Por Luiza Guitarrari
Tecnologias disruptivas são um fator relevante entre os principais players do sistema internacional. Na última década, países como China, Estados Unidos e Rússia vêm desenvolvendo novos sistemas de armamento para suas Forças Armadas, com destaque para as capacidades hipersônicas.
Embora ainda não regulamentados pelo Direito Internacional, mísseis hipersônicos podem garantir capacidade estratégica e operacional críticas perante o teatro de guerra. Destarte, em meio às tensões com o Ocidente, o governo russo tornará a modernização do seu arsenal uma prioridade.
Diante disso, como os mísseis hipersônicos poderão delinear a postura militar russa?
Mencionado pela primeira vez em março de 2018 por Vladimir Putin, os mísseis hipersônicos fazem parte do conjunto de “armas invencíveis”, previsto pelo State Armament Program (SAP 2018-2027). A inovação por trás do armamento está em sua furtividade, capacidade de manobra e precisão, características que podem privar o adversário do tempo de reação e uso de meios convencionais de bloqueio, vide a dificuldade de detecção por sistemas de defesa antimísseis. Assim, a Marinha russa, visando balancear o corte de orçamento de US$ 29,5 bilhões do SAP-2027, deve integrar os mísseis ao seu sistema de armamentos a partir de 2022. Desse modo, o comissionamento de mísseis hipersônicos, como o Tsirkon 3M22, objetiva equipar fragatas e submarinos russos, enquanto reduz os custos de aquisição de navios maiores, como porta-aviões e destróiers.
Nesse panorama, em 04 de outubro, o Ministério da Defesa russo confirmou que testes com o míssil Tsirkon no Mar Branco atingiram com sucesso um alvo no Mar de Barents. O míssil, que ainda poderá agregar ogivas nucleares, foi lançado a partir do submarino Severodvinsk, do projeto 885 Yasen, enquanto este estava sob uma profundidade de 40 metros abaixo da superfície.
O Tsirkon é o primeiro míssil de cruzeiro hipersônico a ser comissionado em posição submersa, tornando-se uma
ferramenta eficaz contra alvos móveis, como navios adversários. Ainda de acordo com o Ministério, o míssil alcançou a marca de velocidade supersônica Mach 9, atingindo seu alvo a 1.500 km de distância.
O uso de armas hipersônicas pela Rússia é, portanto, uma ferramenta que moldará o ambiente estratégico, uma vez que exigirá dos Estados sistemas mais sofisticados de longo alcance. Além disso, constitui um segmento de armamentos modernos nas Forças Armadas russas que poderão delinear uma nova maneira de pensar o teatro de operações e a Guerra Convencional.