Por Anna Fifield – The Washington Post
Os Estados Unidos devem abandonar seu “desejo de mudar a China” e parar de empurrar os dois países “à beira de uma nova Guerra Fria”, disse o ministro das Relações Exteriores chinês Wang Yi neste domingo, tentando posicionar Pequim como a adulto em uma relação bilateral cada vez mais fragmentada.
Com as tensões entre as duas maiores economias do mundo aumentando a cada dia, Wang aproveitou a oportunidade de uma entrevista coletiva durante a peça anual de teatro político conhecida como Congresso Nacional do Povo para enviar uma mensagem direta a Washington.
“A China não tem intenção de mudar, menos ainda substituir os Estados Unidos”, disse Wang no domingo diante de um grupo selecionado de jornalistas. “É hora dos Estados Unidos desistirem de seu desejo de mudar a China e impedir 1,4 bilhão de pessoas em sua marcha histórica em direção à modernização”. Em um aceno ao presidente Donald Trump e ao secretário de Estado Mike Pompeo, que sugeriram repetidamente que o Partido Comunista Chinês, no poder, é uma ameaça ao mundo, Wang disse que os políticos americanos “estão levando a relação China dos dois países à beira de uma nova Guerra Fria.”
“Essa perigosa tentativa de reverter a vontade da história, destruirá os frutos de décadas de cooperação China-EUA, atenuando as perspectivas de desenvolvimento dos próprios Estados Unidos e colocando em risco a estabilidade e a prosperidade do mundo”, disse Wang. Sob Trump, cujo governo classificou a China como um “concorrente” estratégico em sua primeira estratégia de segurança nacional, Pequim e Washington entraram em conflito sobre tudo, desde comércio e tecnologia a direitos humanos e o status de Hong Kong.
Washington vê a China como uma força maligna para remodelar o mundo à sua imagem, enquanto Pequim pensa que os EUA estão tentando conter sua ascensão ao seu devido lugar como uma superpotência global. Este ano, o conflito assumiu uma nova dimensão com o surgimento do novo coronavírus na cidade chinesa de Wuhan. Com mais de 100.000 mortes nos EUA, o governo Trump vem tentando colocar totalmente a culpa pela pandemia no Partido Comunista da China. Isso inclui, mais recentemente, uma alegação do consultor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, de que a China “enviou centenas de milhares” de pessoas infectadas com o vírus em aviões para “semear” o vírus em todo o mundo.
O Global Times, um jornal afiliado ao Partido Comunista, informou no domingo que a China estava “considerando contramedidas punitivas” contra alguns políticos americanos, liderando os esforços para responsabilizá-lo pelo vírus. Entre eles estavam Eric Schmitt, o procurador-geral do Missouri que entrou com uma ação contra a China em busca de indenização pela pandemia de coronavírus, e congressistas como os senadores Josh Hawley e Tom Cotton, informou o jornal, citando “fontes próximas ao assunto” anônimas.
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN