Por Vinicius Neder
Em palestra em seminário no Rio, o general disse que 43% da população apoiaria uma ação desse tipo por parte dos militares, segundo pesquisas de opinião. Não explicou, porém, a quais sondagens se referia.
“Isso é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no País. Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso hoje, mas interpreto aí alguma identificação da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam”, afirmou Villas Boas.
O militar deu palestra no seminário Brasil: imperativo renascer, promovido pela Insight Comunicação em auditório do Tribunal de Justiça do Rio.
Sem citar as eleições deste ano, o comandante do Exército disse também que aqueles valores que, segundo ele, as Forças Armadas expressam estão se perdendo. Para o militar, a sociedade brasileira corre o risco de fragmentação. “Se não uma fragmentação territorial, já está a caminho uma fragmentação social”, disse.
O general associou a “fragmentação social” à incorporação pela sociedade brasileira, de forma “passiva”, do que chamou de “ideologias”. “Incorporamos tanto ideologias políticas quanto ideologias sociais que estão nos desfigurando como Nação e alterando nossa identidade”, afirmou. Segundo Villas Boas, no Brasil de hoje, “todos os problemas se tornam ideologia”. E, quando o foco fica nas ideologias, os resultados e a busca de soluções ficam de lado, afirmou.
Assim, nas palavras do general, quanto mais “ambientalismo”, mais problemas ambientais; quanto mais “indigenismo”, mais os “coitados dos nossos índios” ficam abandonados; quanto mais “luta contra o preconceito racial”, mais “racialismo”; quanto mais “se discutem as questões de gênero, mais preconceito nessa área se verifica”.
“Por incrível que pareça, até mesmo, está surgindo, no nosso País, intolerância religiosa”, disse Villas Boas.
Para o comandante do Exército, por trás “disso tudo” está a falta de “disciplina social” na sociedade brasileira. E a “falta de limites”, segundo Villas Boas.
Ela seria relacionada, em sua opinião, a “carências da educação” e à perda da “presunção da autoridade”, não só dos agentes públicos, mas até mesmo dos professores em sala de aula. “Essa falta de limites está fazendo com que a nossa sociedade vá se desagregando paulatinamente”, afirmou Villas Boas.
Diferenças
Villas Boas já citou a possibilidade de intervenção militar em pronunciamentos anteriores. Em dezembro de 2016, em entrevista a Eliane Cantanhêde no Estado, o militar chamou de “tresloucados” e “malucos” os defensores de um golpe dos militares. Segundo ele, essas pessoas procuravam o Exército para pedir que interviesse.
De acordo com o comandante, isso teria “chance zero” de acontecer. “Essas coisas são como uma panela de pressão. Às vezes, basta um tresloucado desses tomar uma atitude insana para desencadear uma reação em cadeia”, afirmou.
Na ocasião, Villas Boas também lembrou que há temas mais prosaicos do que a crise política, mas com igual potencial de inflamar o público militar, como os soldos e a Previdência. Em sua conta no Twitter, o comandante do Exército defendeu, no sábado passado, as declarações feitas ao Estado pelo comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que, em entrevista, defendeu a volta do auxílio-moradia para militares.
Identificação
“Isso (apoio à intervenção) é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no País. Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso hoje, mas interpreto aí alguma identificação da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam.” disse Eduardo Villas Boas
Para lembrar
Em setembro do ano passado, o general do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão falou três vezes em intervenção militar em palestra em Brasília. “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou nós teremos de impor isso. Os Poderes terão de buscar uma solução, se não conseguirem, chegará a hora em que teremos de impor uma solução”, disse.
Apesar da repercussão negativa, a Defesa e o Exército acertaram que não haveria punição ao oficial. Em dezembro, Mourão voltou a defender uma intervenção militar, criticou o governo Michel Temer e foi destituído do cargo de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército.
FONTE: Estado de São Paulo