Por Jorge Rebolla
Desmanche nacional
O atraso dos cronogramas e a possível inviabilização dos programas de modernizações das forças armadas é um dos efeitos colaterais do modo como a troika Poder Judiciário, Ministério Público Federal e Polícia Federal estão combatendo a corrupção.
A Construtora Norberto Odebrecht, através da Odebrecht Defesa e Tecnologia, controla as empresas responsáveis pela fabricação do submarino nuclear brasileiro, é um dos principais alvos da Lava a Jato e da sua sanha aniquiladora. Extrapolar do indivíduo a punição para que atinja o seu patrimônio, além das multas justificadas, relembra a antiga prática de salgar o solo que pertencia ao condenado, para que nada mais nascesse ali.
O Vice Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, que liderou o programa brasileiro para domínio do ciclo do enriquecimento do urânio, está preso por acusações, que antes de uma condenação transitada em julgado, não leva ninguém para a cadeia. Sem ele dificilmente o Brasil hoje teria condições próprias de fabricar combustível a partir do urânio.
Agora o MPF reabre o inquérito sobre a aquisição dos caças Gripen, da SAAB, que pode provocar o cancelamento do contrato de compra, afinal qual empresa quer ser jogada no picadeiro do circo midiático que paralisa hoje o Brasil? Sem ele não receberemos transferência de tecnologia de ponta da empresa sueca.
A FAB utiliza caças projetados inicialmente na década de 1950, que apesar das modernizações que sofreram estão totalmente obsoletos. No máximo, nos países mais ricos, são utilizados como aviões de treinamento.
O projeto do submarino nuclear brasileiro está décadas atrasado. O Brasil possui tecnologia para a fabricação de submarinos a diesel e desenvolvia os equipamentos para a propulsão nuclear. Com o descaso governamental e os pequenos orçamentos para o projeto, nas últimas décadas, decidiu adquirir no exterior, na França, um pacote tecnológico para equipar a Marinha com o tão necessário submersível, queimando etapas e acelerando a construção. Hoje isto corre o risco de não se concretizar, novamente devido a cortes orçamentários e principalmente ao assédio ao grupo que o construirá.
O Brasil hoje não possui a menor condição de se defender. A indústria bélica nacional que se fortaleceu na década de 1970 começou a desaparecer no governo Sarney (PMDB-AP), foi definitivamente sepultada durante o tucanato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).
Hoje em dia compramos sucata para as forças terrestres, como o tanque Leopard 1A5, após o fim da sua vida útil em outros países. Este veículo blindado que “moderniza” o nosso Exército é tecnologicamente mais atrasado que o tanque brasileiro Osório, desenvolvido pela Engesa, há mais de trinta anos.
Para o combate a corrupção e a punição dos corruptos não é necessário desmontar e destruir empresas e projetos essenciais ao país, porém tenho a impressão que os agentes responsáveis pela persecução consideram mais importante a autopromoção e a fama fácil que a segurança nacional. Posam de paladinos da moralidade pública, e mesmo se atingirem as suas metas continuarão em meio à podridão. As administrações públicas que possuem como principal objetivo a manutenção da elite dirigente no poder permanecerão. Pois as questões de fundo que são os atuais sistemas político-partidário e eleitoral e a apropriação privada do patrimônio público, que gera os recursos necessários para esta permanência, contaminam todas as esferas administrativas. A operação Mãos Limpas, na Itália, pariu Silvio Berlusconi, quem será o rebento da Lava Jato?
O modo como as investigações vazadas são utilizadas pela imprensa parecem dirigidas para algo muito além do PT, a soberania nacional. A catarse induzida pela mídia é direcionada para que a terra arrasada seja o desfecho desejado por todos. Mesmo as iniciativas corretas tomadas durante os governos Lula e Dilma não estão apenas sob suspeição, são alvos de ataques que visam a sua total destruição. Independente de serem benéficas para a nação.
No Planeta Terra não existem nações amigas, o que conta são os interesses nacionais de cada uma delas. Principalmente os das mais poderosas. Quando vejo um brasileiro criticando os gastos militares a única coisa que consigo pensar é: nasceu com vocação para capacho. Em geral perguntam com a inocência dos tolos quem irá nos atacar, ora, qualquer um dependendo da situação, do momento e das complicações geopolíticas. E o ataque pode se dar de várias formas.
Neste século XXI dois países foram completamente destruídos, Síria e Líbia, e outros estão em tal situação que serão necessárias décadas para retornarem ao que eram há dez ou quinze anos, como a Ucrânia.
O atual poder hegemônico mundial, os EUA, está em declínio relativo, e isto provocará ainda mais mudanças, zonas de influência e interesses econômicos sofrerão alterações. Como já está ocorrendo hoje. Os países citados acima foram tragados nesta dinâmica. A história nos mostra quem nenhum império cede poder sem antes confrontar os desafiantes, isto causará dor e nenhum país do mundo estará imune a ela.
FONTE: GGN – Luis Nassif ONLINE