Por Luiz Padilha
DAN – Quando o Esquadrão percebeu a necessidade de se modernizar as aeronaves? O senhor poderia explicar as razões que levaram a MB a optar pela modernização?
CMG Garcia – Em 2009 o Exército britânico precisou modernizar suas aeronaves Lynx MK-9 para operações no Afeganistão. Estavam tendo problemas com a altitude e temperatura na área de operação. Com isto foi realizada a primeira modernização do Lynx com a substituição dos motores RR GEM MK17 pelo CTS 800 da LHTEC. Estes novos motores já faziam parte dos Lynx 300 e estavam sendo colocados também no WildCat.
Em 2010 o Esquadrão HA-1 solicitou via setor do material (DAerM) a troca dos motores, no mesmo molde do Army inglês. Porém esta proposta não vingou à época, pois ainda havia o apoio da RR na manutenção dos motores no Brasil. Porém, em 2012 a RR informou que fecharia sua planta existente no Brasil e também pararia com o apoio e manutenção dos motores GEM.
Isto afetaria as Marinhas do Brasil, Portugal e Alemanha, já que os demais operadores que operavam Lynx com motores GEM já estavam em processo de troca das aeronaves. Com certeza este fato deve ter sido preponderante para que a RR tomasse esta decisão.
Com esta nova informação, em 2013 o Esquadrão HA-1, via Comando da Força Aeronaval, fez nova solicitação de modernização da aeronave. Os motores estavam apresentando diversos problemas operacionais e de manutenção devido à idade dos mesmos e a falta de apoio pelo fabricante na sua manutenção. Esta proposta foi apresentada ao Comando da Marinha na LAAD 2013 e a proposta foi estuda pela DAerM e aprovada pela MB, culminando com a assinatura do contrato de modernização em junho de 2014.
DAN – Quais os principais pontos da modernização do SuperLynx?
CMG Garcia –Além da remotorização, que permitirá a operacionalidade da aeronave nas próximas décadas, a modernização consiste na incorporação de aviônicos modernos ao sistema do MK21B. A aeronave modernizada trabalha com o conceito de glass cockpit, além de adicionar ao MK21A sistemas de Proteção Eletrônica, maior capacidade de navegação inercial e GPS e sistemas auxiliares de compilação do quadro tático como AutomaticIdentification System (AIS) utilizado por navios mercantes e auxiliares. A aeronave incorpora ainda capacidade de voo NVG e Sistema de Alerta de Tráfego e Anti-Colisão (TCAS). Cabe destacar que com a inserção do Processador Tático na nova aeronave, será possível a integração do radar com o FLIR e dos demais sensores da aeronave. A aeronave receberá um novo HOIST elétrico (guincho), bem como todo o seu sistema elétrico foi alterado por novos componentes.
DAN – Como a troca dos motores vai contribuir para o aumento da segurança das operações aéreas embarcadas?
CMG Garcia – Com a modernização dos motores a segurança das operações embarcadas foi substancialmente incrementada. Inicialmente pela idade dos motores GEM, que estavam em operação a mais de 20 anos e já apresentavam desgastes normais oriundos da sua idade, apresentando um alto índice de panes, além do aumento de velocidade para o pouso monomotor, fruto da idade dos mesmos, o que afetava em muito as operações embarcadas. Com os atuais motores estes problemas foram sanados, aumentando a segurança das operações, bem como permitindo que, em caso de pane, as aeronaves possam pousar com velocidades de ventos em torno de 10 a 15 kt. Ou seja, os navios poderão receber as aeronaves quase sem a necessidade de aumentar suas velocidades, dependendo do vento reinante na localização. Destaca-se que, segundo as informações dos atuais operadores deste motor, a operação dos mesmos é extremamente segura e confiável, sem informações de panes que tenham levado ao pouso monomotor ou em outra condição limitante do mesmo.
DAN – O desempenho da aeronave aumentou? A aeronave poderá voar mais alto, mais rápido por exemplo?
CMG Garcia – O desempenho da aeronave permanecerá similar ao da aeronave anterior, apenas destacando o incremento do peso na decolagem de 5.126 kg para 5.330kg, permanecendo com seu consumo, autonomia, velocidade máxima e teto operacional.
DAN – Com o aumento de potência dos novos motores, as células necessitaram de algum reforço estrutural ?
CMG Garcia – Nos estágios iniciais da modernização, a aeronave passa por um reforço estrutural na seção de ré e no suporte do motor, a fim de suportar os mesmos e o aumento da potência da aeronave.
DAN – Como a nova suíte de sensores vai ampliar a capacidade de esclarecimento do SuperLynx?
CMG Garcia – A facilidade no uso de mapas digitais em conjunto com o AIS facilita uma avaliação inicial pelo piloto de quais contatos merecem maior atenção.A avaliação de um contato com base em sua posição, que antes tinha que ser calculada individualmente, é facilitada pela apresentação superposta no mapa dos dados AIS. Essa facilidade permitirá que a aeronave esclareça de maneira mais eficiente uma área maior.
Essa capacidade, além de se traduzir em maior economia no emprego dos meios, característica extremamente importante nas operações navais, provê à Força Naval mais informações, com maior nível de confiança, acerca da área de interesse. Ou seja, informações de maior qualidade com redução no emprego de meios.
DAN – Junto com a modernização, a MB vai integrar um novo MAS no lugar do SeaSkua?
CMG Garcia – A Marinha do Brasil está avaliando esse caso.
DAN – Com a modernização, o HA-1 vai colocar em prática o uso do TACO? Se sim, ele também vai ser um piloto ou vamos fazer como a RN?
CMG Garcia – Alterações na doutrina de emprego da aeronave serão avaliadas pela MB após o recebimento das primeiras aeronaves. Contudo, não há no momento previsão para tal alteração.
DAN – Qual a previsão para que todas as aeronaves escolhidas, sejam entregues ao esquadrão?
CMG Garcia – Até 2021.
DAN – Após a modernização destas, existe alguma possibilidade de se realizar a revitalização da 4002 acidentada, que possui poucas horas de voo?
CMG Garcia – O que está acertado no momento é a modernização de oito aeronaves Super-lynx MK21A para o modelo MK21B. Por ora, não há discussões para a modernização de mais unidades.