Pelas qualidades de bravura e presença de espírito demonstradas em ação, teve o reconhecimento do Imperador D. Pedro II, que o condecorou com a Ordem de Cristo, no grau de Cavaleiro. Essa condecoração nos remonta à secular Ordem de Cristo, que incentivou a navegação e a expansão do Império Português, tendo como emblema a Cruz da Ordem de Cristo, que adornava as velas das caravelas que exploravam os mares desconhecidos.
Esse forte simbolismo da Escola de Sagres, que marcou o início da carreira do jovem Vital de Oliveira, foi oprenúncio do elevado pendor que iria demonstrar para as lides do mar, em paz ou na guerra.
Nos quatorze anos que se seguiram, o Primeiro-Tenente e depois Capitão-Tenente Vital de Oliveira realizou diversos levantamentos hidrográficos ao longo da costa brasileira, desde o litoral do Rio Grande do Norte até Santa Catarina, e ainda ao longo do Rio Meriti, de forma meticulosa e incansável, o que lhe rendeu outro reconhecimento do governo imperial, que lhe confiou uma nova missão, mais ampla e ambiciosa: realizar o levantamento da carta geral da costa do Império.
Mas em 1865, esse empreendimento foi interrompido pela guerra em que o Brasil se envolveu. O Capitão-de-Corveta Vital de Oliveira passou então a cumprir diversas missões no Teatro de Operações, até ser atingido mortalmente pela artilharia inimiga, quando no comando do Couraçado “Silvado”, da Segunda Divisão de Esquadra, durante o bombardeio de Curupaití.
Vital de Oliveira não chegou a ver em seus punhos os galões de Capitão-de-Fragata, pois o Decreto que o promovera chegou à esquadra em operações de guerra, onde servia, dias depois da sua morte. Pelos destacados feitos, como dedicado hidrógrafo em tempo de paz e heroico combatente em tempo de guerra, Vital de Oliveira é nosso hidrógrafo padrão. É o Patrono da Hidrografia brasileira e na data de seu nascimento, 28 de setembro, comemoramos o Dia do Hidrógrafo.
Nesse dia, quando reverenciamos o nosso Patrono, nada mais justo que relatar alguns fatos significativos que estão ocorrendo no âmbito do Serviço Hidrográfico Brasileiro, que contribuem para engrandecer a Marinha do Brasil e o nosso País.
O exponencial desenvolvimento da tecnologia nas áreas da hidrografia e cartografia náutica tem sido acompanhado pela DHN e suas OM subordinadas. O NHo “Taurus”, do Grupamento de Navios Hidroceanográficos (GNHO), irá instalar até o final do ano um moderno ecobatímetro multifeixe, em gondola projetada sob o seu casco, possibilitando um acurado conhecimento da morfologia submarina por meio da total ensonificação do fundo do mar. Recurso esse que já está instalado no NHi “Sírius” e no NPo “Almirante Maximiano”.
O Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), por sua vez, já tornou operacional um moderno banco de dados para produção cartográfica, conhecido como HPD, que o coloca no estado da arte dos mais avançados Serviços Hidrográficos do mundo.
A partir desse banco de dados, foram publicadas 35 novas edições de cartas náuticas no último ano; e prontificadas 128 das 158 cartas eletrônicas vetoriais planejadas, o que já é suficiente para cobrir 100% das águas jurisdicionais brasileiras.
A Base de Hidrografia da Marinha em Niterói (BHMN) passou a imprimir cartas náuticas na modalidade “sob demanda”, em “plotters” que recebem arquivos eletrônicos diretamente do HPD, proporcionando maior confiabilidade e economia, uma vez que reduz a necessidade de manter cartas em estoque. Desde quando esse sistema entrou em operação, em SET/2012, já foram impressas mais de 6.500 cartas náuticas “sob demanda”.
O parque gráfico da BHMN está se modernizando para melhor atender a demanda de publicações e cartas náuticas: as chapas de impressão offset são gravadas a laser, com informações recebidas diretamente do computador, usando a tecnologia “Computer to Plate” (CTP), que elimina produtos químicos e ajuda a preservar o meio ambiente; uma avançada impressora offset, de grande porte, está em fase final de instalação, que permitirá imprimir as quatro cores de uma só vez, com ajustes feitos por computadores; e está previsto ocorrer em 2014 uma significativa modernização nas instalações e maquinário do setor de acabamento e encadernações. Também sob responsabilidade da BHMN, está em andamento a modernização da rede elétrica do Complexo Naval da Ponta da Armação (CNPA), prevista para ser concluída em JUN/2014, quando as novas instalações de redes elétricas e de dados ficarão subterrâneas.
