Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – Apesar de reconhecer as dificuldades financeiras dos Estados e os problemas na área de segurança pública, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta quarta-feira ser contra a permanência prolongada das Forças Armadas nas ruas e disse que não se deve banalizar o emprego dos militares no dia a dia das cidades do país.
Jungmann explicou que os militares têm uma formação voltada para ações de defesa, portanto menos adequada para atuar em centros urbanos, comunidades e favelas.
“Um soldado não tem formação policial, e se entra em uma comunidade não sabe quem é quem. O treinamento dele é outro e não é essa a função. Segurança deve ser resolvida no âmbito da segurança”, afirmou Jungmann a jornalistas.
“As Forças Armadas colaboram com logística, inteligência, equipamentos, mas pontualmente na área de segurança… Temos que tomar cuidado e não podemos banalizar a GLO (sigla para Garantia da Lei e da Ordem, instrumento que autoriza a atuação dos militares como força policial)”, acrescentou o ministro após participar do Fórum Nacional, promovido pelo Instituto de Altos Estudos (INAE).
A declaração de Jungmann pode representar um balde de água fria para o governo estadual do Rio de Janeiro, que gostaria de contar com a presença das Forças Armadas nas ruas por tempo indeterminado mediante uma grave crise financeira que levou o Estado a decretar situação de calamidade pública antes da Olimpíada.
Os militares chegaram ao Rio em agosto para atuar na Olimpíada, estão trabalhando também na Paralimpíada e, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vão ficar para as eleições municipais de outubro, por meio da decretação de uma GLO.
Um pedido de permanência dos militares ao menos até o fim do ano no Estado foi feito recentemente pelo secretário estadual de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, ao ministro da Defesa, e está em apreciação por parte do governo federal.
“Por enquanto o que vamos ter aqui é a garantia na votação e na apuração da eleição”, disse Jungmann.
Ao ser questionado se as Forças Armadas poderiam dar uma contribuição maior para a segurança pública e exercerem uma atuação ostensiva no Rio e em outros Estados brasileiros, o ministro afirmou ser contra a permanência prolongada dos militares no cotidiano das cidades, e lembrou que experiências internacionais mostram que esse não é o melhor caminho.
“Eu pessoalmente não sou favorável ao emprego mais prolongado das Forças Armadas”, disse Jungmann. “A GLO é um instrumento excepcional, localizado e por tempo determinado. Sei que há um déficit de segurança no país e um sentimento de vulnerabilidade, mas segurança tem que ser resolvida na segurança”.