Um relatório recente do SAIIA (Instituto Sul-Africano de Negócios Internacionais), um think tank não-governamental, veio analisar a tendência crescente do Brasil de se fortificar no espaço do Atlântico Sul. Sendo o país com maior costa atlântica, estendendo-se esta por 7491 quilômetros, foi desde a descoberta das novas jazidas que o Brasil começou a reforçar atenções militares na região.
Brasília, refere o documento, não só tem estabelecido inúmeras parcerias com os países africanos de costa atlântica, como tem aumentado a capacidade da sua marinha e fortificado a sua presença internacional no que diz respeito aos assuntos de segurança da região.
Segundo o relatório, esta intensificação da defesa é motivada em parte pelo crescente interesse de outros países na região, como a Rússia e a China. Embora o Brasil não os veja necessariamente como ameaças – no caso da China, por exemplo, trata-se de um país parceiro em vários projectos – as novas estratégias do Brasil são justificadas parcialmente por uma noção de que outros países vão ter interesse nos recursos marítimos brasileiros, que é necessário proteger.
O Brasil tem procurado criar uma identidade comum no Atlântico-Sul, e tem assumido um papel de liderança trans-regional nos assuntos de defesa e segurança. Como tal, têm reforçado as suas parcerias com os países africanos de costa Atlântica, fora da sua lógica já prevalente de colaboração Sul-Sul. Isto inclui os membros da CPLP, como é o caso de Angola, um dos principais parceiros políticos e econômicos do Brasil, ou da Guiné-Bissau, onde, no recente período de instabilidade, o Brasil tomou a liderança no comitê de pacificação das Nações Unidas. O Brasil alia-se também a outros países, como a Namíbia, ou a África do Sul, com a qual realiza atividades militares conjuntas. Como tal, o Brasil começa a criar uma “cintura de boa vontade” no Atlântico Sul, afirmam os investigadores do SAIIA.
Mais ainda, o Brasil começou recentemente a modernizar e expandir a sua capacidade militar, com especial atenção às suas capacidades de patrulha da costa. Os seus gastos em defesa, que, até recentemente, eram muito pequenos em comparação com o PIB, cresceram muito nos últimos anos, sendo a marinha o ramo das forças armadas cujo financiamento mais cresceu. Esse financiamento resultou no aumento da compra de armas, de navios, e mesmo na cooperação com a França no desenvolvimento de um submarino de ataque.
Por último, a estratégia de defesa do Brasil relativamente ao Atlântico Sul inclui um reforçar dos seus projetos de investigação na zona costeira e na sua base da Antártica, com o objetivo de conhecer melhor a biodiversidade e de marcar uma presença mais forte no campo científico.
Fonte: Portal LusoMonitor – Marta Silva