Por Luiz Padilha
Em sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro, o Navio de Apoio Logístico (NApLog) (Bâtiments Ravitailleurs de Forces) BRF Jacques Chevallier (A 725), da Marinha da França (Marine Nationale), atracou na Base Naval do Rio de Janeiro (BNRJ).
Antes de sua chegada o navio realizou o exercício PASSEX com o Navio Aeródromo Multipropósito NAM Atlântico (A 140), realizando uma série de fainas, inclusive a faina de TOM (Transferência de Óleo no Mar).
O BRF Jacques Chevallier
A nova classe de NApLogs ou FLOTLOG da Marine Nationale se fez necessária devido a idade avançada dos navios da classe Durance e por não possuirem casco duplo, o que no cenário atual, é considerado item de segurança fundamental para este tipo de navio.
O BRF Jacques Chevallier é baseado na classe Vulcano fabricado pelo estaleiro Fincantieri para a Marinha italiana, porém, vale ressaltar que o navio francês possui uma configuração diferente do italiano. O programa francês prevê quatro navios da classe Jacques Chevallier e todos serão construídos na cidade de Saint Nazaire, pelo estaleiro Chantiers de l’Atlantique. Os próximos navios a serem construídos são: BRF Jacques Stoskopf (entrega prevista para 2025), BRF Émile Bertin (entrega prevista para 2027) e BRF Gustave Zédé (entrega a ser confirmada para depois de 2030).
Conhecendo o BRF Jacques Chevallier
O comandante do BRF Jacques Chevallier, Capitain de Vaisseu Pierre Ginefri, escalou o Primeiro Tenente Romain de Viry para nos receber durante a visita do Defesa Aérea e Naval (DAN) ao navio na BNRJ, o qual gentilmente nos ciceroneou a bordo do navio.
Logo na entrada, no convés principal, se tem a noção das enormes dimensões do navio. Uma área destinada ao manuseio das mangueiras de reabastecimento além de diferentes tipos de carga, que são movimentadas pelas quatro empilhadeiras que o navio possui.
Em seguida, apesar da chuva fina que caia, fomos para o convés para ver as estações de reabastecimento que o navio possui, sendo 2 em cada bordo, conferindo ao navio a capacidade de reabastecer um Porta Aviões com diesel e JP5 (combustível de aviação). Como é costume, os navios que recebem combustível, normalmente colocam um adesivo do navio recebedor na mangueira no navio fornecedor, neste caso, o Jacques Chevallier, e foi o que vimos nas magueiras de bombordo, os adesivos das fragatas Chevalier Paul e Forbin.
Durante as fainas, o navio possui nos dois bordos um display em Led (acima a direita) que informa ao navio recebedor a exata distância que o mesmo tem para o Jacques Chevallier.
Nos encaminhamos para a proa do navio que possui um guindaste com capacidade para 30 toneladas e logo a frente vemos o seu canhão Thales/Nexter 40 mm RAPIDFire além do sistema acústico não-letal Sirin da Roniks.
Com a chuva apertando, seguimos para o interior do navio. O paiol de amarras estava bem escuro, mas conseguimos fazer uma boa imagem do seu interior.
Com amplos corredores, a movimentação de cargas é realizada com facilidade utilizando pequenas empilhadeiras que o navio possui, agilizando toda a movimentação interna nos diversos compartimentos de carga do navio.
Foi possível ver também que além dos compartimentos de carga o navio possui três paióis para munição com portas diferenciadas das outras, conferindo evidentemente, maior segurança. O navio leva munição para seus armamentos, como munição para pistolas, fuzis, canhão de 40mm e mísseis Mistral MK3.
Centro de Controle de Máquinas (CCM)
No CCM do navio vimos que o monitoramento de todas as praças de máquinas é feito por câmeras e todos os painéis controlados por uma tripulação bastente reduzida. A parte de segurança do navio também é controlada por uma grande quantidade de câmeras onde o pessoal encarregado monitora toda a movimentação interna e externa.
