“A Marinha Real da Inglaterra (Royal Navy – RN), encomendou novas fragatas de última geração (Type 26) para atender aos requisitos da futura guerra naval, mas enquanto o aguarda a chegada deles, a classe Duke Type 23 continua sendo o ‘cavalo de batalha’ da frota e embora sejam projetados principalmente para a guerra antissubmarina, eles atuam em uma função de uso geral que hoje inclui destacamentos permanentes com formações da OTAN, com ações antiterroristas no mar e operações na linha de frente no Golfo.”
Quando nos aproximamos do final do ano, a RN possui fragatas Type 23 implantadas em exercícios na Escócia, em stand by acompanhando navios de guerra russos que transitam pelo canal inglês e dois navios da classe Duke, o HMS Montrose e HMS Kent, implantados no Golfo onde fazem parte de uma força-tarefa de escolta que protege embarcações mercantes do Reino Unido usando rotas marítimas internacionais através do Estreito de Ormuz, após uma série de incidentes com o Irã que continuam a ameaçar o tráfego marítimo.
A substituição das fragatas Type 23 por Type 26, não ocorrerá por pelo menos mais três anos, na melhor das hipóteses. Ao mesmo tempo, a Type 31e (o ‘e’ significa modelo de exportação) enfrentou atrasos significativos, mas em setembro, o Ministério da Defesa (MoD), anunciou que o contrato para cinco fragatas da Type 31 havia sido concedido à Babcock. Há uma preocupação de que a frota possa enfrentar uma pequena lacuna de capacidade enquanto aguarda os novos navios de guerra, mas uma grande revisão de todos as Type 23 está em andamento para compensar quaisquer desafios.
As primeiras Type 23 entraram em serviço na década de 1990 e entregaram uma revolução em design e capacidade, que continua a servir a frota. Agora, enquanto a RN se prepara para uma nova fase de sua história com a chegada dos porta aviões classe Queen Elizabeth, as Type 23 fornecerão escolta e, na linguagem naval, “montará guarda” ao lado dos novos navios de guerra. Sua tarefa será manter os navios afastados dos porta aviões, monitorar a área em busca de submarinos e estar pronto para combater um ataque suicida por um pequeno barco ou um ataque de míssil de um avião. Para garantir que eles estejam prontos para esse papel (e capazes de servir por mais 10 a 15 anos), esses cavalos de batalha envelhecidos, que acumularam milhões de milhas naúticas, estão sendo revisados para prolongar seu tempo em serviço.
A revisão, chamada de Life Extension program, está custando £ 35 milhões por navio e está ocorrendo para garantir que a frota possa sustentar as operações enquanto aguardam a chegada das fragatas Type 26 e Type 31. O programa de trabalho começou há vários anos, com as fragatas sendo escalonadas durante a atualização em Devonport. Ele proporcionará grandes melhorias nas máquinas, bem como novas armas e sistemas para fornecer às fragatas mais uma década ou mais de serviço operacional. Porém, em uma Royal Navy em evolução, que enfrenta crescentes compromissos globais, e a classe Duke está enfrentando sérios desafios para atender à demanda, pois a esquadra aguarda a chegada da Type 26.
No futuro, pelo menos duas Type 23 se juntarão ao GT de porta aviões em implantações ao lado de um destróier Type 45 e um submarino de ataque nuclear. A primeira implantação operacional da força de porta aviões ocorrerá em 2021, quando o HMS Queen Elizabeth partirá em sua primeira implantação operacional.
A Type 23 é um projeto baseado na experiência dos navios de guerra da RN na Guerra das Malvinas e se beneficiou de melhorias significativas nos sistemas de comando de computadores e nas capacidades de armas. Mas, além do trabalho vital de extensão da vida, a frota continua sofrendo com a escassez de mão-de-obra, o que afetou o número de mecânicos e engenheiros elétricos necessários para equipar os navios de guerra da classe Duke, geralmente resultando em embarcações posicionadas em espera. Segundo estimativas publicadas pela Royal Navy, prevê-se que a HMS St Albans seja a última a se aposentar em 2036.
JUSTIFICATIVA
Os engenheiros navais conceberam a Type 23 na década de 1970, com o papel principal de combater os crescentes submarinos russos que estavam operando no Atlântico Norte na época. Havia uma preocupação séria de que, em caso de guerra, o Kremlin apressasse os submarinos através do que é conhecido como ‘Iceland Gap’, uma área entre a Groenlândia, Islândia e Reino Unido, também conhecida como GIUK. Na época, a marinha soviética estava muito baseada em operações submarinas em águas profundas e estava construindo uma frota formidável de SSNs, que poderiam atacar o Reino Unido e os Estados Unidos. Na década de 1970, a Marinha Real operou as fragatas anti-submarinas da classe Leander, que eram consideradas boas, mas precisavam ser substituídas. A classe Amazon (Type 21) chegou em meados da década de 1970, mas era uma fragata de uso geral e contava com seu helicóptero para fornecer um papel anti-submarino.
A nova fragata anti-submarino, a Type 23, seria crucial na caça ao submarino de ataque de Moscou, mas quando a classe Duke entrou em serviço, a Guerra Fria havia terminado. As lições aprendidas com a Guerra das Malvinas viram o novo Seawolf de lançamento vertical (VLS) para os navios, bem como sofisticadas contra-medidas para compensar ataques de mísseis, como o Exocet. A Type 23 também recebeu um canhão de 4,5 polegadas, algo que a fragata Broadsword (Type 22) anterior não possuía (4 fragatas Type 22 Batch 3 receberam um canhão de 4,5 polegadas).