Para disponibilizar aos navegantes, de forma mais rápida, prática e segura, a qualquer hora, cartas náuticas e publicações de segurança da navegação, desde julho deste ano a DHN, em parceria com a EMGEPRON, passou a comercializar esses produtos pela internet.
Buscando aperfeiçoar a eficácia das operações navais, destaca-se a continuidade do aprimoramento dos produtos de cartografia, meteorologia e oceanografia para emprego pelos meios operativos, segundo metas estabelecidas no Plano de Desenvolvimento do Programa Oceano (PLADEPO), para o quadriênio 2013-1016.
Com relação à Amazônia, ressalta-se a continuidade das ações desenvolvidas no âmbito do acordo de cooperação estabelecido entre a MB e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM-MD), buscando desenvolver a capacidade de atualização da cartografia náutica das principais hidrovias da região.
Para participar dessa atividade, foram incorporados recentemente quatro Avisos Hidroceanográficos Fluviais, o “Rio Tocantins”, o “Rio Xingu”, o “Rio Solimões” e o “Rio Negro” e, em 2014, deverá ser incorporado o Navio Hidroceanográfico Fluvial “Rio Branco”. Além disso, foram adquiridos diversos equipamentos e softwares para o SSN-4, em Belém, e o futuro SSN-9, em Manaus, que será inaugurado no final deste ano, permitindo maior autonomia para esses Serviços na atualização cartográfica local.
Continuamos a realizar o esforço em delimitar a última fronteira do País, que é o limite exterior da nossa plataforma continental marítima, além das 200 milhas. Após a conclusão da coleta de novos dados geofísicos das margens Sul, Leste e Equatorial inicia-se, no âmbito do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), a etapa de elaboração dos relatórios de submissão, a serem apresentados à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) das Nações Unidas. Esses relatórios serão elaborados por um Grupo de Trabalho composto por representantes do MRE, MME, MB e especialistas jurídicos e geólogos, que responderão às recomendações feitas pela CLPC, buscando incorporar os cerca de 190 mil km2 de solo e subsolos marinhos questionados por aquela Comissão, de um total de 960 mil km2 pleiteados pelo Brasil.
Com relação aos Navios Antárticos do GNHo, cabe destacar algumas das melhorias implementadas para a OPERANTAR XXXII, que se iniciará no dia 06/OUT, com o suspender desses navios do Rio de Janeiro com destino ao continente antático, onde prestarão apoio logístico à Estação Antártica Comandante Ferraz. O NApOc “Ary Rongel” instalou uma Unidade de Tratamento de Águas Servidas (UTAS) e uma nova antena de comunicação satelital da Banda “X” e o NPo “Almirante Maximiano” recebeu um novo equipamento de pesquisa, o gravímetro. O CHM, em conjunto com os pesquisadores da Rede de Modelagem e Observação Oceanográfica (REMO), continuará disponibilizando para esses navios informações sobre Concentração de Gelo Marinho no continente Antártico, com a finalidade de apoiar a tomada de decisões no que tange ao deslocamento dos meios navais naquela região.
Considerando a necessidade de atender as prioridades estabelecidas pelo Programa Nacional de Dragagem Portuária e Hidroviária (PND), algumas medidas têm sido adotadas, tais como: aumentar a quantidade dos especialistas necessários para realizar levantamentos hidrográficos, cartas náuticas e projetos de balizamento, por meio da criação do Curso de Especialização em Hidrografia extra-MB, em parceria da DHN com a UFF, UERJ e UFPR; disponibilizar vagas nos Cursos de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais e nos Cursos de Aperfeiçoamento e de Especialização em Hidrografia e Navegação para Praças, visando prover capacitação aos quadros da Secretaria de Portos (SEP) e das Autoridades Portuárias; realização de Estágios de Qualificação em levantamentos Hidrográficos, para empresas envolvidas com essa atividade; incrementar a capacitação do Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego (CAMR) para análise de projetos de sinalização náutica de canais de acesso aos portos e terminais, incluindo a navegabilidade segura desses canais, por meio de treinamentos e obtenção de “softwares” para simulação.
Na área de sinalização náutica e navegação está em elaboração, pelo CAMR, o planejamento da modernização das estações DGPS, que operam associadas aos radiofaróis, permitindo ampliar o alcance desse auxílio à navegação para aproximadamente 200MN, com potencial para atingir os limites da Amazônia Azul. Está já em curso a modernização de uma estação para este ano, a do Radiofarol São Tomé.
Em 2013, a DHN expediu Portarias autorizando, de acordo com a NORMAM sobre o assunto, os projetos para implantação dos Serviços de Tráfego de Embarcações (VTS) nos portos do Rio de Janeiro e Vitória que, juntamente com o porto de Santos (já autorizado desde 2010), iniciaram seus processos de licitação. Além disso, o CAMR concluiu recentemente o processo de credenciamento da primeira empresa no Brasil para oferecer cursos e treinamentos sobre operação de VTS.
No âmbito do nosso Serviço Meteorológico Marinho (SMM), corroborando a qualidade das suas previsões, continuam as tratativas da Autoridade Pública Olímpica (APO) com a DHN para, em conjunto com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), realizar o acompanhamento e assessoramento visando à organização e planejamento das atividades de previsão meteorológica para os Jogos Olímpicos Rio-2016, nas modalidades de vela, maratona aquática, remo e canoagem.
Com relação às atividades de oceanografia, destaca-se que o NHo “Cruzeiro do Sul”, do GNHo, está concluindo a instalação do arco de popa e em 2014 irá instalar um guincho geológico, ampliando significativamente sua capacidade de realizar pesquisas oceanográficas. Além disso, em uma iniciativa da MB, MCTI, PETROBRAS e VALE, está sendo obtido o NPqHo “Vital de Oliveira” (H-39), um moderno navio de pesquisas, em construção na China, com previsão de estar pronto em DEZ/2014, ficando subordinado ao GNHo. O navio terá um deslocamento de 4.150 ton, sendo equipado com ecobatímetro multifeixe, dois guinchos oceanográficos, um guincho geológico, uma embarcação submersível tipo ROV e duas lanchas com multifeixe. Haverá 45 vagas disponíveis para pesquisadores embarcarem no navio.
O Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas e Hidroviárias (INPOH), criado recentemente e com previsão de ter quatro Centros de Pesquisa subordinados, incrementará a produção de dados oceanográficos no País. Diante dessa expectativa, a DHN, por meio do CHM, está finalizando uma proposta de projeto de modernização do Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO), que opera sob sua responsabilidade, servindo como Centro Depositário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI), e integrando o Sistema Mundial de Dados Oceanográficos. Este projeto, elaborado com o apoio do CASNAV, uma vez implementado, contemplará a comunidade científica com um sistema mais ágil e confiável de consulta a dados oceanográficos, inclusive com a implantação de um portal WEB.
Família Hidrográfica! Este dia também é a ocasião para prestarmos nossa homenagem maior, a concessão do “Mérito Hidrográfico”, que este ano vai para uma pessoa muito especial, muito querido de todos nós da Confraria do Bode Verde, e que a receberá daqui a pouco, das mãos do Comandante da Marinha e ex-Diretor de Hidrografia e Navegação, Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto, que muito nos honra com a sua presença.
Também em breve, faremos a entrega do título de “Hidrógrafo Honorário”, destinado àqueles que mais se destacaram na contribuição para o engrandecimento do nosso Serviço Hidrográfico. Expresso aos que serão agraciados os sinceros cumprimentos e agradecimentos em nome da comunidade hidrográfica.
Agradecemos, ainda, a presença dos ex-Ministros e ex-Comandantes da Marinha, Ministros do STM, ex-Diretores de Hidrografia e Navegação, em especial do Comandante de Operações Navais e Diretor-Geral da Navegação, Almirante-de Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca, bem como a presença dos membros do Almirantado, senhores Almirantes, oficiais, aspirantes da Escola Naval, praças, servidores civis e os representantes das instituições parceiras, que em muito abrilhantam esta cerimônia.
Por fim, cumprimento todos os hidrógrafos pelo seu dia. Os senhores são o nosso maior patrimônio!
“Nós somos do Nauta a estrela guia
Que ilumina a derrota a percorrer,
Hidrografia! Hidrografia!
Restará sempre muito o que fazer…”
ANTONIO REGINALDO PONTES LIMA JUNIOR
VICE-ALMIRANTE
DIRETOR
NOTA do EDITOR: Parabéns a todos os Hidrógrafos, em especial ao meu tio Comte. Wiltgen.