O Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha do Brasil está na etapa final do projeto.
Por Nelza Oliveira
A Marinha do Brasil, por meio do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), está na fase final de concepção do projeto básico para a construção do primeiro submarino com propulsão nuclear do país. Iniciado em 2008, o PROSUB colocará o país entre o seleto grupo no mundo, incluindo os Estados Unidos, daqueles que detêm a tecnologia para o desenvolvimento desse tipo de equipamento militar.
“A finalidade do projeto é o submarino com propulsão nuclear. Não é o submarino nuclear com armamentos nucleares. Ele tem maior velocidade e pode ficar debaixo d’água o tempo que quiser. A restrição que apresenta é a capacidade humana, limitada apenas pela resistência física e psicológica das tripulações e pelo estoque de mantimentos. Mesmo sem armamento nuclear, é uma arma dissuasória tremenda (para inibir ameaças hostis)”, comentou o Almirante de Esquadra Gilberto Max Roffé Hirschfeld, Coordenador-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN). “Os nossos recursos naturais são maravilhosos. O país e as Forças Armadas como um todo precisam ter meios dissuasórios. Ninguém quer entrar em guerra, pelo contrário. O submarino é uma arma dissuasória”, acrescentou.
O PROSUB integra a Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008, onde coube à Marinha o desenvolvimento e domínio da tecnologia nuclear para fins pacíficos. O projeto inclui ainda a construção de quatro submarinos convencionais, com propulsão diesel elétrica, e do PROSUB-EBN, com infraestrutura industrial e de apoio aos novos equipamentos militares.
O complexo industrial do PROSUB em Itaguaí
O PROSUB-EBN, que está sendo construído no Estaleiro e Base Naval (EBN) no município de Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro, impressiona pelas dimensões: 750 mil metros quadrados. Ele é formado pela Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM) para a fabricação e instalação das estruturas leves e atividades de equipagem. Ele consta de: dois estaleiros, um de construção e outro de manutenção, com dois píeres de 140 metros de extensão e duas docas com 140 metros, 13 cais e um elevador de navios (shiplift), com capacidade para suportar 8 mil toneladas; uma base naval dividida entre as áreas norte e sul, estando as duas partes interligadas por um túnel de 703 metros de comprimento e 14 metros de diâmetro; o Centro de Instrução e Adestramento para as tripulações dos submarinos; e o Complexo Radiológico, onde serão feitas as trocas do combustível nuclear.
Os quatros submarinos convencionais já estão em andamento e seguem como em uma linha de montagem, construídos simultaneamente, mas em diferentes níveis de execução.
Multiplicação do conhecimento
O acordo firmado com a Direção de Construções Navais e Serviços, empresa estatal francesa de projeto e construção naval, não inclui a área nuclear. A produção do combustível e o sistema de propulsão nuclear estão sendo desenvolvidos nas instalações do Centro Tecnológico da Marinha, em Iperó, município da região metropolitana de São Paulo. Inicialmente, foram enviados para a França 31 profissionais para treinamento teórico e prático por dois anos, entre 2010 e 2012. Para facilitar o recrutamento de recursos humanos de alto nível para o desenvolvimento do PROSUB, foi criada a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul).
“O PROSUB envolve um programa que a Marinha já desenvolve há 30 anos, que é o nuclear, e isso não se encontra facilmente no mercado; ou a gente o desenvolve ou a gente não o tem. Todo o programa nuclear tem um prazo de maturação muito grande. Por isso que tem que ser uma empresa estatal, estratégica, que pode ter solidez e continuidade”, declarou o Vice Almirante Ney Zanella dos Santos, Diretor-Presidente da Amazul. “Fazemos a gestão do conhecimento para que esse pessoal que foi para a França e treinou lá, volte para o Brasil e multiplique o seu conhecimento. Hoje já estão trabalhando no projeto cerca de 250 engenheiros e a ideia é que esse número suba. Podemos chegar até cerca de 500 na fase auge do projeto em construção”, completou.
O Alte Esq Max explicou que o PROSUB se baseia no tripé absorção de tecnologia, capacitação de pessoal e nacionalização. A participação da indústria brasileira está no uso da tecnologia existente no país para a construção da infraestrutura industrial (materiais, sistemas, equipamentos, máquinas e insumos) e na capacitação das empresas nacionais para que se tornem aptas a serem fornecedoras autônomas e independentes em projetos futuros.
“A Estratégia Nacional de Defesa diz que a Marinha deve estar apta para projetar e construir submarinos convencionais e de propulsão nuclear, com ou sem parcerias com outros Estados. A palavra projetar é o que faz a diferença de tudo. A Marinha já construiu submarinos convencionais, mas nunca os projetou”, disse o Alte Esq Max. “Vai ser um avanço, um conhecimento, que nós não podemos perder. O tripé não é fácil, mas é um programa que só traz benefícios para o país, na respeitabilidade e na credibilidade para o futuro, para aqueles que vêm depois de nós. É um conhecimento tecnológico sensacional, que gera muitos empregos, nacionaliza e dá um conhecimento para as empresas”, ressaltou. “Temos a previsão de lançamento do primeiro submarino convencional em julho de 2018, com entrega em 2020. O segundo submarino seria entregue em 2021, o terceiro em 2022 e o quarto em 2023. O nosso objetivo é ter o submarino com propulsão nuclear em 2027”, finalizou.
FONTE: Diálogo Américas