Entrevista com o Coordenador de Defesa de Área em Salvador sobre a Copa das Confederações

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CCSM – Durante a Copa das Confederações, Salvador será a única cidade sede onde a Marinha atuará como Coordenadora de Defesa de Área. O que isso significa na prática?

VA Monteiro Dias – Significa que, neste evento, o Comando do 2º Distrito Naval (Com2ºDN) estará coordenando e liderando uma operação conjunta de ações de defesa na área de Salvador, que contará com elementos operativos da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira.

Para tanto, foi ativado um Estado-Maior Conjunto, chefiado por um Coronel do Exército Brasileiro e composto por Oficiais das três Forças Armadas, ao qual estarão integradas uma Força Naval, uma Força Terrestre e uma Força Aérea Componentes, além de um Centro de Coordenação Tático Integrado.

A operação será conduzida a partir de um Centro de Coordenação de Defesa de Área (CCDA), dotado de sofisticadas ferramentas de tecnologia da informação e comunicação. Instalado na sede do Com2ºDN, o CCDA Salvador será interligado aos centros de comando e controle das Forças Componentes e, no que se refere à inteligência, segurança pública e defesa civil, às diversas agências federais, estaduais e municipais que atuam na área.

Dessa forma, a nossa expectativa é que o Com2ºDN se capacite para contribuir como referência na coordenação de operações de defesa para grandes eventos, dentro da Marinha.

CCSM – Como é a interlocução entre um Coordenador de Defesa de Área e a estrutura do Ministério da Defesa? E com as áreas operativas da MB, no local?

VA Monteiro Dias – Como Coordenador de Defesa de Área, minha interlocução tem sido com o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, órgão do Ministério da Defesa, e com o Comando de Operações Navais da Marinha.

O ComOpNav nos apóia e acompanha de perto os preparativos para a Copa das Confederações 2013 e para os próximos grandes eventos que acontecerão em Salvador, que serão a Copa do Mundo de 2014 e os jogos de futebol das Olimpíadas 2016.

Em relação aos meios navais e de fuzileiros navais na área de Salvador, tanto eu como meu Estado-Maior temos mantido um contato permanente e direto com os Comandantes, a fim de mantê-los informados do que foi planejado para a Copa das Confederações, bem como para obter deles informações essenciais, que só quem está na linha de frente das operações é capaz de fornecer.

Outra modalidade de interlocução se dá com as tripulações e tropas de toda a área distrital, que atuarão direta ou indiretamente na operação, por meio de palestras, notas em boletins e outros canais de comunicação interna.

Nossa intenção é que todos estejam conscientes da dimensão e importância da missão que assumimos na Copa das Confederações e da relevância que o bom trabalho realizado terá para a imagem da MB e dos seus profissionais.

CCSM – As Forças Armadas irão operar nos eixos de defesa, nas chamadas ‘estruturas estratégicas’. Em Salvador, quais serão essas estruturas estratégicas onde a Marinha irá atuar? Além disso, quais serão as demais localidades que as Forças Armadas irão guarnecer, sob a Coordenação da Marinha?

VA Monteiro Dias – Durante a fase de planejamento da operação, foram identificadas 15 instalações estratégicas, assim avaliadas pelo fato de que, se tiverem seu funcionamento afetado por atos hostis, poderão comprometer o bom andamento da competição e, consequentemente, a boa imagem do País. Tais instalações estão relacionadas basicamente ao transporte (portos e aeroportos) e aos abastecimentos de água e energia elétrica. A defesa de cada uma dessas estruturas foi atribuída a uma das Forças Componentes, de acordo com as suas características. Vale ressaltar que essa defesa está baseada no binômio vigiar/proteger. Assim, em um primeiro nível, tais estruturas estratégicas estarão sob responsabilidade do pessoal de segurança das próprias companhias que as administram, sendo, em um segundo nível, protegidas pelas forças de segurança pública que atuam nas respectivas áreas. As Forças Armadas atuam somente em um terceiro nível, nos casos em que os níveis anteriores não forem capazes de garantir a segurança das estruturas. Como Coordenador de Defesa de Área, o Com2ºDN empreenderá uma vigilância permanente de todas essas 15 estruturas. Como Força Naval Componente, coube à MB a defesa dos portos de Salvador e Aratu, que, se for o caso, serão guarnecidos por tropas de fuzileiros navais.

