe dentro e com o navio balançando não é uma tarefa simples como parece ser. É muito bom quando podemos capacitar nossa equipe para isso”, comentou.
De acordo com o CC Moscoso, no navio brasileiro estavam embarcados militares do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão, responsáveis pelos cursos de patrulha naval e do Grupamento de Mergulhadores de Combate, especialistas em abordagem. “A presença desses militares possibilitou uma oportunidade de treinamento singular da nossa equipe durante os 83 dias de missão”, ressaltou.
Militares realizaram simulações durante o exercício
O exercício militar propriamente dito ocorreu durante 11 dias nas águas do Golfo da Guiné, que tem cerca de 3,4 mil milhas de litoral, distribuídas por 12 países (Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão Bioko, Ano Bom, São Tomé e Príncipe). O NPaOc Apa participou de 13 missões durante a Obangame Express 2017. O CC Mascoso disse que foi possível observar as técnicas utilizadas pelas nações parceiras. “Equipes brasileiras puderam estar a bordo dos navios de outras nacionalidades para observar os procedimentos executados.”
O Primeiro-Tenente Danilo Silveira Miranda, encarregado de sistemas do NPaOc Apa participou pela primeira vez da Obangame Express. “Pude testemunhar o quanto nossa Marinha contribui para prover a segurança na área do Golfo da Guiné, além de ter sido a primeira vez em que tive a oportunidade de visitar alguns países africanos pelos quais passamos, como Namíbia, São Tomé e Príncipe, Angola, Camarões, Gana e Senegal”, revelou.
Durante o exercício, os militares das nações participantes simulavam problemas reais, enfrentados naquela região para testar a capacidade de reação, explicou o 1º Ten Silveira. “Nosso navio simulou ser uma embarcação pesqueira sob suspeita de carregar drogas. O navio patrulha da Marinha da República do Congo efetuou o procedimento de interrogatório pelo rádio com o NPaOc Apa e logo depois iniciou a abordagem do simulado”, contou.
Os militares congoleses fizeram a abordagem a bordo do navio suspeito com o objetivo de procurar ilícitos, sem que a embarcação contraventora se desvencilhasse da situação. “Após encontrar supostos materiais ilegais, a embarcação seria apreendida, se fosse uma situação real”, explicou o 1º Ten Silveira. Mas, nessa fase da operação, a simulação é interrompida para que os procedimentos executados possam ser avaliados e ocorra a instrução propriamente dita, visando o aperfeiçoamento das ações.
Segundo o CC Moscoso, além da melhora técnico-profissional dos envolvidos no combate à pirataria, ao tráfico de drogas, tráfico de humanos, à pesca ilegal e ao tráfico de armas, o Obangame proporciona um estreitamento de laços entre nações. “Ele possibilita inclusive aumentar a visibilidade do Brasil não só no continente africano, mas perante outros países como EUA, Canadá e França”, reforçou.
A interação entre os militares acontece durante todo o exercício. “A bordo do NPaOc Apa participaram como observadores estrangeiros: dois militares da Namíbia, um dos EUA, um de Cabo Verde, cinco de Portugal e um de São Tomé e Príncipe”, disse o CC Moscoso. Na área de treinamento destinada à Marinha do Brasil, estavam também as marinhas de Angola e da República do Congo.
Importância do treinamento
A embarcação da Marinha do Brasil percorreu um total de 3.255 milhas náuticas durante os 11 dias de exercício e 12.611 milhas náuticas, considerando a missão completa, incluindo o deslocamento. Para o CC Moscoso, esse tipo de treinamento gera um aprendizado de todos os envolvidos nas operações de interdição de área marítima, além de contribuir para o adestramento das marinhas africanas, para que possam combater, com eficiência, as ameaças constantes na região do Golfo da Guiné.
O exercício realizado no golfo capacita os militares para atuar nas ações de patrulhamento também no Brasil. “Aqui não temos problemas de pirataria, tráfico de humanos e sequestros de embarcações. Mas atividades como pesca ilegal, tráfico de drogas e descaminho podem ocorrer em nossa Zona Econômica Exclusiva e o exercício contribui para o adestramento do nosso efetivo para o combate a esses ilícitos”, ressaltou o CC Moscoso. Um dos principais desafios deste tipo de missão é o aspecto logístico, por conta do tempo fora da base. “Na preparação do navio, por exemplo, foi necessário embarcar um contêiner frigorificado, para ampliar a capacidade de armazenagem de gêneros alimentícios”, completou.
Já para o 1º Ten Silveira a distância da família foi o mais difícil. “É muito bom estar no mar, em operação, mas não existe nada melhor do que o retorno ao lar com o sentimento do dever cumprido”, concluiu.
FONTE: Diálogo Américas