Por Mariano Germán Videla Solá
Com o objetivo de recuperar o funcionamento de um dos componentes que compõem o conceito de Poder Naval Integrado, a Marinha Argentina (ARA) avalia a incorporação de submarinos usados no curto prazo. Esta opção foi apresentada pelo Chefe do Estado-Maior da Marinha, Contra-Almirante Carlos María Allievi, que respondeu à consulta feita pelo Zona Militar durante entrevista exclusiva sobre a possibilidade de aquisição de unidades usadas, atualmente em serviço.
Esta modalidade, conhecida como transferência a quente, permitiria em curto prazo recuperar a operação do Comando da Força Submarina com unidades próprias, considerando que atualmente o submarino ARA “Salta” é a única unidade da Marinha Argentina que oficia unidade de treinamento, somado aos simuladores da Escola de Submarinos da Base Naval de Mar del Plata, e à comissão de submarinistas enviada ao Peru para realizar navegações em unidades da Marinha, cumprindo função operacional na tripulação.
Embora o principal projeto de médio/longo prazo seja a formulação de um programa de aquisição de novas unidades, os prazos de construção de submarinos exigem um tempo de aproximadamente sete anos a partir do momento da assinatura dos contratos, tempos aos quais devem acrescentar a formação das tripulações, bem como a adaptação da infra-estrutura à nova plataforma.
Nesse sentido, o Contra-Almirante Allievi fez uma analogia com os projetos mais ambiciosos da Marinha Argentina nos últimos 50 anos, como os submarinos TR 1700 e o programa de destróieres e corvetas MEKO. Neste sentido, afirmou que “vou esclarecer porque estamos a falar de médio e longo prazo, porque se fosse assinado hoje o contrato para incorporar um desses dois submarinos, o primeiro novo exemplar chegaria dentro de 7 anos, não tem um submarino pronto que eu vou, compro e incorporo. Assim como aconteceu com o TR 1700, o contrato foi assinado dez anos antes. Ou como o MEKO ou o Super Etendard. Então, em 7 anos, o que acrescentaria mais 7 anos, num total de 14 anos sem submarinos, por isso pensamos no curto prazo. E o terceiro submarino, porque o plano contempla 3 unidades, seria incorporado no ano 10. Entre o ano 7 e o 10 teríamos os três, mas especificamente até esse sétimo ano, teríamos um intervalo de 14 anos se assinarmos esse contrato hoje”
Fechar a lacuna em que o Comando de Submarinos ficará sem unidades operacionais é uma das prioridades da atual liderança da Marinha. Em particular, a análise recai sobre os países que operam submarinos diesel-elétricos com vida útil de pelo menos 10 ou 15 anos.
De referir que a última incorporação de submarinos usados ocorreu em 1971 com os submarinos ARA “Santa Fe” (S-21) (Ex USS Catfish) e ARA “Santiago del Estero” (S-22) (Ex USS Chivo ) pertencente à classe Guppy da Marinha dos Estados Unidos. Esta opção também foi escolhida por vários países do bloco ocidental, muitos deles tendo pela primeira vez submarinos reais por possuírem um sistema Snorkel e diversas melhorias aplicadas aos submarinos da classe Balao.
Embora durante os últimos anos da gestão anterior tenha havido interesse em incorporar pelo menos um submarino da classe Tupí da Marinha do Brasil, unidades que estão em desativação (até hoje o Tamoio (S-31), Timbira (S-32) e Tapajó (S-33) já foram descomissionados), enquanto os submarinos Tupi (S-30) e Tikuna (S-34) ainda estão em serviço, outra opção que está sendo avaliada atualmente recai sobre os submarinos da classe Ula, de origem norueguesa, que começou a ser analisado há pelo menos 5 anos.
Estas unidades foram construídas na Alemanha no final da década de 1980 e início da década de 1990 (1987-1992) e desenvolvidas para a Marinha Real Norueguesa, especialmente concebidas para operações costeiras. De pequeno porte (59 metros de comprimento, 1.040 toneladas de deslocamento e 1.150 toneladas de deslocamento em imersão) seriam unidades com menor projeção para as últimas gerações de submarinos argentinos (U-209 e TR-1700), sendo este último especialmente desenhado em busca de considerável autonomia (70 dias) e velocidade de mergulho (25 nós na superfície).
Da mesma forma, outro aspecto que deve ser considerado é a baixa disponibilidade de unidades diesel-elétricas para serem transferidas como unidades usadas, dado que estas unidades, com uma vida útil média próxima de 40 anos graças a amplas modernizações de meia-idade (MLU ou Mid Life Upgrade) levam ao término do ciclo operacional dentro da mesma força que o recebeu originalmente.
Não obstante, não deve se perder de vista o objetivo a longo prazo para incorporar unidades novas, as quais atualmente recaem sobre as ofertas efetuadas pelo Naval Group para submarinos Scorpène, e a da ThyssenKrupp Marine Systems (TKMS) pelo Type 209 NG ( Nova geração).
Esta decisão exige um forte empenho do Ministério da Defesa, tendo em conta o seu custo, e o seu considerável impacto no planejamento da Marinha nas próximas décadas, pois a vontade política emana da presidência da Nação, que terá a última palavra para avançar ou não nesses projetos.
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN
Nota do Editor: Os 3 submarinos da classe Tupi desativados pela Marinha do Brasil, podem ser usados após um PMG por pelo menos 10 anos, o que se encaixaria no pensamento do almirante argentino. Quanto ao submarino Scorpène novo oferecido pelo Naval Group, todo o expertise adquirido pela ICN-Itaguaí na construção dos 4 Scorpènes brasileiros, poderia ser um fator facilitador para que o prazo de 7 anos talvez fosse reduzido, e assim, a Armada Argentina não levaria tanto tempo para recompor sua capacidade submarina. Sem contar na possibilidade de intercâmbio entre os engenheiros brasileiros e argentinos para que os futuros submarinos argentinos tenham um ciclo de vida elevado.
FONTE: Zona Militar