Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças de Defesa do Estado do RJ fala sobre a Copa das Confederações

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O Contra-Almirante (FN) Paulo Martino Zuccaro, Comandante da Divisão Anfíbia, foi designado como Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças de Defesa do Estado do Rio de Janeiro, durante a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerão no País, em 2013. Em entrevista para o Centro de Comunicação Social da Marinha, o Almirante fala sobre o preparo da Força Naval na defesa e segurança do Estado do Rio de Janeiro, além dos pontos estratégicos onde a Marinha irá operar.

CCSM – Como e há quanto tempo a Marinha tem se preparado para esses grandes eventos que ocorrerão no Rio de Janeiro?

C Alte (FN) Zuccaro – Devemos recordar que, desde os V Jogos Mundiais Militares, em 2011, a Marinha vem se envolvendo com grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro. Em 2012, por exemplo, foi a vez da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Portanto, é uma crescente experimentação, vivência e capacidade de se aplicar bem o Poder Naval em prol do andamento fluido desses acontecimentos. Essa não é a missão principal da Marinha, mas é uma grande contribuição que podemos oferecer para que o Brasil aumente seu prestígio internacional e preserve esse prestígio frente a possíveis ameaças de qualquer ordem.

CCSM – Que experiências esses grandes eventos trouxeram para a região?

C Alte (FN) Zuccaro – As experiências têm revelado a importância de um controle efetivo da área marítima vizinha à cidade, a relevância do comando e controle, aspecto que tem que ser valorizado, além da capacidade de se fazer o uso gradual da força. As ameaças são de diversas naturezas e temos que estar em condições de empregar o equipamento mais apropriado para cada tipo de situação. Destaco, especialmente, o armamento não letal.

CCSM – Houve um investimento maior nesse tipo de armamento?

C Alte (FN) Zuccaro – Tem havido prioridade para a aquisição desses equipamentos e também para o aprimoramento dos nossos Centros de Comando e Controle. Esses centros atuam com os mais avançados recursos de tecnologia da informação, que possibilitam a realização de videoconferências com outros centros, o compartilhamento de dados, imagens e informações que permitirão o monitoramento dos meios operativos empregados. Outro aspecto que tem sido priorizado é o da Defesa Química, Biológica, Nuclear e Radiológica (QBNR). Por isso, tem havido um esforço muito grande para o incremento do material, da capacitação e do adestramento nesse campo específico de atividade.

CCSM – Quantos homens e quantos meios atuarão na área Rio?

C Alte (FN) Zuccaro – No Rio de Janeiro, serão quase 1.500 militares da Marinha envolvidos na Copa das Confederações e aproximadamente 2.500 na Jornada Mundial da Juventude. Dentre os meios, estão um rebocador de alto-mar, um navio-patrulha oceanográfico, um navio-patrulha da Classe “Macaé”, dois navios-patrulha da Classe “Grajaú”, a Fragata “Bosísio” com aeronave “Super Lynx”, um navio de desembarque de carros de combate, dois avisos de patrulha, quatro lanchas tipo LAEP, dez flex boat, 59 viaturas operativas e 15 viaturas administrativas.

CCSM – Existe algum diferencial na preparação dos militares?

C Alte (FN) Zuccaro – Nosso adestramento rotineiro enfatiza os combates tradicionais, que são conflitos de alta intensidade. Porém, para esses grandes eventos, nosso foco tem que ser transferido para a contenção e a prevenção de ameaças assimétricas, quando um dos lados não possui as mesmas condições de enfrentamento de seu inimigo. Também devemos ter certo cuidado no contato e relacionamento com as massas populacionais presentes na área de operações.

CCSM – Quais treinamentos têm sido feitos no Rio de Janeiro?

C Alte (FN) Zuccaro – Os exercícios têm sido focados nas tarefas que serão realizadas durante cada grande evento. Para os meios navais, têm sido enfatizados o patrulhamento, as inspeções navais e o controle de área marítima. No caso dos fuzileiros navais, a prioridade está colocada nas atividades típicas do emprego em Garantia da Lei e da Ordem (GLO), como, por exemplo, operações de controle de distúrbios, postos de controle de trânsito e emprego de armas não letais.
A importância dos exercícios reside no fato de que, embora essas ações não sejam propriamente estranhas a nosso adestramento regular, até mesmo porque a GLO integra o rol de atribuições das Forças Armadas, estando prevista nos diversos diplomas legais e normas atinentes ao assunto, a começar pela própria Constituição Federal, é necessária uma preparação específica para esses grandes eventos, especialmente porque cada um deles ostenta suas próprias peculiaridades, para as quais devemos nos adestrar adequadamente.
Finalmente, não podemos nos esquecer de que, nesses grandes eventos, a presença de personalidades de destaque internacional e da mídia em âmbito global resulta em alto grau de sensibilidade em todas as atividades, levando as margens de erro a um estreitamento incomum em nosso cotidiano e exigindo, portanto, irretocável preparação.

CCSM – E como estamos preparados com relação a possíveis ataques?

C Alte (FN) Zuccaro – Merecem menção específica os diversos grupos especializados que, mesmo sem fazer parte dos Coordenadores de Defesa de Área, também aportam contribuições relevantes para a defesa e a segurança no curso dos grandes eventos. Destaco os Comandos Anfíbios, com efetivos organizados em Grupos Especiais de Retomada e Resgate (GERR) ou Unidades de Comandos Anfíbios sendo posicionados nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e Salvador, os Mergulhadores de Combate, também organizados em GERR próprios para o ambiente marítimo nas duas últimas sedes mencionadas, e o Pelotão de Defesa QBNR do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, que atuará em Salvador. Também há militares adestrados e equipados para a destruição de artefatos explosivos improvisados, armas comuns no contexto das ameaças assimétricas.
Esses elementos organizacionais fazem parte de uma estrutura de coordenação específica, que integra elementos de operações especiais das três Forças Armadas, tendo como órgão central o Centro de Coordenação de Prevenção e Combate ao Terrorismo (CCPCT), localizado em Brasília, e os diversos Centros de Coordenação Táticos Integrados (CCTI), em correspondência aos CDA, os quais, embora sem exercer o comando pleno sobre esses elementos, ditarão seu emprego em cada sede.

CCSM – Há alguma diferença na maneira como a Marinha irá atuar durante a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude? Em que pontos os militares estarão presentes nesses eventos?

C Alte (FN) Zuccaro – Em todos os grandes eventos que o Brasil sediará, as Forças Armadas possuirão duas vertentes de atuação, que são a defesa e a segurança. Na vertente segurança, nossa ação se dá como força de contingência, porque, neste campo, a estrutura de órgãos de segurança pública terá primazia. Já na área de defesa, há nove eixos em que se dá o emprego efetivo do poder militar, de acordo com as nossas competências funcionais.
No Rio de Janeiro, navios e embarcações de variadas classes e tipos ocuparão e controlarão os espaços marítimos circundantes à cidade, principalmente aqueles a partir dos quais seria possível a uma força ou ator adverso perpetrar qualquer tipo de ato danoso à integridade de autoridades, cidadãos, visitantes e instalações, bem como ao bom andamento dos eventos planejados.
Em terra, fuzileiros navais ficarão em condições de ocupar os locais e as estruturas do Poder Marítimo de maior interesse para a Defesa. No caso da Jornada Mundial da Juventude, também estarão prontos para substituir órgãos de segurança e ordem pública ou assumir parte de suas atribuições, na eventualidade da ocorrência de uma situação que extrapole as capacidades desses órgãos.
Neste evento específico, ainda há a particularidade da imposição, por meio de decreto presidencial, da GLO na região de Guaratiba, onde será o Campus Fidei (Campo da Fé), e seus principais acessos. Na prática, isto significa que, na área abrangida pelo decreto de GLO, as forças militares estarão efetivamente desdobradas no terreno, juntamente com os órgãos de segurança e ordem pública, e terão sob seu encargo não apenas os aspectos de defesa propriamente dita, mas também a coordenação de todas essas instituições, já desde a fase do planejamento. No restante da cidade, mantém-se o conceito de emprego somente em caso de contingência.
Em Guaratiba, um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais terá a tarefa de controlar parte da área, em coordenação com forças do Exército Brasileiro e os supracitados órgãos. Um segundo Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais atuará como Força de Contingência para emprego eventual em segurança e ordem pública, em uma área contígua à linha de costa e que tem como eixos principais a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, a Avenida Rodrigues Alves e a Via Perimetral. Os dois Grupamentos Operativos pertencem à Força Naval Componente (FNC), que abarca todos os efetivos e meios da Marinha empregados no evento, à exceção daqueles dedicados a tarefas especiais. A FNC é comandada pelo Vice-Almirante Ilques Barbosa Junior, Comandante do 1º Distrito Naval.

FONTE: Nomar

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