Jaques Wagner, ministro da Defesa, afirmou que “não acredita que em médio prazo a questão vá afetar o negócio”
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, tentou baixar o tom da polêmica dizendo que “não acredita que em médio prazo a questão vá afetar o negócio”. De acordo com o ministro, “já houve uma manifestação da área militar da Indonésia apontando para a separação, que nunca é total, da relação entre as nossas forças armadas e as forças da Indonésia” sugerindo que contratos comerciais não seriam atingidos por questões políticas. “Não há uma crise instalada. É um momento de trauma, mas isso vai ser superado”, afirmou.
O Itamaraty tem se recusado a comentar as declarações do presidente da Indonésia, Joko Widodo, sobre o abalo nas relações entre os dois países, e do vice-presidente, Jusuf Kalla, que falou na possibilidade de cancelar a compra. No governo brasileiro, existe a compreensão de que as declarações são para o público interno, uma amostra de que o país está reagindo ao que soou como uma afronta diplomática, com a negativa da presidente Dilma Rousseff em receber as credenciais do embaixador indonésio.
Apesar da visão otimista do governo brasileiro, a questão é muito delicada. A Embraer negociou um contrato com a Indonésia para a venda de 16 aviões de treinamento e ataque Super Tucano em dois lotes. Oito já foram entregues e outros oito ainda não estariam fechados e a venda pode não se concretizar se o governo indonésio resolver levar adiante a ameaça. O problema pode ainda crescer, já que a Indonésia é um país que tem grande influência na região e a negociação estava sendo tratada como uma mola propulsora de vários negócios, em diferentes segmentos.
Após insistir que não há crise entre os dois países, o ministro da Defesa reconheceu que “foi uma coincidência que não foi boa logo depois do episódio (fuzilamento do brasileiro) ter apresentação de um novo embaixador”. E emendou: “Mas acho que isso logo vai ser superado”.
Ainda não há previsão da volta do embaixador indonésio ao Brasil. A Indonésia estipulou como condição a marcação de uma nova data para apresentação das credenciais, o que dificilmente acontecerá antes do próximo semestre – o governo brasileiro não costuma fazer cerimônias individuais para os embaixadores. Além disso, a própria presidente condicionou a recepção a uma solução para o caso de Rodrigo Gularte, condenado à morte por tráfico de drogas. Até agora não houve resposta sobre o pedido de transferência do brasileiro para um hospital psiquiátrico. Gularte foi diagnosticado com esquizofrenia.
FONTE: Época