Rússia corta gás para Ucrânia e preocupa Europa

gazprom

Empresa semiestatal russa Gazprom alega dívida de US$ 4,5 bi.

KIEV E MOSCOU – O conflito entre Rússia e Ucrânia chegou, ontem, à esfera econômica e energética. Após quatro meses de confrontos entre tropas leais a Kiev e separatistas russófonos, no Leste ucraniano, e de acusações a Moscou de apoiar e armar os rebeldes, a crise ganhou novos contornos após a empresa semiestatal russa Gazprom cortar, ontem, o fornecimento de gás para a Ucrânia, sob a alegação de que dívidas superiores a US$ 4,5 bilhões (R$ 10,1 bilhões) não foram quitadas.

Além de deixar ucranianos em apuros, já que 60% do gás utilizado pelo país – cerca de 30 milhões de metros cúbicos – provêm da Rússia, o corte também pode afetar a União Europeia (UE), pois 15% do gás consumido anualmente pelo bloco, comprado da Gazprom, transitam por gasodutos que atravessam a Ucrânia.

O combustível abastece Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia, República Tcheca, Áustria, Eslovênia, Itália e Bulgária.

O problema começou em fevereiro, após a queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, pró-Kremlin. Com a ascensão de um governo alinhado com a UE, a Gazprom elevou o preço do gás de US$ 268,50 para US$ 485 por mil metros cúbicos, valor sem precedentes na Europa. Após protestos de Kiev, que queria pagar o mesmo preço ofertado a Yanukovich, na semana passada o governo ucraniano concordou em pagar US$ 326 por um período transitório, até que um acordo duradouro fosse alcançado. Entretanto, Moscou afirmou que o valor mínimo seria US$ 385, que está na média do cobrado a outros países europeus.

No domingo, autoridades russas e ucranianas se reuniram em Kiev, sem êxito. Ontem, o presidente-executivo da Gazprom, Alexei Miller, e o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, se encontraram com o presidente e com o primeiro-ministro russos, Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, respectivamente.

– Por causa da pouco construtiva posição ucraniana, um sistema de pré-pagamento foi introduzido – disse Miller na reunião em Moscou, ressaltando que a posição da Ucrânia “é uma chantagem”. – Eles queriam um preço ultrabaixo.

PLANO RUSSO É DESTRUIR A UCRÂNIA

Em entrevista coletiva, Miller afirmou que, agora, não seria mais suficiente Kiev pagar parte da dívida para restabelecer o abastecimento, que somente seria normalizado após a quitação dos cerca de US$ 4,5 bilhões.

Segundo ele, agora, a Ucrânia só vai receber a quantidade de gás que pagar antecipadamente.

O primeiro impacto do corte da Gazprom foi econômico. O preço do gás disparou na Europa: alta de 10% na Holanda e 8,8% no Reino Unido. Bolsas de valores europeias e da Rússia caíram. O índice russo RTS caiu -1,25%, e os papéis da Gazprom tiveram queda de -0,82%.

O segundo impacto foram as reações dos líderes da Ucrânia e da UE. O primeiro-ministro ucraniano, Arseny Yatseniuk, acusou a Rússia de deliberadamente obstruir um acordo para causar problemas de suprimento de gás no próximo inverno.

– Mas não é apenas sobre gás. É um plano russo generalizado para destruir a Ucrânia – atacou Yatseniuk. – É um novo procedimento contra o Estado e a independência ucranianos.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, conclamou Ucrânia e Rússia a “fazerem um esforço” para chegarem a um acordo.

– A UE está mediando o problema. A proposta na mesa é boa, e gostaríamos que a Rússia aceitasse – afirmou Durão Barroso, ressaltando que o acordo permitiria à Rússia cobrar parcelas em atraso e à Ucrânia pagar um preço justo pelo gás.

O Departamento de Estado dos EUA informou que a proposta da UE é “justa e razoável” e que as negociações devem ser retomadas. A Ucrânia tem 12 bilhões de metros cúbicos de gás em estoque, suficiente para as necessidades do país e da UE durante o verão europeu. Mas uma redução do fornecimento no longo prazo afetaria os consumidores.

FONTE: O Globo

Sair da versão mobile