Por Vanderlei Almeida
Por mais que nunca tenha vivido um atentado terrorista, o Brasil mantém em mente os ataques de Paris e sabe que o Rio de Janeiro pode se tornar um alvo em agosto, durante os Jogos Olímpicos de 2016.
“Ninguém pode ficar indiferente a episódios bárbaros como acontecerem em Paris. Estamos em estado de alerta permanente. Estamos preparados para enfrentar o pior cenário”, explica Andrei Rodrigues, Secretário Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos.
O país já precisou lidar com várias situações de risco nos últimos anos, com a Copa das Confederações e a visita do Papa Francisco em 2013, além da Copa do Mundo de 2014. O esquema de segurança mobilizará 85.000 homens, 35.000 das forças armadas, e os outros 47.000 das Polícias Civil e Militar, Polícia Federal e Defesa Civil.
É a maior mobilização policial registrada no Brasil em tempo de paz, com duas vezes mais agentes do que nos Jogos de Londres-2012. As autoridades listaram 12 ameaças potenciais, entre elas a criminalidade urbana do narcotráfico, os roubos ou as manifestações violentas. Depois dos atentados cometidos pelo Estado Islâmico no ano passado, porém, o terrorismo ficou no topo da lista.
“O risco acompanha as câmeras”
“Como o Brasil não participa dos diversos conflitos no Oriente Médio, poderíamos pensar que não está na mira dos terroristas, ainda mais pela América do Sul estar distante dos pontos de tensão geopolítica do momento”, indaga Pascal Boniface, Director do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
“Mas não podemos esquecer que os terroristas procuram impactar a opinião pública. Tirando a Copa do Mundo de futebol, não exite nenhum evento mundial com mais visibilidade que as Olimpíadas. O risco terrorista acompanha as câmeras”, alerta.
A história olímpica já foi manchada por um episódio trágico em 1972, quando um comando palestino fez reféns na delegação israelense, e acabou executando 11 pessoas. Por mais que não tenha inimigos declarados, o Brasil sabe que os Jogos vão atrair cidadãos de países que são alvo do terrorismo, como os Estados Unidos, a França, Israel ou a Rússia.
No dia 16 de novembro, três dias depois dos atentados de Paris, o jihadista francês Maxime Hauchard, membro influente do Estado Islâmico na Síria, chegou a postar no Twitter uma ameaça explícita: “Brasil, você é o nosso próximo alvo”.
Centro antiterrorista
Para minar possíveis ataques, as autoridades brasileiras vão repetir o esquema que funcionou com êxito durante a Copa do Mundo, ao reativar os Centros Integrados de Comando e Controle de Brasília e Rio de Janeiro, que coordenam a ação das diferentes forças de polícia e dos serviços de inteligência.
Esses centros enviarão homens a qualquer sinal suspeito, e estarão em relação permanente com as quatro zonas de competição: Barra da Tijuca, Maracanã, Deodoro e Copacabana.
O esquema foi reforçado em janeiro de 2015, depois do ataque contra o semanal Charlie Hebdo, em Paris. “Decidimos criar um Centro Integrado antiterrorista”, ressalta Andrei Rodrigues.
A partir do mês de julho, um mês antes do mega-evento, membros de serviços inteligência de vários países vão compartilhar informações sensíveis com seus colegas brasileiros, explicou o secretário.
“Todos os países do mundo querem evitar qualquer problemas. Podemos pensar que haverá uma forte cooperação, e que rivalidades nacionais serão colocadas de lado”, comenta Boniface.
O Brasil é membro do sistema API-PNR, que controla os deslocamentos aéreos. Desta forma, a Polícia Federal tem a informação em tempo real de todos os passageiros que embarcam rumo ao país.
Lobo solitário
A cooperação internacional já está acontecendo. Cerca de cem policiais brasileiros viajaram para fora para aprender os procedimentos de segurança da Volta da França, maior corrida de ciclismo do mundo, das maratonas de Bostom e Berlim, e da Assembleia geral da ONU.
Unidades de elite recebem regularmente treinamentos de colegas estrangeiros para intervir em casos de tomadas de reféns.
“Nesse contexto, o risco de um ataque múltiplo e coordenado, como nos últimos atentados de Paris, é considerado bastante baixo”, avalia uma fonte da diplomacia francesa. Esse tipo de operação requer muita preparação e uma base logística mais complicada de ser organizada do que na Europa, onde o EI recrutou cerca de 5.000 jihadista, e já estaria preparando novos ataques, segundo a Europol.
As autoridades brasileiras temem a ação de um “lobo solitário”, como ocorreu nos atentados da maratona de Boston, que deixou três mortos e 264 mortos no dia 15 de abril de 2013, e foram cometidos por dois irmãos de origem chechena.
A principal preocupação é que o país de dimensão continental tem 15.754 km de fronteiras terrestres, muito difíceis de serem controladas, facilitando a entrada de armas e drogas.
FONTE: AFP