CCSM – Quais meios da MB participarão da defesa no local?

VA Monteiro Dias -Os meios navais subordinados ao Com2ºDN que integrarão a Força Naval Componente serão: a Corveta “Caboclo”; os Navios-Patrulha “Gravataí” e “Guaratuba”; os Navios-Varredores “Anhatomirim”, “Araçatuba” e “Albardão”, o Aviso-de-Patrulha “Dourado”; e dez lanchas-patrulha da Capitania dos Portos da Bahia.

A esses meios serão somados a Fragata “Liberal” e o Navio-Patrulha Oceânico “Amazonas”, cada um dispondo de uma aeronave “UH-13 Esquilo”, embarcada. A Marinha também empregará em Salvador uma aeronave “UH-14 Super Puma” e uma aeronave “UH-15 Super Cougar”.

CCSM – E quais tropas irão atuar? Qual será o efetivo de militares?

VA Monteiro Dias -Para a defesa de estruturas estratégicas serão empregados 565 militares do Grupamento de Fuzileiros Navais de Salvador e da Força de Fuzileiros da Esquadra. Um pelotão do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais enviará 63 militares para a Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBNR). Para ações de contraterrorismo, Salvador receberá 30 militares do Grupamento de Mergulhadores de Combate e 18 do Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (Batalhão Tonelero). E, para a operação de helicópteros, teremos 46 militares da Força Aeronaval.

Esse contingente, somado ao pessoal empregado nos eixos de Comando e Controle, Defesa e Segurança Cibernética e Defesa de Área Marítima e Fluvial, totaliza um efetivo de 1440 militares da MB à disposição do CDA Salvador.

CCSM – Como tem sido a preparação desses meios e desses militares para esses grandes eventos?

VA Monteiro Dias – A preparação dos meios e do pessoal que atuarão nas ações de defesa, na área Salvador, está baseada em adestramentos internos, nos quais são abordadas as atividades específicas em cada um dos eixos de atuação, e em exercícios gerais, que envolvem todas as Forças Componentes, com ênfase nos procedimentos de Comando e Controle e na simulação de situações diversas, em todos os níveis de segurança estabelecidos no Plano Operacional do CCDA Salvador para a Copa das Confederações FIFA 2013.

CCSM – Para quais situações os militares têm se preparado para operar, caso seja necessário? Há alguma diferença entre o treinamento realizado cotidianamente pela MB e o preparo que tem sido realizado para a Copa das Confederações? Há treinamento em conjunto com outras Forças?

VA Monteiro Dias – Em se tratando de ações de defesa para grandes eventos, as situações de emprego são as mais diversas, variando bastante em função do eixo de atuação, como defesa cibernética ou defesa de área marítima e fluvial, por exemplo. Outro fator condicionante das ações de defesa são os vários níveis de segurança previstos no Plano de Operações, que vão desde a situação de normalidade, até o nível onde a atuação de forças adversas seja iminente. Existem diversos procedimentos e regras de engajamento previstas para cada eixo de atuação, em cada um dos níveis de segurança estabelecidos.

Como estamos alocando meios e pessoal especializado, em cada eixo de atuação, nossos militares já estão bastante familiarizados com as diversas situações de emprego, a exemplo do Controle de Área Marítima, que já é rotineiramente praticado pelos nossos meios navais. Creio que os maiores aprendizados serão o da interoperabilidade entre as Forças e o trabalho conjunto desenvolvido em parceria com as instituições de segurança pública, tudo isso gerenciado a partir de uma sofisticada estrutura de comando e controle, recém desenvolvida.

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