Praça de Máquinas
Por ser um navio novo, eu já esperava ver uma praça de máquinas moderna e clean, mas o que me surpreendeu foi o tamanho do motor elétrico que impulsiona o navio. O motor elétrico fabricado pela General Eletric recebe energia dos dois alternadores que trabalham com os motores MAN à Diesel de 12 e 8 cilindros. Pela primeira vez vi um arranjo com dois tipos de motores à Diesel diferentes, o que certamente deve fornecer ao navio dependendo da necessidade de velocidade, uma importante economia de combustível.
Acima a direita os dois motores que fornecem ao navio, ar condicionado e mantém as câmaras frigoríficas funcionando.
Existem quatro câmaras frigoríficas a ré e uma na parte da frente do navio. Visitei uma delas como podem verificar nas imagens abaixo. Mesmo em águas tropicais o sistema de refrigeração funciona perfeitamente.
Após passarmos pelas câmaras frigoríficas fomos ver como é a cozinha do navio que, apesar de possuir uma tripulação normal de 130 militares (nesta viagem contava com 150 militares), possui uma cozinha muito grande e bem aparelhada, o que certamente possibitará em algumas situações, fornecer alimentação para um número maior de tripulantes.
Praça d’Armas
A Praça d’Armas ou Wardroom do Jacques Chevallier é ampla e confortável. É neste local que os oficiais se reúnem para realizar suas refeições, desfrutar de vídeos ou mesmo apenas ver o noticiário na TV. Ao lado, de uma forma reservada, existe um espaço para a tripulação acessar a internet.
Alojamentos
O navio possui camarotes confortáveis para sua tripulação, podendo ser individuais, duplos, triplos e quádruplos, todos bastante confortáveis. Caso ocorra o embarque de um Almirante com seu Estado Maior, existem camarotes específicos para os mesmos.
Hangar e Convôo
Ao chegar no hangar do navio, fiquei surpreso com o seu tamanho. Em seu interior é possível alocar dois helicópteros NH-90 ou dois AW101 Merlin que entram através de uma porta gigante. Ao lado existe uma porta menor que se destina a utilização pelo navio de drones como o Airbus VSR700 ou o Camcopter da Schiebel, ambos utilizados pela Marine Nationale.
O navio conta também com um trator reboque controlado a distância pelo operador para a movimentação das aeronaves tanto no convôo quanto no interior do hangar.
O Passadiço do Jacques Chevallier
O Passadiço do Jacques Chevallier é moderno e atual. Ele contém tudo o que a navegação atual necessita, estándo equipado com um sistema de navegação Phins da iXbluee. Em princípio pode parecer com um navio mercante moderno, mas o que tem atrás das paredes dele é o que importa para um navio de guerra.
Infelizmente não foi possível fazer imagens do interior do COC (Centro de Operações de Combate), mas o que vi foi suficiente para afirmar que o navio tem condições de operar em um Grupo Tarefa do porta aviões francês Charles de Gaulle ou com outro, capitaneado por porta aviões da OTAN.
O COC está equipado com estações de combate prontas para a defesa do navio em caso de um ataque ao mesmo.
Para se defender, o BRF Jacques Chevallier conta com dois lançadores SIMBAD-RC/Mistral MK3 e dois canhões Thales/Nexter 40 mm RAPIDFire. Não se sabe se os outros três navios da mesma classe serão equipados com essa configuração de armamento.
Características
- Comprimento: 194 m
- Boca: 27.4 m
- Calado: 9 m
- Deslocamento: 16.000 tons vazio/ 31.000 tons) carregado
- Tripulação: 130, mais 60 passageiros
- Propulsão: Diesel-electrica
- Velocidade Máxima: 20 knots
- Capacidade: 13,000 m3 (3,400,000 US gal)
Nota do editor: Agradecemos ao Capitão de Fragata Matthieu Dejour, Adido Naval da França, pela atenção dispensada ao DAN para a realização deste artigo e a tripulação do navio que nos recebeu a bordo.