KIEV — O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, prometeu mais poder às regiões do Leste do país em visita a Donetsk nesta sexta-feira, numa tentativa de acalmar separatistas pró-Rússia que ocuparam a sede do governo regional, desafiando as autoridades de Kiev. Enquanto os manifestantes não cedem à pressão do governo pela desocupação dos edifícios públicos, o chanceler russo, Sergei Lavrov, pediu ao secretário de Estado americano, John Kerry, que use a influência de Washington para tentar convencer a Ucrânia de não usar a força contra os ativistas. Os EUA, por sua vez, ampliaram as sanções aos separatistas da Crimeia.
Sete líderes separatistas e uma companhia de gás da Crimeia, a Chernomorneftegaz, são os novos alvos da terceira rodada de sanções dos EUA após a anexação da península pela Rússia.
— A Crimeia é um território ocupado. Continuaremos impondo custos àqueles que violem a integridade do território e a soberanis da Ucrânia — disse o subsecretário do Tesouro americano, David Cohen.
A medida foi anunciada pelo Departamento do Tesouro horas depois de uma conversa entre Kerry e Lavrov. Na ligação, o chanceler russo defendeu o diálogo com “representantes das regiões para criar condições que permitam uma reforma constitucional”, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Tentativa de acalmar manifestantes
A viagem de Arseniy Yatsenyuk vem em meio à crescente tensão entre Moscou e o Ocidente, diante do impasse do fornecimento de gás russo à Ucrânia e à Europa. Numa mudança de discurso, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que cumprirá todos contratos de gás com a União Europeia (UE), apesar de não poder garantir o trânsito pelo território ucraniano, o que depende de Kiev, segundo ele.
— Garantimos o respeito à totalidade de nossas obrigações com os consumidores europeus. Nós não somos o problema. O problema é a garantia do trânsito via Ucrânia — declarou Putin, citado pelas agências de notícias, durante uma reunião do Conselho de Segurança russo.
Mais cedo, a UE pediu que os fornecedores de energia, em particular a Rússia, respeitem seus contratos e considerou que é do interesse de todos que não se use a energia como uma arma política. O comissário europeu para Energia, Guenther Oettinger, disse que trabalha em um plano para ajudar Kiev a pagar parte de suas contas com a Rússia, afirmando que não há “razão para entrar em pânico”.
— Estamos em contato próximo com a Ucrânia e sua companhia de gás para garantir que a Ucrânia continue capaz de pagar e não aumente ainda mais as suas dívidas com a Gazprom — afirmou o comissário, acrescentando que iria se reunir com os ministros de Energia e Relações Exteriores da Ucrânia na segunda-feira. — Estou preparando uma solução que seja parte do pacote de ajuda que o FMI, a União Europeia e o Banco Mundial estão oferecendo à Ucrânia e a partir do qual o pagamento das contas em aberto será possível.
Na véspera, Putin advertiu em uma carta aos líderes de 18 países europeus que a Rússia cortaria o fornecimento de gás natural para a Ucrânia caso Kiev não pagasse suas contas, e afirmou que isso poderia levar a uma redução do fornecimento subsequente para a Europa.
Oettinger aconselhou que a ameaça não seja tomada ao pé da letra, dizendo que a Rússia quer entregar o gás e precisa de seus rendimentos.
— Parte das contas é justificada. Outra parte é injustificada. Vamos reunir um pacote nas próximas semanas para que o pagamento das contas em aberto que são justas seja possível, mas não de acordo com a contabilidade do senhor Putin, e sim pelo que é contratualmente correto — disse.
Premier diz que não vai revogar lei de língua russa
Em reunião com políticos e empresários da região industrial do Leste, onde a influência russa é mais forte, o premier ucraniano prometeu garantir mais poder às regiões, segurança e progresso econômico. Yatsenyuk assegurou ainda que seu governo não vai revogar a lei de 2012 que permitiu a existência de duas línguas cooficiais — russo e ucraniano — onde uma minoria supere 10% da população.
Na quinta-feira, o presidente interino Olexandre Turchinov prometeu anistiar os ativistas se depuserem as armas e liberarem os prédios administrativos. Um dia antes, o governo ucraniano havia dado um ultimato de 48 horas para a desocupação, ameaçando usar a força contra os manifestantes.
FONTE: O Globo