Resultado de referendo deixa indefinido o futuro do leste da Ucrânia

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Em Krasnoarmiisk, no leste da Ucrânia, o último domingo começou com troca de tiros e enfrentamento entre militares ucraniano e grupos rebeldes pró-Rússia.

Não era um início promissor para o dia do referendo que, em teoria, definiria se a autoproclamada República Popular de Donetsk se tornaria independente. O governo em Kiev considera a votação ilegal e tentou impedir sua realização, enquanto os militantes pró-independência defendiam os centros de votação dos militares.

No entanto, fora alguns incidentes isolados, o dia acabou sendo em grande parte pacífico, com a independência sendo aprovada por quase 90% dos eleitores, segundo os rebeldes, das regiões de Donetsk e Lugansk, atualmente controladas por separatistas.

As reações internacionais novamente se dividiram em lados radicalmente opostos, entre a Rússia e países do Ocidente – assim como ocorrera na península da Crimeia, que foi anexada pela Federação Russa em março.

A Rússia disse respeitar o resultado e considerou o referendo uma “implementação prática” da vontade do povo no leste da Ucrânia, enquanto líderes ocidentais taxaram a votação como ilegal e denunciaram irregularidades.

‘Surpreendentemente fácil’

“Foi surpreendentemente fácil fazer a contagem de votos: poucos votaram contra ou nulo, o que permitiu fazer isso muito rápido”, disse o chefe da comissão eleitoral de grupos pró-Rússia, Roman Lianguin. Lianguin assegurou que, em Donetsk, onde vivem 3,1 milhões de pessoas de acordo com o último censo, a participação chegou a 75% e foi ainda maior, de 81%, na região vizinha de Lugansk, que faz fronteira com a Rússia.

“Superou as nossas expectativas. Estamos muito felizes”, disse Lianguin. “Exigimos o direito da autodeterminação e o conseguiremos.”

Mesmo diante destas declarações, muitos questionamentos ainda rondam a votação, que foi descrita em jornais ao redor do mundo como “caótica”. Na cidade de Mariupol, os rebeldes disseram que havia oito centros de votação para atender meio milhão de pessoas. Por isso as enormes filas de espera para participar do referendo.

Foi comum que não houvesse cabines de votação nem listas atualizadas dos eleitores. Para votar, bastava mostrar qualquer documento de identificação. Não era checado se a pessoa já havia votado. A BBC filmou uma mulher votando duas vezes.

Autoridades em Kiev e no Ocidente argumentam que o referendo não contou com observadores externos, viola leis internacionais por não ter seguido parâmetros legais e não teve apoio amplo da população local.

‘Passo rumo ao abismo’

Alexandr Turchinov

O presidente interino, Alexandr Turchinov, disse que referendo é ‘passo rumo a abismo’

O presidente interino da Ucrânia, Alexandr Turchinov, admitiu que muitos eleitores do lesta apoiaram os rebeldes, mas advertiu que o referendo é um “passo rumo ao abismo” e voltou a afirmar que a consulta não terá efeito jurídico nem afetará a integridade territorial ucraniana.

A operação “antiterrorismo” vem ganhando força no leste da Ucrânia, numa tentativa de Kiev de voltar a impor sua soberania sobre a região, e o referendo não impedirá o governo de continuar a agir. Mas a votação dará força para os rebeldes, diz a correspondente Sarah Rainsford, da BBC. Os grupos pró-Rússia já falam em formar um governo paralelo, com sua própria estrutura militar, o que pode aprofundar a divisão nacional da Ucrânia.

Em meio a temores de que a Ucrânia ruma para uma guerra civil, os Estados Unidos e a União Europeia condenaram a consulta popular. Na visão das autoridades ocidentais e ucranianas, a lei internacional foi violada pelo referendo, que não tem bases legais nem teve a presença de observadores estrangeiros.

A desconfiança quanto à validade do resultado foi alimentada no Ocidente por uma pesquisa do instituto americano Pew Center, a qual sugere que até 70% dos habitantes do leste da Ucrânia querem permanecer como parte do país.

O secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia, Andrei Parubi, disse que a Rússia não deve reconhecer o referendo nem usá-lo como “desculpa” para anexar a região, como ocorreu com a Crimeia.

Se isso ocorrer, será considerado um ato de agressão, alertou Parubi. A Rússia não dá sinais de que pretenda anexar esta parte do país. Mas Moscou enxerga na votação mais uma arma para questionar a autoridade do governo ucraniano às vésperas da eleição presidencial que ocorrerá em 25 de maio.

Já a Ucrânia se disse em tese favorável à realização de um referendo nacional a respeito da descentralização, simultaneamente com as eleições presidenciais de 25 de maio. Só que o Parlamento ucraniano rejeitou um projeto de lei sobre o referendo.

FONTE: BBC Brasil

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