Por Santiago Mayor
Embora a informação tenha sido apresentada pelo governo argentino à vários meios de comunicação como um desenvolvimento com fins pacíficos, muitos analistas pensam diferente.
Em particular, há dois projetos: um na província de Tierra del Fuego, no extremo sul da Argentina e outro na “tríplice fronteira” entre Paraguai e Brasil.
“As desculpas permitiram Washington implantar mais de cem bases militares na América Latina, que se estende da Guatemala e do Caribe, até a Patagônia, sempre de forma altruísta,” disse o jornalista Walter Goobar. Ele explicou que entre os argumentos em destaque, a suposta “ajuda humanitária, apoiar no caso de desastres, a luta contra o tráfico de drogas ou apoiar o desenvolvimento e pesquisa científica”.
Elsa Bruzzone, especialista em geopolítica, estratégia e defesa nacional e membro do Centro para a Democracia Militantes Argentina (CEMIDA), segue a mesma direção. “Estas bases secretas sempre são instaladas em áreas onde os recursos naturais são altamente estratégicos: água, terra fértil para a produção de alimentos, minerais, hidrocarbonetos da biodiversidade,” ela disse.
“O que eles querem é fechar o ciclo em todos os recursos naturais que temos em nossa América”, acrescentou o especialista para explicar o porque das bases militares” escondidas ou não, instaladas na América Central e no Caribe, juntas com aquelas que estão na Colômbia, Peru, Chile, Paraguai, perto da base militar da NATO nas Malvinas, fechando o cerco em todos os nossos recursos naturais e reafirmar sua presença na Antártida”.
Deve notar-se que, além do Canal do Panamá, há apenas um passo entre o Oceano Atlântico e o Pacífico, que é chamado Estreito de Magalhães, localizado precisamente na Terra do Fogo. Ele também é o mais próximo ao continente Antártico, que é ainda disputado hoje.
Recursos e domínio estratégico do Atlântico Sul
Não se esqueça que “A Antártica é a maior reserva de água doce congelada do mundo. Precisamente nesse setor é onde nós discutimos soberania com a Argentina, Chile e Grã-Bretanha”, disse Bruzzone. Ao mesmo tempo, ele disse que na Península Antártica estão “os maiores depósitos de hidrocarbonetos na região e há minerais altamente estratégicos que são essenciais para a indústria militar e aeroespacial.”
Além disso, a base que deseja instalar na fronteira entre Paraguai, Argentina e Brasil visa, segundo esses analistas, um objetivo muito claro. Ali se encontra parte do Aqüífero Guarani”, a maior fonte de água doce subterrânea do mundo, com um total de 1.200.000 km²”, explicou Goobar.
O jornalista analisou que “não é um projeto geopolítico e estratégico de Washington” na instalação dessas bases. O seu objetivo “é recuperar e aumentar a presença militar na América do Sul.”
Em relação à Tríplice Fronteira, o sociólogo Atilio Boron observou que “os Estados Unidos tem um grande interesse para assegurar uma presença decisiva na região, onde existem as maiores reservas de lítio sobre o planeta. A área do norte da Argentina e sul da Bolívia é como a Arábia Saudita do século XXI”.
Ele também disse que “o petróleo irá desaparecer e a humanidade vai seguir seu curso. Mas sem água, não existirá a espécie humana. E aqui está quase metade da água doce do planeta Terra.” O analista destacou que as estimativas “variam de 42% a 45%, dependendo de aquíferos subterrâneos medidos.
Pedido de uma explicação ao governo argentino
Daniel Di Stafano, deputado nacional para a província de Misiones, apresentou um projeto de resolução para que o governo de Mauricio Macri apresente ao congresso detalhes sobre a instalação de duas bases militares.
Segundo o legislador, a intenção é saber “as verdadeiras intenções e as garantias bilaterais acordados entre os dois países em matéria de conservação do meio ambiente, a segurança nacional na região e os objetivos da cooperação.”
A província argentina de Misiones está localizada na Tríplice Fronteira. Nesse sentido Di Stafano disse: “Os missionários querem saber em que condições serão realizadas a instalação de uma base militar em nosso território. Além disso, estamos preocupados com a perda da soberania sobre nossos recursos naturais”.
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN
FONTE: RT