O jornalista americano Glenn Greenwald afirmou ontem que a espionagem realizada pelo governo dos Estados Unidos contra políticos, empresas e setores do governo no Brasil e outros países tem objetivos comerciais e de dominação política. Greenwald prestou depoimento à CPI da Espionagem, no Senado. Também ontem, o governo anunciou que deverá sediar, em 2014, uma conferência internacional para discutir a gestão da internet.
Segundo Greenwald, o governo americano mente quando diz que o sistema de espionagem é usado apenas contra eventuais ameaças terroristas. O jornalista também acusou os governos da Inglaterra e do Canadá de participação na bisbilhotagem.
— Posso reafirmar que o objetivo principal não é o sistema de segurança nacional, sobre terrorismo. É para aumentar o poder do governo americano. O outro é a vantagem econômica — disse Greenwald.
O jornalista foi chamado para prestar esclarecimentos sobre reportagens que escreveu para O GLOBO, TV Globo e para o jornal inglês “The Guardian” sobre a estrutura de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) sobre setores estratégicos do governo brasileiro. O companheiro de Greenwald, David Miranda, também foi chamado para prestar depoimento. Ele passou nove horas preso no aeroporto de Heathrow, em Londres. Ele foi preso quando tentava voltar de viagem da Alemanha ao Brasil com documentos fornecidos por Edward Snowden, ex-agente da NSA. Miranda disse que a reação do Itamaraty foi insuficiente.
Encontro previsto para Brasil
Durante o depoimento, o senador Pedro Taques (PDT-MT) e o relator do pedido, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), pediram que o jornalista entregasse todos os documentos de que dispõe sobre a espionagem que ainda não foram divulgados. Greenwald se negou a atender o pedido dos parlamentares. Ele explicou que todos os dados repassados a ele por Snowden serão devidamente divulgados.
— A liberdade de imprensa não é só para publicar o que deve ser publicado. É para a imprensa ficar separada do governo — disse Greenwald.
Já a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o presidente da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), Fadi Chehadé. Os dois acertaram a realização de uma conferência internacional no Brasil, no próximo ano, para discutir a gestão da internet. Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que participou do encontro, a presidente sugeriu que seja no mês de abril, no Rio.
— A presidente brasileira concordou com a proposta de realizar uma reunião de cúpula de natureza global, aqui no Brasil, para a qual convidaremos líderes globais de diferentes partes interessadas nessa agenda — afirmou Chehadé.
O presidente da ICANN, organização americana que regula a internet, disse que veio ao Brasil após o discurso da presidente na abertura da Assembleia Geral da ONU.
FONTE: O Globo – Jailton de Carvalho e Luiza Damé