A primeira fragata Tipo 23, HMS Norfolk, entrou em serviço em 1989 e foi a primeira de 16 navios de guerra da classe Duke, que inicialmente substituíram a classe Leander. Mais tarde, a Type 23 tornou-se a única classe de fragatas da frota quando a classe Amazon Type 21 foi aposentada e vendida para o Paquistão enquanto as fragatas da classe Broadsword Type 22 foi colocada na Revisão Estratégica de Defesa de 1998. Algumas Type 22 foram vendidas para o Chile, enquanto outras foram descartados.
As fragatas Type 23, que custaram cerca de £ 130 milhões cada, enfrentaram poucos problemas nos primeiros anos e foram considerados excelentes navios. Porém, as medidas de redução de custos no Ministério da Defesa resultaram rapidamente na necessidade de cortes e, em 1990, o primeiro da classe HMS Norfolk foi vendido ao Chile, com o HMS Marlborough e o HMS Grafton também sendo vendidos em 1991 e 1997.
O PROGRAMA DE EXTENSÃO DA VIDA – LIFEX
As fragatas classe Duke com suas 4.900 toneladas e uma tripulação de 185 homens e mulheres, tem 133 metros de comprimento, uma boca de 16,1 metros e um calado de 7,3 metros. No comissionamento, os navios operavam com um helicóptero Lynx, mas agora todos carregam o Wildcat. A revisão da Life Extension (LIFEX) inclui a substituição dos sistemas de armas atuais pelo Sea Ceptor, um míssil que pode atingir vários alvos e usado para proteger o porta aviões, embora nem todas as 13 Dukes possuam o sistema.
Uma nova versão do Artisan 3D com estabilização eletrônica será instalada e os navios de guerra receberão uma atualização do PGMU (Power Generation Machinery Upgrade), que envolve a substituição dos quatro principais grupos geradores a diesel de propulsão. O programa LIFEX está sendo realizado em Devonport e, em média, leva de 18 meses à dois anos. Ironicamente, o LIFEX chega em um momento em que a RN está lutando para manter seus navios, mas a taxa de reforma significa que o último refit deve estar completo até 2021. No entanto, algumas Type 23 que passaram por uma revisão precoce não receberam todo o maquinário, e pode ser necessário que reornem a Devonport para revisão do mecanismo.
Os navios atualmente em refit incluem o HMS Richmond, que deve voltar à frota no final de 2019. O HMS Lancaster, rebocado de Portsmouth à Plymouth para iniciar seu refit, está em processo de reinserção na frota enquanto o HMS Portland também deve voltar à frota ainda este ano. Atualmente, o HMS Somerset está em Devonport, aguardando refit e deve voltar a frota por volta de 2020.
Enquanto isso, o HMS Iron Duke, um dos Dukes mais velhos que estava em ‘prontidão reduzida’ em Portsmouth depois de sua última comissão escoltando o Queen Elizabeth durante os testes no mar de 2017, foi rebocado para Plymouth em 2018 e está passando por seu refit. O HMS St Albans, deve começar seu refit ainda este ano. O HMS Kent concluiu seu refit e aguarda sua atualização de motor, estando atualmente implantado no Golfo. O HMS Northumberland também está ativa com a frota. Enquanto isso, o HMS Sutherland, participou recentemente do Exercise Griffin Strike, a fase marítima do Exercise Joint Warrior na costa oeste da Escócia. Finalmente, o HMS Monmouth, Montrose e Argyll foram submetidos a todos os seus refits, (embora o Monmouth ainda deva receber o Sea Ceptor) e estão todos implantados.
O FUTURO
As informações mais recentes sugerem que a frota tem seis navios de guerra mobilizados ou prontos para o desdobramento, um em fase final ou em fase final de FOST (Flag Oficer Sea Training) e seis em refit, com parte desse número quase pronta para retornar a frota. Ironicamente, a extensão da vida em que os navios foram removidos da frota não poderia ter acontecido em um momento melhor, já que a Marinha Real continua a enfrentar com a de pessoal e tem lutado para equipar alguns dos Type 23 nos últimos anos. O nível de tripulação atual é de aproximandamente 30.000 pessoas e teve uma enorme queda a partir da década de 1970. De acordo com Hansard, o registro oficial de procedimentos na Câmara dos Comuns, a mão-de-obra relatada estava um pouco abaixo em 1970. Na época, era listado em 87.500, uma força que para os almirantes de hoje seria bem vinda. Ao mesmo tempo, a frota tinha 26 fragatas da classe Leander em serviço e oito fragatas Type 21 classe Amazon entrando em serviço, uma frota forte, que mais tarde se juntou a classe Broadsword Type 22.
Mas enquanto a década de 1970 se concentrava principalmente no combate às ameaças soviéticas e na preparação para a guerra, nas décadas passadas, a frota era bastante empregada em operações. A guerra das Falklands, a primeira Guerra do Golfo, a Crise dos Balcãs e Serra Leoa, bem como inúmeras missões de evacuação, mantiveram a Royal Navy constantemente à disposição, enquanto combatiam cortes de pessoal. A tensão atual no Golfo e a necessidade de proteger as rotas internacionais em áreas como o Mar da China Meridional garantirão que a demanda pelas Type 23 continue em ritmo acelerado.
FONTE: World of Warships Magazine
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN