Por Juan Carlos Bow
Não importa a origem do conflito armado, seja religioso, econômico ou político, em quase todos – segundo a ONU – se comete o mesmo crime: o recrutamento de crianças como soldados. O recrudescimento das guerras na República Centro-Africana e no Sudão do Sul revelou que tanto os grupos rebeldes como as milícias pró-governo usam meninos como combatentes e meninas como escravas sexuais.
Organismos internacionais como o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Anistia Internacional calculam que há hoje cerca de 20 países onde crianças são sistematicamente recrutadas para serem soldados. Eles se concentram na África e na Ásia – a exceção é a Colômbia. No total, o número de menores de idade participando de guerras é estimado em 300 mil.
No caso do conflito centro-africano, o Unicef calcula que mais de seis mil meninos já tenham sido recrutados. Nesse país, os bandos em disputa são a coalizão rebelde Seleka, integrada principalmente por muçulmanos, e as milícias de autodefesa cristãs chamadas Antibalaka (antifacões em sango, a língua local).
Carmen Molina Muñoz, diretora de cooperação e emergências do Unicef na Espanha, afirma que na RCA não há controle populacional, o que faz com que a cifra de menores combatentes possa ser ainda maior:
– Neste país existe um Estado falido, e isso facilita que os múltiplos grupos armados recrutem crianças sem controle.
Entre esses grupos, o Unicef identificou o Exército de Resistência do Senhor, a Convenção de Patriotas para a Justiça e a Paz Fundamental, a União das Forças Democráticas para a Unidade, estas últimas integrantes da coalizão Seleka.
A forma de recrutar as crianças é similar à de quase todos os conflitos: são sequestrados em suas escolas ou aldeias. Entretanto, há casos de menores que se voluntariam, ou acreditando que podem sair da extrema pobreza ou vingar a morte de algum parente.
O Unicef informou que, na semana passada, foram liberados em Bangui, capital da República Centro-Africana, 23 adolescentes de entre 14 e 17 anos que haviam sido recrutados por grupos armados. Seis deles eram meninas.
Desde maio de 2013, o Unicef e seus aliados liberaram 229 menores de idade vinculados às forças rebeldes ou milícias da RCA.
FONTE: O Globo