A Amazul e o Ministério da Saúde assinaram, nesta terça-feira (27/3), acordo de cooperação técnica para o desenvolvimento do Reator Multipropósito Brasileiro, plataforma que visa, entre outros objetivos, produzir radioisótopos para a fabricação de radiofármacos usados na prevenção e tratamento de câncer. O empreendimento, que tornará o Brasil autossuficiente na produção de radioisótopos e permitirá o repasse de radiofármacos para o SUS a preço de custo, é coordenado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
O acordo garante investimento de R$ 750 milhões, que serão repassados pelo Ministério da Saúde até 2022. Ainda este ano, o ministério fará um aporte de R$ 30 milhões para o desenvolvimento do projeto. O acordo foi assinado pelo ministro Ricardo Barros e o presidente da Amazul, Ney Zanella dos Santos. “Este reator será fundamental para o tratamento das pessoas. Hoje, nós importamos muito desse medicamento e queremos produzir no Brasil, barateando os custos. Esta decisão tem interface com vários outros ministérios, mas agora ele irá priorizar a área da saúde”, afirmou o ministro Ricardo Barros.
Os radiofármacos são de grande importância para o tratamento de doenças no Sistema Único de Saúde, pois auxiliam no tratamento de diversas áreas como a cardiologia, oncologia, hematologia e neurologia. Com eles, é possível realizar diagnósticos de doenças e complicações como embolia pulmonar, infecções agudas, infarto do miocárdio, obstruções renais e demências. Além disso, esses produtos são os mais eficientes na detecção de câncer, pois definem qual o tipo e tamanho do tumor e qual o tratamento mais adequado para o paciente.
Para o presidente da Amazul, Ney Zanella dos Santos, o país dispõe de tecnologia para fazer todo o ciclo do radioisótopos. “Temos matéria-prima, tecnologia e pessoal capacitado para esse empreendimento que nos livrará da dependência externa na produção desses insumos estratégicos.”
Desde 2009, o Brasil tem dificuldade no abastecimento de radioisótopos, utilizados em cerca de 80% dos procedimentos adotados pela medicina nuclear. Isso se deve à paralisação do reator canadense que abastecia todo o mercado brasileiro e 40% do mundo. Desde então, o país busca outros fornecedores importados, já que, com demanda reprimida, apenas cerca de 2 milhões de procedimentos médicos utilizam os radiofármacos.
Segundo Zanella, o RMB terá outras aplicações além da medicina nuclear. A plataforma disponibilizará tecnologias que poderão ser aplicadas na agricultura, no meio ambiente e na indústria. Essas tecnologias permitem, por exemplo, testar materiais, localizar fissuras em superfícies como asas de avião ou verificar a quantidade de agrotóxicos contida em alimentos.
O reator nuclear dará ao país autossuficiência, tornando-o referência em medicina nuclear. Também pode tornar o Brasil exportador, já que o número de reatores deste porte é pequeno em todo o mundo, indo na contramão da crescente demanda do produto. O Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) será desenvolvido na cidade de Iperó (SP), junto ao Centro Industrial Nuclear de Aramar, da Marinha do Brasil, que cedeu parte do terreno.