Por Luís Osvaldo Grossmann
Os ministérios da Defesa, Ciência & Tecnologia e Comunicações publicaram nesta quinta, 23/7, a portaria conjunta pela qual as três pastas assumem o projeto Amazônia Conectada, uma epopeia para lançar 7,8 mil km de fibras ópticas pelo leito de rios importantes do Amazonas, para fazer chegar infraestrutura às cidades do interior do estado onde a conectividade, quando existe, é por satélite.
Dessa amarra política espera-se garantir os R$ 500 milhões estimados, dinheiro a pingar, se possível, nos orçamentos da União para 2016 e 2017. Há menos de um ano, a conta era de R$ 1 bilhão. Mas o Exército, que coordena o projeto, decidiu trocar o fornecedor da fibra óptica, uma multinacional instalada no Espírito Santo, e abriu concorrência internacional via Estados Unidos.
“A redução de custo foi possível devido às aquisições das fibras subfluviais ocorrerem na Comissão do Exército Brasileiro em Washington”, informou a Força ao portal Convergência Digital. A CEBW está concluindo a RFQ para os cerca de 220 km do primeiro trecho do projeto no rio Solimões, entre Coari e Tefé. Essa etapa, de aproximadamente R$ 15 milhões, deve ser concluída até o fim de 2015.
“O orçamento inicial era diferente, baseado em preços no país para a rede física, que representa mais de 60% do custo total. Mas há coisa de três meses conseguiu-se um fornecimento a custo muito inferior, o que viabiliza o futuro do projeto”, diz o diretor adjunto de Soluções da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Gorgonio Araújo.
A RNP está com o Exército no projeto desde o início e parte da concepção está em um estudo, ainda de 2012, do diretor de engenharia Eduardo Grizendi, que recuperou a instalação, em 1895, de um cabo telegráfico entre Manaus-AM e Belém-PA, sob o leito do rio Amazonas, feito de uma empresa britânica com o uso de cabos da Siemens.
A ideia é, assim, usar os rios para lançar os cabos pela água ou enterrá-los na estação seca em áreas que estarão inundadas na cheia. O primeiro pedacinho, de 7km, serviu de piloto e foi inaugurado na semana passada – uma ligação de uma ponta a outra de Manaus pelo rio Negro, conectando o 4o centro de telemática à 4a divisão de levantamento geográfico, ambos do Exército.
Pelo plano, serão cinco grandes ‘troncos’ de fibras ópticas. O primeiro a partir de Coari, onde chegam fibras pelo gasoduto por onde a Petrobras escoa a produção da província de Urucu. Dali, são cerca de 220 km pelo Solimões até Tefé – o trecho de R$ 15 milhões previsto para ser concluído ainda este ano. A ideia é esticar a rede até Tabatinga, na fronteira com a Colômbia.
Outro tronco sobe o rio Negro, de Manaus até Barcelos e de lá até São Gabriel da Cachoeira. Um terceiro segue a rota do rio Madeira, passando por cidades como Autazes e Borba até Humaitá. Quarto e quinto são entroncamentos do Solimões pelos rios Juruá e Purus: em um a rede segue até Guajará; no outro, até Boca do Acre. Ao todo, 52 municípios e quase 4 milhões de pessoas.
Além do Exército e da RNP, o projeto envolve a Telebras e a empresa de processamento de dados do Amazonas, a Prodam. Cada um desses ficará com um par de fibras para conectar o que estiver sob sua responsabilidade, mas a ideia é dar sustentação no tempo pelo compartilhamento dos custos de manutenção entre todos.
Com o tempo, a demanda deve superar em muito as instituições envolvidas – as unidades do Exército, ou de ensino e pesquisa, ou os órgãos federais e estaduais. “Não dá para imaginar o amanhã a partir do hoje. A rede tende a desenvolver as cidades e pode mesmo atender além das fronteiras, onde há desassistência, e que pode passar a escoar tráfego pelo Brasil”, diz Araújo, da RNP.
FONTE: Convergência Digital