— Hoje, esse papel cabe ao Centro de Defesa Cibernética (CDCiber) — diz o general Paulo Carvalho, chefe do centro. — Com a escola, que ficará a cargo de outro general, nós poderemos nos concentrar nas operações de guerra cibernética.
A implantação da ENaDCiber foi definida em portaria do Ministério da Defesa publicada em outubro do ano passado, sendo parte de uma série de medidas do governo que se sucederam à divulgação de informações sobre o esquema de espionagem conduzido por agências de inteligência americanas, que chegaram a monitorar as comunicações da presidente Dilma Rousseff. Em dezembro, foi formado um comitê para a elaboração de estudos de viabilidade e concepção do instituto.
O professor Jorge Fernandes, diretor do Centro de Informática da UnB, afirma que o prazo para a entrega do projeto da ENaDCiber é em outubro, mas ele será concluído até o fim de julho. Diferentemente de outros centros de estudos do Exército, como o Instituto Militar de Engenharia, o ENaDCiber terá uma sede física, mas os cursos serão espalhados por todo o território nacional, em parcerias com universidades e centros técnicos.
— Estamos desenvolvendo a concepção da escola, definindo as metodologias de ensino, as instalações físicas necessárias, recursos humanos, regulamentos para participação, credenciamento de cursos. Esse conjunto de ideias será entregue ao Exército — explica Fernandes. — Também estamos montando cursos à distância, que devem ser oferecidos ainda este ano.
Além da escola, o projeto prevê a implantação do Sistema de Certificação e Homologação de Produtos e Serviços de Defesa Cibernética (SHCDCiber), para a análise da segurança de hardwares e softwares usados pelos organismos de defesa cibernética. A ideia é montar uma rede de laboratórios para analisar a segurança dos produtos e certificá-los de acordo com níveis de confiança.
— Você pode usar o WhatsApp para falar com a família, com os amigos, mas um general tem que saber que, para uma reunião do Estado-Maior, ele não serve — diz Fernandes.
CONFRONTOS EM BITS
Apesar do tom futurista, a guerra cibernética já é uma realidade. Em 2010, o vírus Stuxnet atingiu computadores que controlavam centrífugas nucleares iranianas, e provocou um imenso atraso no programa nuclear daquele país. Oficialmente, nenhum grupo ou país assumiu a autoria do ataque, mas investigações de empresas de segurança apontam que ele teria partido dos EUA, com participação de Israel. No mês passado, a China mostrou ao mundo uma nova arma de seu arsenal virtual. Apelidada “Great Cannon” (“grande canhão”), ela consegue redirecionar o tráfego de internautas estrangeiros que visitam sites chineses para um alvo. Até agora, o “canhão” só foi usado para a censura, mas ele pode derrubar servidores estratégicos para um país.
— É uma de nossas preocupações — afirmou o ministro da Defesa, Jaques Wagner, durante visita à LAAD Feira Internacional de Defesa e Segurança, que aconteceu esta semana no Riocentro. — A defesa cibernética está entre os nossos projetos estratégicos.
O CDCiber foi criado oficialmente em 2012, e, desde então, consumiu apenas R$ 190 milhões de seu orçamento previsto, de R$ 400 milhões. Apesar das restrições nos gastos, o centro se saiu bem durante os grandes eventos — Rio+20, Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações e Copa do Mundo —, mas o país ainda não possui capacidade de se proteger de armas cibernéticas como o “Great Cannon”. Ao ser questionado sobre o assunto, o general Carvalho foi evasivo: — Nós estamos investindo para isso. Para especialistas, o Brasil está no caminho certo. Thierry Martin, vice-presidente para a América Latina da Kudelski Security, afirma que estamos no mesmo nível de outros países.
— Todos estão descobrindo o que fazer — brinca Martin. — Mas o Brasil já tem um centro de defesa militar e está formando uma legislação para a privacidade. A preocupação é necessária. Nas guerras físicas, a cibernética será bem explorada.
FONTE: O Globo