Países precisam fazer frente à China, alerta líder da Otan

Presidente da China, Xi Jinping




Por Michael Peel, Helen Warrell, Erika Solomon e Katrina Manson – Financial Times

A autoridade máxima da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) advertiu que a China está “multiplicando as ameaças a sociedades abertas e às liberdades individuais” e conclamou os países de inclinações afins a aderirem à aliança militar para fazer frente à “intimidaçãoe à coerção”.

Jens Stoltenberg, o secretáriogeral da aliança militar do ocidente, insistiu que Pequim não era “o novo inimigo”, enquanto procurava minimizar as tensões internas da Otan, após relatos de que os EUA planejam tirar quase 10 mil soldados baseados na Alemanha.

Oirta aviões Liaoning da Chinese People’s Liberation Army (PLA) Navy com Task Force chinês. REUTERS/Stringer

Ele disse que a crise da covid-19 “intensificou as tensões e tendências pré-existentes no que tange à nossa segurança”. O despontar da China como o segundo maior país em gastos militares mundiais exige “um enfoque mais global” da Otan, que reúne 30 países.

Seus comentários refletem como a China vem subindo na agenda da aliança de 71 anos, criada durante a Guerra Fria como um baluarte contra a União Soviética. Os EUA, sob o governo Donald Trump, têm buscado apoio internacional para uma postura mais durapara com a China.

“A ascensão da China está mudando fundamentalmente o equilíbrio global de poder, aquecendo a corrida por supremacia econômica e tecnológica, multiplicando as ameaças às sociedades abertas e às liberdades individuais, aumentando a disputa em torno dos nossos valores e modo de vida”.

“Eles estão se aproximando de nós no ciberespaço, estamos vendo-os no Ártico, na África, investindo em nossa infraestrutura crítica”, disse Stoltenberg sobre a China em evento patrocinado por dois institutos de análise e pesquisa, o Conselho do Atlântico e o Fundo Marshall Alemão dos EUA.

“E eles estão trabalhando cada vez mais com a Rússia. Tudo isso tem consequências de segurança para os aliados da Otan.” Perguntado se a China é o “novo inimigo” da Otan, Stoltenberg insistiu que Pequim não é um adversário. Mas destacou que os dirigentes da Otan concordaram em dezembro, pela primeira vez na história da aliança, em enfrentar o impacto sobre a segurança representado pela ascensão da China, inclusive o desenvolvimento pelo país, de mísseis capazes de atingir países aliados da Otan.

Ele também tentou minimizar as tensões internas da Otan, após notícias de que os EUA pretendiam retirar quase 10 mil soldados estacionados na Alemanha. O Reino Unido, que em abril anunciou uma nova avaliação de segurança sobre o papel da chinesa Huawei nas redes 5G, já indicou que reexaminará os laços comerciais com Pequim à luz da crise do vírus. Jeremy Fleming, diretor do órgão britânico de inteligência GCHQ, disse na semana
passada que a covid-19 pôs a ascensão da China “em primeiro plano”na cabeça das pessoas.

Soltenberg disse que a Otan tem de trabalhar em colaboração “ainda mais estreita” com países como Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul a fim de proteger as instituições globais e fixar normas para o espaço sideral, para o ciberespaço, para novas tecnologias e para o controle armamentista mundial. Juntos, eles deveriam “em última instância, defender um mundo erigido sobre a liberdade e a democracia, não sobre a intimidação e a coerção”, acrescentou.

O tratamento dado pela China à pandemia intensificou as tensões pré-existentes com países da Otan e alheios à organização. Pequim nega acusações de que omitiu informações nos cruciais estágios iniciais da epidemia e que depois teria disseminado desinformação, a fim de esconder suas origens em Wuhan. Agências de inteligência dos EUA advertiram no mês passado que Pequim estaria redirecionando os esforços de espionagem para roubar pesquisas sobre tratamentos e vacinas contra o coronavírus por meio de ciberataque às instituiçõesde saúde americanas.

Stoltenberg preferiu não comentar notícias divulgadas pela mídia sobre os planos de Washington para a retirada dos soldados estacionados na Alemanha. A notícia causou temores entre os políticos alemães, embora Berlim diga não ter recebido qualquer confirmação oficial da parte dos EUA.

“Até agora, só sabemos o que saiu na imprensa”, disse Anneret Kramp-Karrenbauer, a ministra da Defesa. “Na verdade, a presença de soldados dos EUA na Alemanha atende à segurança geral da aliança e portanto também à segurança americana.”

John Ullyot, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, disse que Washington “não tem qualquer anúncio no momento” sobre a questão. Ele disse que Trump “reavalia continuamente a melhor situação para as forças militares e para a nossa presença no exterior”.

FONTE: Valor

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