Com 400 marinheiros russos a bordo, teve inicio na segunda-feira, o treinamento a bordo do porta-helicópteros da classe Mistral, Vladivostok, que a França vendeu à Rússia, indo de encontro aos interesses econômicos do Ocidente sobre postura política de Moscou.
A venda de dois navios de guerra da classe Mistral à Rússia por 1,2 bilhões de euros, levou a indignação dos parceiros ocidentais da França, que disseram que o país deve apoiar os esforços para isolar a Rússia, em resposta a anexação da Criméia e os tumultos subsequentes no leste da Ucrânia. A França defendeu sua decisão, dizendo que rescindir o acordo prejudicaria Paris mais de que a Moscou.
“Para a França, o contrato do Mistral representa mais do que apenas um bilhão de euros”, disse Vadim Kozyulin, pesquisador sênior do Centro de Moscou de Estudos Políticos da Rússia.
“A França e a Rússia tem cooperado extensivamente no domínio militar da tecnologia óptica, eletrônica e de navegação aérea. Se a França aceitasse o cancelamento da venda a Rússia dos navios, isso teria prejudicado todos os aspectos a cooperação técnica bilateral com a Rússia e outros países também. Você não pode prejudicar a sua reputação em um negócio como este. “
O presidente Vladimir Putin disse à rede de televisão TF1 da França em junho, que a compra dos navios, era a primeira grande compra de armas estrangeiras de Moscou desde o colapso da União Soviética, e isso poderia de fato, levar a maior cooperação técnica bilateral com a França.
“Esperamos que nossos parceiros franceses cumpram as suas obrigações contratuais, e se tudo correr bem, não se descarta a possibilidade de novas encomendas – e não necessariamente na construção naval”, disse ele.
A decisão da França de cumprir as suas obrigações contratuais com a Rússia, apesar da pressão de seus aliados, é também em decorrência das realidades econômicas internas do país, de acordo com Olivier de France, diretor de pesquisa do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicas.
“Apesar de todas as declarações de intenções – incluindo a ideia de que a OTAN iria absorver os navios destinados a Rússia -, vemos que o fator determinante na decisão francesa está relacionado com preocupações de qualquer país durante um período de incerteza econômica: o emprego e os interesses industriais”, disse ao The Moscow Times.
O governo francês disse que a construção dos dois navios de guerra para a Rússia, representam 5.000 mil horas de trabalho e geram 1.000 postos de trabalho, por um período de quatro anos, aliviando a taxa de desemprego do país, que subiu para 10,1 % durante o primeiro trimestre de 2014, de acordo com o Instituto Nacional da França de Estatística e Estudos Econômicos.
No início de junho, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que teria sido melhor para a França “ter pressionado o botão de pausa” em seu acordo com a Rússia.
Em meio a conversas sobre a imposição de sanções adicionais contra a Rússia, representantes de empresas americanas e europeias, têm pressionado seus governos, instando-os a estar atentos ao efeito negativo de sanções econômicas contra os seus interesses comerciais.
Em última análise, a decisão de auto-interesse da França para ir em frente com o negócio Mistral representa uma vitória política para a Rússia.
“Em um nível puramente técnico, não seria o fim do mundo se a Rússia nunca recebesse os dois navios da França”, disse Kozyulin.
“O que é mais importante aqui, é que o cumprimento das suas obrigações contratuais, e a França dá a impressão de que a Rússia não foi alvo de sanções econômicas ocidentais. Este é um papel crucial para a Rússia no cenário político. “
FONTE: The Moscow Times
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval