Por Vivian Oswald
Para especialista em terror da King’s College, existe, a curto prazo, um grande risco de uma guerra sectária entre sunitas e xiitas no Iraque
A ascensão do grupo foi ignorada?
Não acho que tenham sido ignorados, mas certamente foram subestimados. Ninguém antecipou que teriam tanto espaço tão rápido. Sabia-se sobre eles e falava-se neles. Mas não é fácil ver o que poderia ter sido feito. Uma das razões foi o fato de o governo iraquiano ter sido tão sectário.
Mas eles podem ser reconhecidos como um Estado?
Ninguém está disposto a reconhecê-los, nenhum país estaria pronto para isso. Mas algo precisa ser feito. Os EUA e os outros países do Ocidente não querem mais se envolver no Iraque. Esse foi um dos pontos do Obama.
O governo do Iraque tem como conter o grupo?
Ataques aéreos não vão destruir o Isis agora. É preciso enviar tropas. Nem o Iraque, nem o Ocidente estão preparados para fazê-lo. Há um impasse. Quanto mais tempo permanecerem onde estão, mais poderão recrutar e mais reconhecimento terão como governo.
Qual seria a solução?
Quando assumem o poder, estes grupos se tornam bastante impopulares. Eles já anunciaram que vão banir o cigarro, o que, num país onde todos fumam, faz toda diferença. Também não sei como será durante a Copa. Não concordam que as pessoas assistam ao futebol, ouçam música. As pessoas ficarão fartas disso, como aconteceu em 2007 e 2008.
Mas essa reação não virá a curto prazo?
A verdade é que, por mais terrível que possa parecer, as pessoas estão felizes agora porque acham que estão melhores. Mas logo vão perceber que a situação é outra. Outra potencial fraqueza do Isis é que eles sempre tiveram muitos estrangeiros no grupo. Quase um terço dos insurgentes não é do Iraque nem da Síria. É algo que as pessoas não gostam.
E o que acontece agora?
Existem chances de que os EUA interfiram. O Irã está preocupado e já avisou que, se o Iraque não tiver o apoio do Ocidente, poderá apoiá-lo. Talvez neste momento o Ocidente se sinta compelido a agir primeiro. A situação como um todo é uma grande confusão. Neste exato momento existe um grande risco de uma guerra sectária, que pode ser bem pior do que vimos dez anos atrás. Sempre fui contra, mas acho que, agora, a partição do Iraque pode ser uma ideia.
Como o senhor avalia a situação?
Este provavelmente é o momento mais perigoso vivido pelo Oriente Médio desde a invasão do Iraque em 2003, já que pode causar um conflito em toda a região. Todos na vizinhança estão preocupados e podem sofrer impactos. As consequências são imprevisíveis. Todas as fronteiras estão em questão.
Até onde o Isis pode crescer mais?
Falaram que estão prontos para tomar Bagdá, mas estão inebriados com o próprio sucesso, o que é perigoso porque estão se superestimando. Eles não têm condições de tomar a capital, que é enorme e com 70% de xiitas.
FONTE: O GLOBO