No dia de hoje, 31 de janeiro, um jornal de circulação restrita ao Rio de Janeiro, publicou uma “denúncia” de que marinheiros a bordo do Porta-Aviões São Paulo, navio Capitânia da Esquadra brasileira, teriam delatado queimaduras em três militares, risco de explosão e incêndio a bordo, além de um vazamento de óleo na Baía de Guanabara.
Em Nota à Imprensa, emitida pelo Comando do 1º Distrito Naval, a Marinha admitiu que ocorreu um pequeno derramamento de óleo a partir de uma tubulação e que, imediatamente, foram instaladas barreiras de contenção em torno do navio e acionado o Plano de Emergência para evitar poluição do mar, o que permitiu o recolhimento do resíduo despejado.
Também esclarece que ocorreu um vazamento de vapor do navio (dia 29), no local onde se encontravam três integrantes da tripulação, sem consequências posteriores e que, por precaução, os militares foram encaminhados para atendimento médico e liberados posteriormente, por não apresentarem qualquer ferimento.
A nota nada fala sobre problemas em um dos refeitórios, o que nos leva a desconfiar da veracidade da informação publicada.
Qualquer cidadão, interessado ou não em temas afetos à Defesa Nacional, sabe que a profissão militar difere de todas as outras pelos riscos inerentes àqueles que se voluntariam a segui-la. Militares, neste caso os marinheiros do NAeSão Paulo, não são o equivalente castrense a funcionários públicos, pagos para cumprir expediente dentro de um horário fixo.
Militares, homens e mulheres que entram para tão específica carreira, que não querem sentir calor, que querem retornar para casa diariamente em torno das 17 horas, que não querem estar em missão nos finais de semana e feriados, que não querem se submeter às demandas físicas e psicológicas da profissão que escolheram, que pensam que nunca vão precisar colocar sua vida em risco, devem ter um resquício de coragem moral e pedir baixa de tão nobre carreira.
Nos espanta que tripulantes do mais importante navio de nossa Marinha, usem de um subterfúgio covarde, que é a denúncia anônima à um jornal, para atacar a Instituição que escolheram servir e não se utilizem das vias institucionais internas, que existem e são utilizadas por aqueles que realmente podem ser chamados de “Marinheiros”, com “M” maiúsculo, para apresentar suas demandas.
Nos surpreende, ainda mais, que um jornal que pretende ser reconhecido como um meio de comunicação crível, publique denúncias anônimas sem verificar a veracidade das mesmas junto à Marinha do Brasil, Instituição que preza pela verdade e absoluta transparência.
Também nos causa pasmo a publicação de dados que não possuem qualquer resquício de veracidade, e que com uma simples pesquisa ou um telefonema para o Serviço de Comunicação Social da Marinha, evitaria que a autora do texto escrevesse que “se o navio for aposentado, o Brasil não terá mais uma esquadra — pois é necessário um porta-aviões para tal. Dessa forma, vários almirantes de esquadra teriam que ir para a reserva”, entre outros equívocos.
Desta maneira, o DAN se posiciona ao lado da Marinha, e das demais Forças que sofrem “denuncismos” não averiguados, ao lado dos verdadeiros Marinheiros que se esforçam para que o Capitânia de nossa Esquadra retorne ao mar após seu período de manutenção.
Abaixo transcrevemos na íntegra a matéria publicada no jornal “O Dia”:
Três tripulantes queimados e vazamento em porta-aviões da Marinha
Corporação admite que navio São Paulo jogou óleo na Baía e marinheiros denunciam risco
Por Juliana Dal Piva
Rio – Marinheiros a bordo, desde terça-feira, do porta-aviões São Paulo, em exercício em plena Baía de Guanabara, denunciam uma situação de perigo. Os tripulantes revelaram que o navio está despejando óleo no mar devido a um vazamento.
Além disso, problemas na caldeira causaram queimaduras em três militares. Eles também alertam que existe risco de explosão e incêndio. Cerca de mil militares, entre soldados, cabos, sargentos e oficiais, estão embarcados sob o comando do contra-almirante José Renato de Oliveira. Segundo os marinheiros, o oficial se recusa a encerrar o exercício apesar do perigo oferecido à tripulação. Após o contato da reportagem com a Marinha ontem, o comando teria proibido o uso do celular pessoal, segundo denúncias.
Os embarcados não quiseram se identificar com medo de represálias, e informaram que desde terça-feira o navio também apresenta um problema em um dos dois refeitórios que servem a cabos e marinheiros — logo o que alimenta a maior parte da tropa. A água do mar estaria entrando no local, que estaria interditado. Além disso, alguns marinheiros estão passando mal com as altas temperaturas da cidade e a ausência de ar-condicionado.
Sem previsão
A previsão inicial era de que o exercício terminasse na sexta-feira, mas o comando teria avisado à tropa ontem de que não há mais previsão de término, o que preocupa os parentes dos tripulantes.“Estamos muito apreensivos com toda essa situação”, contou um familiar que não quis se identificar.
O porta-aviões é a única embarcação do seu tipo no Hemisfério Sul e um dos 20 do seu modelo em atividade no mundo. A atividade desempenhada é tão específica, que só nove países operam navios semelhantes. Mas o equipamento no Brasil sofre com a infraestrutura. Foi comprado já usado da França em 2000.
Procurada, a Marinha admitiu que ocorreu um “pequeno derramamento de óleo a partir de uma tubulação” e que foram colocadas barreiras de contenção, em torno do navio. O plano de emergência foi acionado para o recolhimento do resíduo despejado. Sobre os militares feridos na caldeira, eles já foram medicados e liberados, diz a Marinha.
Quatro mortes, incêndios e cinco anos parado
Desde que foi comprado em 2000, o porta- aviões já teve quatro marinheiros mortos e 13 feridos em, pelo menos, seis grandes incêndios. Em 2005, o navio chegou a parar por cinco anos, mas voltou a operar. Em 2012, na tragédia mais recente, o marinheiro Carlos Alexandre dos Santos Oliveira, de 19 anos, morreu durante um incêndio na antessala do alojamento em que se encontravam os militares. Além dele, ficaram gravemente feridos José de Oliveira Lima Neto e Jean Carlos Fujii de Azevedo.
Naquela ocasião, tripulantes também denunciaram para a coluna ‘Força Militar’ que os problemas iniciaram logo que a embarcação deixou o cais, mas o comando decidiu seguir viagem. Há dois anos também ocorreram focos de incêndio na caldeira, e também foram registrados problemas na chaminé e nas máquinas.
A estimativa é de o navio tenha custado U$ 12 milhões, mas o problema é que só para a modernização ainda foram gastos outros US$ 90 milhões, nos últimos dez anos. Apesar dos evidentes problemas de manutenção, militares avaliam que se o navio for aposentado, o Brasil não terá mais uma esquadra — pois é necessário um porta-aviões para tal. Dessa forma, vários almirantes de esquadra teriam que ir para a reserva.