Por Israel Blajberg
Capaz de lançar uma granada de 105mm a uma distancia de 11km, o obuseiro autopropulsado M108 AP era uma viatura blindada sobre lagartas pesando 21 ton, projeto do final da década de 50 que teve seu batismo de fogo no Vietnam em 1967. Alguns anos depois o Brasil adquiriu 72 dessas viaturas, que equiparam 6 Grupos de Artilharia, até que em 2017 o Estado Maior do Exército determinou sua desativação, após o recebimento das novas viaturas M109A5, de 155mm com alcance de 30km.
Alguns M 108 AP poderão ser negociados ou doados a exercitos de nações amigas. A viatura que foi incorporada hoje ao acervo do Museu Militar Conde de Linhares (MMCL), prestou relevantes serviços na AMAN durante mais de 40 anos, na instrução dos Cadetes do Curso de Artilharia. A peça já pode ser apreciada no pátio do Museu, ostentando singela placa marcando a doação, efetivada formalmente em solenidade no dia 03/06/2022 em cerimônia presidida pelo Gen Div Ribeiro, VCh DECEX, onde compareceram o Gen Bda Sibinel, Dir PHCEx, Gen Bda Fabiano, Cmt AD/1, Gen R/1 William, Assessor do DECEX e Cel Moraes, Dir MHEx/FC.
Estavam presentes também, os integrantes da OVArt – Ordem dos Veteranos Artilheiros, recordando os tempos em que eles mesmos serviram em unidades dotadas deste material, e o Sgt R/1 Cruz, que durante quase 40 anos atuou na AMAN como CP – Chefe de Peça desta viatura. O evento se insere nas comemorações do 10 de Junho – Dia da Artilharia.
O 21º Grupo de Artilharia de Campanha era um dos mais antigos quarteis do Exercito, nas proximidades da Quinta da Boa Vista, ao longo da linha da Central. Hoje por ali, apenas o Centro Hipico do Exercito subsiste, herdeiro das Cavalariças Reais. Alem do 21º, não estao mais de pé o quartel da Infantaria Blindada nem a Escola de Veterinária, com seus belos vitrais.
O Rio de Janeiro já não concentra mais o grosso do Exercito, após remanejamentos para a Amazônia e para o Sul, alienações, enfim, o quartel do 21º foi um dos que desapareceram no bôjo das mudanças. No local, proximo ao Maracanã, a FIFA instalou tendas brancas e estacionamentos para a Copa do Mundo. Restou do 21º a fachada do Corpo da Guarda, em meio as obras do Anexo para abrigar os salvados do incêndio do Museu Nacional da UFRJ, novo ocupante do terreno. A cada dia que passa a quase ruína se mostra ainda mais deteriorada. Na época da Copa, ainda chegou a abrigar moradores de rua, hoje nem para isso poderia se prestar. Mesmo assim o brasão das Armas da Republica ainda resiste ao sol e a chuva, as cores esmaecendo. O Corpo da Guarda teima em nao desabar, nao desaparecer.
Em 1927, naquele quartel da Artilharia, o bravo Capitão Correia Lima criou o primeiro CPOR do Brasil. Mais tarde dali partiram em 1944 os soldados de um dos Grupos de Artilharia da FEB, embarcando em uma madrugada distante nos trens que os levariam para o Cais do Porto, rumo ao desconhecido. Tantas vezes se ouviu o ribombar do obuseiro 105mm, comemorando o 1º Tiro da Artilharia Brasileira na Itália, os acordes da Banda de Música animando os desfiles dos Veteranos, as recordações dos náufragos de 1942.
Hoje apenas o silêncio, já que as obras, previstas para terminar em 2020, mal foram iniciadas, encontrando-se paradas. Ao aproximar-se o 10 de Junho, Dia da Artilharia, recordamos o antigo quartel, na esperança de que pelo menos a fachada ainda possa vir a ser preservada, sob as bençãos da Padroeira Santa Barbara. Seria a melhor homenagem que poderia ser prestada a todos os Bravos Soldados, que ao longo dos séculos cruzaram aquele Portão das Armas.
Todas as fotos são do autor!