Campo de força contra drones

bloqueador

Brasileiros criam sistema de radiofrequência que barra o avanço dos veículos aéreos não tripulados. O país, contudo, ainda não tem diretrizes legais definidas para tratar do tema, sob responsabilidade da Secretaria de Aviação Civil

Por Bruno Freitas

Belo Horizonte – Do monitoramento ambiental a operações secretas do Exército, passando pela captação de imagens aéreas para programas de tevê. As possibilidades de uso dos drones são inúmeras, fazendo com que esses pequenos veículos aéreos não tripulados (também conhecidos pela sigla Vants) sejam presença cada vez mais comum nos céus do Brasil. A queda gradual nos preços — há modelos que custam a partir de R$ 6 mil — e a facilidade em pilotá-los ajudam a tornar os equipamentos mais e mais populares, o que leva a algumas questões: deve haver restrições que impeçam o uso dessas máquinas voadores em determinadas áreas? Se sim, como garantir que essa limitação seja cumprida?

Seguindo o exemplo de países como a Holanda — onde águias foram treinadas para derrubar equipamentos com uso impróprio — e os Estados Unidos, o governo brasileiro discute diretrizes legais para a aplicação prática dos drones, sob coordenação da Secretaria de Aviação Civil (SAC). O foco do debate, a princípio, são os Vants de uso comercial, já que os modelos recreativos deverão ser enquadrados como aeromodelos. Enquanto as regras não saem — a expectativa é de uma decisão até agosto, a tempo dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro —, uma empresa mineira com foco em segurança pública se antecipou a possíveis malefícios, como uso terrorista, e desenvolveu um bloqueio digital de frequência de drones que pode ser direcionado num cerco individual ou de perímetro.

O campo de força capta a radiofrequência em que o Vant está programado e intercepta o comando por meio de roteamento, com a característica exclusiva, segundo o fabricante, de quebrar a criptografia e interromper a comunicação com o operador. São dois os modos de bloqueio, ambos restritos a órgãos de segurança pública e defesa — o que os distingue é basicamente a tecnologia embarcada e o preço.

Diâmetro – No bloqueio geral de área, é possível impedir qualquer drone de entrar, num raio de 360 graus, de 50 metros a 1km de diâmetro, alterando a trajetória original. O bloqueio pontual direcional, por sua vez, utiliza um módulo portátil para apontar a antena em direção ao invasor, criando assim um bloqueio somente ao redor do equipamento inimigo.

Dependendo da programação de voo (automático, por GPS, ou remotamente pilotado), há diferentes sintomas no drone invasor: congelamento no ar, com aguardo do reestabelecimento de comunicação até que o combustível (ou bateria) acabe; pouso imediato; ou retorno ao local de decolagem. Da concepção do campo de força aos testes finais, foram três anos de desenvolvimento. “O sistema tem antenas omnidirecionais que emitem ondas eletromagnéticas com a mesma potência em todas as direções, criando assim uma bolha uniforme, mas que, dependendo de obstáculos como edificações, a cobertura pode variar. É por esse motivo que o ideal é instalar o bloqueador sempre no local mais alto da área, como no alto de um prédio”, aponta Renato Werner, CEO da Polsec, empresa sediada em Belo Horizonte e Manaus (Amazonas) e fabricante da tecnologia.

Ele explica que as antenas permitem criar uma barreira invisível, podendo proteger um perímetro apenas contra drones invasores, possibilitando voos cadastrados sem interferência. Além da visão militar, como tráfico de drogas, armas e ataques terroristas, em um aspecto civil, no uso cotidiano, Werner alerta que os Vants são capazes de espionar e capturar imagens não permitidas, causar acidentes com fiação elétrica e atrapalhar aeronaves em rota.

Para o especialista, a maior preocupação é a ausência do bloqueador em grandes eventos. “Tranquilamente um drone carrega, para dentro de um estádio, armas, explosivos e agentes químicos. Para a Olimpíada, pode ser usado para esse fim. É um perigo real”. São dois os modelos disponíveis de campo de força: portátil, de cerca de cinco quilos e transportável em uma mochila; ou transportável, com 48 quilos, tempo médio de montagem de uma hora e funcionamento automático 24h, indicado para eventos e infraestruturas como aeroportos.

Sem interferência – No link de comunicação gerado pelo bloqueio digital de frequência entre o drone e o operador, por controle remoto, são utilizados apenas protocolos específicos, ressalta o CEO da Polsec. Werner garante não haver a possibilidade de interferência. “Obviamente, por uma questão de segredo industrial, não podemos dar o pulo do gato. Mas, por atuarmos somente nos links específicos e que têm protocolos de comunicação utilizados por fabricantes de drones, o wi-fi continua funcionando normalmente”.

O valor do sistema varia segundo a potência e a tecnologia embarcada: de R$ 50 mil no sistema portátil direcionado básico a até R$ 2,8 milhões, num sistema transportável com capacidade para quebrar a senha e assumir o controle inimigo. Como ainda não há legislação específica, a venda é exclusivamente voltada a órgãos de segurança pública e defesa. A empresa oferece ainda treinamento. Na parte teórica, orienta os fundamentos de tecnologia de drone, de links e bloqueio de rádiofrequência. Na parte prática são realizadas simulações para que o sistema esteja pronto em diferentes cenários.

Três perguntas para Renato Werner, CEO da Polsec, empresa que atua na área de segurança pública

Desde quando o campo de força é desenvolvido?

Trabalhamos no desenvolvimento e na fabricação de sistemas de interceptação e bloqueio de radiofrequência desde 2002, o que nos trouxe uma experiência. Começamos a trabalhar com drones desde 2010. Já vendemos drones de alta capacidade com quatro horas de autonomia de voo, datalink para controle remoto em até 15km de distância e capacidade de carga de mais de 20kg, todos entregues a órgãos de segurança pública. Percorremos um longo caminho, pesquisando tecnologias de todo o mundo.

Por que a tecnologia de bloqueio é necessária?

Assim como o telefone celular é usado para dar instrução de primeiros socorros ou chamar uma ambulância, pode ser usado para dar uma ordem de assassinato ou comandar o tráfico de drogas dentro dos presídios. Com os drones, ocorre a mesma coisa. Eles têm diversas aplicações, como fotografia e filmagem aérea de baixo custo, além de monitoramento ambiental. Mas são usados também por irresponsáveis e inconsequentes, que sobrevoam pessoas (o que é proibido, pois pode causar acidentes letais) ou invadem a privacidade, causando danos a terceiros. O mercado mundial necessita de sistemas ativos que possam impedir o uso indevido e criminoso de drones, sem interferir nos dispositivos móveis, como telefones celulares e tablets.

Há concorrentes nacionais?

Todos os demais sistemas de bloqueio de drones que encontramos em nossas pesquisas são, na grande maioria, bloqueadores comuns de frequência que não produzem bons resultados e interferem em dispositivos de uso comum da população, além de serem limitados quanto à evolução tecnológica. Nosso sistema é de plataforma aberta e com rádio definido por software (RDS) e pode evoluir com a tecnologia para manter a eficiência de bloqueio, tanto para os drones já conhecidos quanto para outros tipos que possam ser desenvolvidos no futuro.

FONTE: Correio Brasiliense

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