Primeira trégua em 5 anos de guerra entra em vigor em uma semana; Otan intervém em crise migratória
– Concordamos com uma suspensão das hostilidades em todo a nação e a ampliação da ajuda humanitária – afirmou Kerry, exortando que sejam retomadas as negociações de paz em Genebra “o mais breve possível”. – Mas isso não significa que a guerra vai acabar num futuro próximo.
Representantes de 17 nações que integram o Grupo Internacional de Apoio à Síria (ISSG) estão reunidos em Munique. O secretário e Lavrov concordaram que o acordo será um “teste real” para ver se todas as partes envolvidas no conflito sírio vão honrar este compromisso. O principal grupo de oposição da Síria saudou o cessar-fogo. Salim al-Mursalat, porta-voz do Alto Comitê de Negociações, órgão designado para representar os rebeldes nas conversas de paz com o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, advertiu, entretanto, que o acordo deve mostrar efeitos antes de seu grupo se juntar a conversações de paz.
– Se virmos ação e execução, vamos vê-los muito em breve em Genebra – disse al-Mursalat.
Paralelamente, ontem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidiu agir para conter a fuga em massa de refugiados pelo Mar Egeu, uma bacia interior do Mar Mediterrâneo e principal ligação marítima entre Turquia e Grécia. Além de cidadãos sírios, são homens, mulheres e crianças que deixam para trás outros conflitos e pobreza em países do Oriente Médio e da África. Patrulhas navais e aeronaves terão a missão principal de impedir as travessias, a imensa maioria realizada por traficantes de seres humanos: cerca de 3.800 imigrantes no ano passado: mais de um milhão entraram na Europa em 2015.
Neste ano, apesar do rigoroso inverno europeu, mais de 76 mil pessoas já realizaram a travessia desde 1º de janeiro – 2.000 por dia -, segundo a Organização Internacional para Migração: número dez vezes maior na comparação com o mesmo período de 2015. E, nestas primeiras seis semanas, 409 já morreram afogadas. Apenas a Grécia recebeu 70.365 refugiados, enquanto outros 5.898 foram para a Itália. A partir destes países, continuam o caminho até países do Norte da Europa.
Relatório aponta 470 mil mortos na Síria
Pela primeira vez, a Otan vai intervir na crise migratória europeia, em resposta a um pedido feito por Turquia, Grécia e Alemanha. Até agora, a aliança se manteve à margem do problema, alegando não possuir mandato para vigiar as fronteiras e combater os criminosos.
– A Otan vinha focando, principalmente, sobre como abordar as causas profundas, para tentar estabilizar os países de onde muitos dos refugiados são provenientes – afirmou, ontem, o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, citando especificamente Afeganistão, Iraque, Tunísia e Jordânia como os países originários dos imigrantes. – A novidade agora é que estamos ampliando e oferecendo diferentes tipos de opções militares, para fornecer ajuda direta às nações.
Uma patrulha naval já foi enviada, e aviões terão missões de Inteligência e vigilância. Ao todo, três navios da Otan estão sendo deslocados para o Mar Egeu. Entretanto, críticos da operação apontam que uma forte presença militar no Mar Egeu poderia encorajar ainda mais as pessoas a tentarem chegar à Europa, pois teriam uma chance maior de não morrerem afogadas.
Ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a ONU de falta de sinceridade ao pedir à Turquia que ajude mais os refugiados em vez de agir para deter o derramamento de sangue na Síria, pedindo que a organização faça mais para evitar o que chamou de “faxina étnica” na nação vizinha.
– Existe a chance de uma nova onda de 600 mil refugiados se os ataques aéreos continuarem – afirmou Erdogan, ameaçando despachar imigrantes para a Europa, enquanto levanta um muro na fronteira com a Síria: – Mostraremos paciência até certo ponto, e depois faremos o que for necessário. Nossos ônibus e aviões não estão esperando à toa.
Um relatório divulgado pelo Centro Sírio de Pesquisa Política mostra que 11,5% da população síria morreram ou ficaram feridas nestes cinco anos de conflito – cerca de 400 mil mortos em combates e outros 70 mil, devido à falta de itens básicos, como água limpa e remédios. São números bem maiores do que os 250 mil mortos divulgados pela ONU. Ainda segundo o centro, a expectativa de vida caiu no país de 70 anos, em 2010, para 55,4 anos em 2015, enquanto as perdas econômicas estão estimadas em US$ 255 bilhões.
FONTE: O Globo