Por Matt Spetalnick e Nathan Layne
WASHINGTON (Reuters) – O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, expressou “profundo pesar” pelo papel de seu país na Segunda Guerra Mundial nesta quarta-feira, mas ao mesmo tempo exaltou o papel crescente de Tóquio para a segurança global diante do poder crescente da China na Ásia.
Aproveitando o destaque dado a seu discurso histórico no Congresso dos Estados Unidos, Abe insistiu que o Japão não deve desviar os olhos do sofrimento causado aos povos asiáticos pelo comportamento japonês nos tempos da guerra, mas não chegou a fazer um pedido de desculpas, preferindo se ater a declarações de seus antecessores.
Como os comentários de Abe sobre o histórico de guerra do Japão não devem satisfazer aqueles que exigiam que ele fosse mais longe, o premiê conservador decidiu se concentrar mais no futuro da aliança militar entre sua nação e os EUA e pressionar os legisladores céticos para que apoiem a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), um acordo de livre comércio com países do Pacífico longamente adiado.
Mas o líder adotou um tom diferente de comentários anteriores ao falar de sua visita ao memorial da Segunda Guerra Mundial, em Washington, nesta quarta-feira, dizendo: “Com profundo pesar em meu coração, estive ali durante algum tempo orando silenciosamente”.
“Agora erguemos bem alto um novo estandarte que é uma contribuição pró-ativa à paz baseado no princípio da cooperação internacional”, disse Abe um dia depois de ele e o presidente dos EUA, Barack Obama, cimentarem novas diretrizes para o apoio militar japonês às forças norte-americanas para além de suas águas. Ele propôs mudanças na Constituição pacifista pós-guerra do Japão para tornar isso possível.
Bem acolhido pelos congressistas, um reflexo da posição de Tóquio como principal aliado asiático dos EUA, Abe, primeiro premiê japonês a se dirigir a uma sessão conjunta do Congresso dos EUA, usou seu discurso para enviar uma mensagem severa à China, que está envolvida em disputas marítimas com o Japão e vizinhos asiáticos.
Referindo-se ao “estado das águas asiáticas”, Abe pediu respeito aos princípios da negociação pacífica, dizendo que os países não devem “usar a força ou a coerção para impor suas queixas”.
A fala de Abe diante da legislatura foi um momento de grande simbolismo da reconciliação dos dois ex-inimigos da Segunda Guerra Mundial e atualmente fortes aliados.
Abe fez seu discurso no local onde o presidente Franklin Roosevelt pediu uma declaração de guerra contra o Japão imperial na esteira do bombardeio a Pearl Harbor, no Havaí, em 1941.
Abe terá um desafio imenso para convencer os parlamentares a adotarem o TPP, um acordo bilateral essencial para um pacto mais amplo com 12 nações que envolveria um terço do comércio mundial.
Obama torce para que a visita de Abe o ajude a criar ímpeto em sua agenda comercial, o que incluiria uma legislação que lhe conceda autoridade para agilizar todo e qualquer acordo com parceiros do Pacífico no Congresso.
Na mudança mais dramática na política de segurança desde o soerguimento militar japonês do pós-guerra, em julho passado o gabinete de Abe adotou uma resolução reinterpretando a constituição para permitir que as forças armadas do Japão forneçam auxílio militar aos EUA e outros países amigos sob ataque.
(Reportagem adicional de David Brunnstrom)