General Villas Bôas – “Povo não quer os militares de volta”

Por Ivanildo Sampaio

Na opinião do general Eduardo Villas Bôas, o que as pessoas querem são valores atribuídos aos militares, como ética, honestidade e compromisso com a Nação.

“O povo não quer os militares de volta. Vivemos um regime democrático, no qual as instituições funcionam normalmente. O que povo quer, na realidade, são os valores que ele atribui aos militares: ética, honestidade, honradez, compromisso com a Nação”. As colocações foram feitas ontem, na sede do Comando Militar do Nordeste, pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército Brasileiro, cujo efetivo hoje soma 217 mil homens e cujo cargo corresponde ao de antigo Ministro da Guerra e, depois, ao de Ministro do Exército. Em visita protocolar, segundo ele, “para acompanhar alguns projetos que são desenvolvidos na área de atuação do Comando Militar do Nordeste, entre os quais a Operação Carro-Pipa”, o general Villas Bôas mostrou-se preocupado com a grave crise política e econômica que paralisa e Nação, e cujos efeitos são sentidos também na área militar. Seguem algumas colocações feitas pelo Comandante do Exército, gaúcho da cidade de Cruz Alta, mas descende de tradicional família sergipana.

CORTES

“O Exército Brasileiro desenvolve sete projetos estratégicos, quase todos de médio prazo, e que na revisão orçamentária sofreram este ano cortes da ordem de 40% dos investimentos previstos. Todos esses projetos são relevantes, mas um deles tem característica especial: é o Sisfron, ou Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira”, ressaltou o general Villas Bôas, destacando a vulnerabilidade que o Brasil enfrenta, quando faz fronteira com três países produtores de coca e um plantador de maconha, e vê crescer, a cada dia, o consumo de cocaína em sua população.

Além disso, tem imensas áreas não integradas e não povoadas, comparáveis, em extensão, apenas à China e à União Soviética. Mostra-se contrário à descriminalização das drogas, em análise no Supremo Tribunal Federal: “Se essa decisão for aprovada, temos que pensar como será adotada no Exército. Não consigo imaginar um militar portando arma e usando drogas”. Os outros projetos que também sofreram cortes orçamentários são o Sistema Integrado de Estruturas Estratégicas Terrestres, o de Defesa Cibernética, o Projeto Guarani, Defesa Antiaérea, Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre, Astros 2000 e a Transformação do Exército Brasileiro.

TRANSPOSIÇÃO

Antes de chegar ao Recife, o general Villas Bôas sobrevoou o Rio São Francisco e pôde ver as obras de transposição que estão sendo realizadas, embora com atrasos consideráveis no seu cronograma. Para ele, “trata-se de um projeto que vai mudar consideravelmente as condições de vida dos sertanejos e que dará novo impulso à economia regional”. Lembrou que desde o século 19, com a grande seca de 1870, já havia uma preocupação do governo central com a migração dos nordestinos, e que a transposição das águas do rio pode ser a redenção de toda uma região.

CARRO-PIPA

O Comando Militar do Nordeste está à frente da Operação Carro-Pipa, que cobre hoje 831 municípios, beneficia 3.800 mil habitantes e tem 6.646 carros-pipa contratados. Lembra o general Villas Bôas que o programa atinge municípios em situação de emergência e que a crise de água é tão grave que atine hoje até mesmo municípios de médio porte, entre os quais a cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte.

CRISE POLÍTICA

O agravamento da crise ética, política e econômica, no seu entender, é um fato que preocupa a sociedade como um todo e da qual o Exército não está imune: se chegarmos a um quando de convulsão social, por dever constitucional as Forças Armadas serão obrigadas a intervir. O general fez questão de ressaltar que talvez não tenha ficado clara a reportagem publicada pela Folha de S.Paulo quando abordou o tema. Disse ele: “eu falei que o Exército poderá ir às ruas, sim, mas para garantir a segurança pública, pois essa é uma das suas obrigações constitucionais”. Lembrou que a tropa “já foi para as ruas várias vezes, durante a realização da Copa do Mundo, na Jornada da Juventude, na Rio Mais 20” e estará novamente presente durante as Olimpíadas, “porque, apesar de o Brasil não ter tradição de ações terroristas, as Olimpíadas têm”. Ao final, demonstrou sua preocupação com as ações políticas do MST, “que já são uma questão de segurança pública”, fez elogios ao ministro da Defesa, Aldo Rebelo, um militante do PCdoB que “identifica-se plenamente com as Forças Armadas, além de ser um profundo conhecedor dos problemas militares”.

FONTE: Jornal do Commercio

Sair da versão mobile