Separatistas removem população da zona de conflito para o lado russo da fronteira, enquanto as duas partes se acusam mutuamente de agressões. Ocidente diz que Moscou prepara simulação de ataque para justificar invasão.
Novos desdobramentos na fronteira da Rússia com a Ucrânia nesta sexta-feira (18/02) elevaram as tensões e os temores de um conflito armado na região.
Milícias separatistas relataram uma explosão de um carro-bomba próximo à sede do autoproclamado governo local em Donetsk, segundo com informações de diversas agências de notícias russas. Apesar de a explosão ter sido bastante grande, não houve feridos, de acordo com relatos de testemunhas.
Grupos rebeldes começaram a evacuar a população civil da zona de conflito. O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou ao Ministro de Emergências de seu governo que viajasse até a fronteira para organizar abrigo para as pessoas que deixarem a região de Donbass, onde ficam as duas autoproclamadas repúblicas populares dos separatistas, em Lugansk e Donetsk.
“Putin instruiu o ministro a se deslocar com urgência para a região de Rostov [próxima à fronteira] para organizar os trabalhos e criar as condições para acomodação, fornecimento de refeições quentes e tudo o que for necessário, incluindo cuidados médicos”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmirty Peskov.
O governo russo oferece uma recompensa de 10 mil rublos (aproximadamente 663 reais) para cada pessoa que buscar abrigo no lado russo da fronteira. Esse total equivale a metade de um salário mensal médio na região de Donbass.
Ataque inimigo simulado
Governos ocidentais afirmam que tudo isso seria parte de uma estratégia russa para classificar a Ucrânia como o agressor e, possivelmente, justificar uma invasão ao país vizinho.
Em mensagem de vídeo, o líder do governo separatista de Donetsk, Denis Pushilin, acusou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, de planejar uma ofensiva de suas tropas na região.
Logo após essa declaração, os insurgentes começaram a remover crianças de um orfanato e outros moradores da região, que foram transportados em ônibus para a Rússia. Longas filas se formavam nos postos de combustíveis, enquanto muitos se preparavam para deixar suas localidades por conta própria.
Kiev, porém, negou qualquer intenção de realizar uma ofensiva. O ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, assegurou que seu país não planeja qualquer ação militar em Donbass. “Estamos totalmente comprometidos somente com uma resolução diplomática para o conflito”, afirmou.
Lideranças ocidentais renovaram os alertas de que a Rússia poderá utilizar o conflito no leste ucraniano como pretexto para intervir militarmente no país vizinho.
Agências de inteligência ocidentais estão em alerta para o caso de Moscou realizar uma operação de “bandeira falsa”, ou seja, simule um ataque inimigo para justificar uma agressão à Ucrânia. A inteligência ucraniana relatou que os russos planejariam um ataque à região de Lugansk, que poderia ser utilizado como pretexto para uma ação militar.
Em meio à instabilidade na região, um comboio humanitário do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnur) foi atingido por fogo de artilharia das milícias insurgentes na região de Lugansk, informou o comando militar ucraniano. Não houve vítimas. Os rebeldes negaram qualquer envolvimento a acusaram Kiev de encenar um ato de provocação.
Os separatistas, por sua vez, denunciaram ataques de forças ucranianas na divisa entre os dois territórios. O porta-voz Peskov disse que a situação é “potencialmente muito perigosa”.
Frágil defesa da diplomacia
Apesar de Putin se dizer aberto a uma solução diplomática para a crise, vários desdobramentos ocorridos nesta semana contribuíram para minar sua aparente defesa da diplomacia e aumentar as tensões entre Moscou e o Ocidente, além de intensificar os temores quanto a uma possível guerra na Europa.
Autoridades americanas e europeias denunciaram o aumento do contingente russo na fronteira com a Ucrânia, para onde Moscou teria enviado nas últimas semanas em torno de 150 mil soldados.
Isso, apesar de Putin ter anunciado há poucos dias uma retirada parcial de suas tropas na região. A inteligência americana, porém, disse não ter visto qualquer movimentação nesse sentido.
A Rússia programou para este fim de semana a realização de exercícios de suas forças nucleares, que serão supervisionados pelo próprio Putin, e incluem o lançamento de vários mísseis. O exercício militar é considerado uma tentativa de Moscou de lembrar o mundo de seu poderio nuclear.
A Otan aumentou o nível de alerta para milhares de soldados no Leste Europeu, devido ao agravamento das tensões no leste ucraniano.
FONTE: DW (AP, Reuters, dpa)