Por Jéssica Barreto
Após 30 anos, a Royal Canadian Navy está levantando o debate sobre a necessidade de substituir seus submarinos para garantir capacidade de operação no mar.
No final de junho de 2021, representantes da Marinha anunciaram a criação de uma equipe dedicada a estruturar o plano de substituição dos submarinos da classe Victoria, antiga classe Upholder do Reino Unido. O movimento leva ao questionamento: qual o papel da indústria de construção naval canadense em suprir essa demanda?
Ainda no século XIX, como colônia do Reino Unido, a construção naval no país se desenvolveu pela necessidade de manter o comércio de madeira com a metrópole. Entretanto, a história do setor é marcada por ciclos de altos investimentos seguidos por grandes quedas. Esses ciclos de boom and bust prejudicam a capacidade de produção, a infraestrutura do setor e a curva de desenvolvimento tecnológico do país.
Na tentativa de criar previsibilidade e acabar com esses ciclos, foi lançada em 2010 a National Shipbuilding Strategy (NSS), que é a maior iniciativa a longo prazo de modernização da Marinha canadense. Uma das críticas levantadas por especialistas da área sobre a NSS foi a falta de planejamento para a substituição dos submarinos da classe Victoria, que se encontram sucateados.
Apesar de sua importância histórica para o poder naval, o Canadá apresentou dificuldades para substituir esses ativos, levando-os a obsolescência. O debate sobre a necessidade de substituição dos submarinos permeia o país desde os anos 1980. Por exemplo, a política de defesa do governo conservador de Brian Mulroney, lançada em 1987, propunha o desenvolvimento de submarinos com propulsão nuclear que garantiriam maior capacidade de atuação no Ártico. Entretanto, esse projeto foi cancelado poucos anos depois.
Em 1998 a classe Victoria foi adquirida para substituir a classe Oberon, em operação desde os anos 1960. Em parte, essa resistência que permeia a sociedade é fruto dos traumas vividos na Segunda Guerra Mundial pelos submarinos alemães. Além disso, a maioria dos submarinos na história do país, diferentemente das outras embarcações da Marinha, foram compras de oportunidade.
Atualmente, os submarinoas da classe Victoria passa por um processo de modernização e revitalização das embarcações, que tem fim previsto para 2023. Para garantir a autonomia do país e demanda para a indústria, o ideal seria o desenvolvimento da futura classe usufruindo da estrutura de construção naval que está em plena atividade no Canadá, através da NSS. Além disso, é necessário pensar nas necessidades de operação que os submarinos não tem suprido, como as operações no Ártico que ficam dependentes da força dos EUA.
FONTE: Boletim GeoCorrente