Por Marina Gonçalves
Recentemente seu helicóptero foi alvejado. Esses ataques são comuns?
Às vezes acontece de atirarem no nosso helicóptero, já que voamos baixo para observação. Não é tão fácil, mas não foi a primeira vez. O que aconteceu é que agora atingiram nosso tanque de combustível, que começou a vazar. Neste tipo de ambiente de conflito faz parte.
As operações militares contra grupos armados devem se intensificar?
Temos um volume próprio de operações e vamos manter esse ritmo operacional, não será intensificado apenas por causa desse incidente. Na verdade, o incidente foi um sinal de que estamos chegando perto ou ao menos quebrando o sistema de presença do grupo na área, interrompendo suas atividades ilegais. Sinal que estamos chegando mais perto do problema.
Qual são as maiores dificuldades da missão?
É um país com dimensões muito grandes, é o nosso primeiro problema. Há também dificuldades de movimentação, já que poucas estradas podem ser utilizadas e quase todos os deslocamentos têm que ser aéreos. A violência dos grupos armados e a complexidade do problema, ligado ao passado histórico da região e a seus grupos étnicos, são outro fator. Tudo isso acaba sendo explorado por políticos e chefes de grupo armados. E há ainda os interesses econômicos: é um país de uma riqueza imensa, com grande fertilidade de solo e minas. Tudo isso exalta os interesses.
A missão tem avançado?
Os avanços são lentos, mas ao longo do tempo é visível. Goma, que foi liberada do cerco do (grupo rebelde) M23, explodiu com um desenvolvimento enorme. Vemos construções de ruas, avenidas, o aumento de pessoas. Já são um milhão de habitantes. Quando não temos guerra, a velocidade de desenvolvimento é incrível.
Sua missão acaba quando o mandato da ONU for renovado?
Por enquanto vou continuar na minha função. Já fui adido militar na embaixada (do Brasil) na Rússia, comandei as tropas das ONU no Haiti, de 2007 a 2009. Agora completo dois anos aqui. Sem duvida é o maior desafio da minha carreira.
FONTE: O Globo